1.28.2009

Nº 1710 - Quinta-Feira 29 de Janeiro de 2009

Pela primeira vez desde 2003

Número de turistas diminuiu em Dezembro

No último mês de 2008, entraram em Macau pouco mais de 2,5 milhões de turistas, menos 2,7 por cento do que o registado em Dezembro de 2007, naquela que é a primeira queda no número de visitantes desde Junho de 2003.
Para este facto, de acordo com os dados divulgados esta semana pela DSEC, em muito contribuiu a redução de 3,9 por cento do número de turistas oriundos da China Continental. Dos cerca de 1,4 milhões de pessoas do Continente que viajaram até Macau, perto de meio milhar fê-lo individualmente, reflectindo uma queda acentuada de 30,4 por cento em comparação com idêntico mês de 2007.
Por outro lado, igualmente face a Dezembro de 2007, as fronteiras do território registaram um aumento no número de visitantes chegados de Hong Kong e de outros destinos do sudeste asiático. Segundo a DESC, metade dos turistas que chegam à RAEM opta por viajar em excursão.
Em termos gerais, no ano que agora terminou, Macau ultrapassou a barreira dos 30 milhões de visitantes. Quando comparadas com 2007, as contas finais de 2008 mostram que o número de turistas cresceu 11,8 por cento.
Tal como já tinha sido avançado pela Direcção dos Serviços de Turismo, e apesar da queda ocorrida no último mês do ano, o balanço de 2008 mostra que o número de turistas do oriundos do Continente registou um crescimento de 17,7 por cento, face a 2007.
Grande parte dos turistas, cerca de 18,8 milhões, entra em Macau pelas fronteiras terrestres - Portas do Cerco e Flor de Lótus - ao passo que 9,7 milhões de visitantes chegam à RAEM por via marítima. Números que correspondem, respectivamente, a aumentos de 13,7 e 11,1 por cento, quando comparados com os dados de 2007. Por sua vez, o Aeroporto Internacional de Macau registou a entrada de 1,7 milhões de turistas, mais 13, 5 do que em 2007..

Renovação na continuidade

Neto Valente candidato à direcção da Associação dos Advogados

O advogado Jorge Neto Valente é candidato a mais um mandato na presidência da direcção da Associação dos Advogados de Macau, onde pretende tornar “sistemáticas” acções de reciclagem dos causídicos locais.
Em declarações à agência Lusa, Neto Valente explicou que as mudanças da actual direcção a que se candidata a novo mandato “são as que são impostas pela legislação”, pelo que alguns membros do Conselho Superior de Advocacia já não integram a lista por estarem impedidos de cumprir um terceiro mandato consecutivo.
Por outro lado, continuou Neto Valente, a nova direcção - candidata única aos órgãos sociais que serão eleitos a 13 de Fevereiro - introduziu “mais expressão” aos colegas de língua materna chinesa “porque agora há muitos mais”.
Com uma linha de continuidade na agenda de trabalhos, Neto Valente explica que irá continuar a trabalhar para “corresponder aos anseios da classe e da sociedade” em que os advogados estão inseridos e servem.
Por outro lado, a formação profissional dos novos e dos mais antigos advogados continua também na agenda com os mais novos a receber formação durante o estágio e, os mais velhos, a serem agora o alvo de acções de reciclagem “sistemáticas” por parte da associação.
Na direcção da associação, apenas um nome muda em virtude da morte do causídico Jorge Osório que é substituído por Leong Weng Pun, que transita da mesa da Assembleia-Geral.
Philip Xavier, Zelina Rodrigues e Kong Sut Mui são candaditos à mesa da Assembleia-Geral e Jorge Neto Valente, Paulino Comandante, Álvaro Rodrigues, Fong Kin Fao, Hugo Ribeiro Couto, Oriana Inácio Pun e Leong Weng Pun candidatos à direcção.
A actual direcção é candidata ao biénio 2009/2010.
Jorge Neto Valente já exerceu o cargo de presidente da Associação dos Advogados de Macau durante 11 anos - entre 1996 e 1999 e entre 2002 e 2008.

Accionista quer ser indemnizado devido à desvalorização da empresa

Responsáveis da Sands acusados de gestão danosa

Um grupo de advogados norte-americanos interpôs uma acção em tribunal por gestão danosa, contra Sheldon Adelson e outros directores da Las Vegas Sands (LVS), em consequência da acentuada desvalorização das acções da empresa.
A notícia, avançada ontem pela edição online do Las Vegas Sun, dá conta que o grupo de advogados, liderado por Marc Henzel, um conhecido perito em fraudes relacionadas com acções, entregou, no passado dia 16 de Janeiro, no Tribunal Distrital da cidade de Clark, no Estado do Nevada, uma acção em nome do accionista Caleb Hartmann, que quer responsabilizar o Conselho de Administração pelos maus resultados apresentados pela operadora nos últimos meses.
Além de Sheldon Adelson, fundador da LVS, a acção, que ainda não mereceu qualquer reacção oficial por parte da empresa, visa também nomes de peso, como Irwin Chafetz, Charles Formanm, George Koo e, entre outros, William Weidner que esteve recentemente em Macau, onde garantiu que a LVS não desviou dinheiro dos casinos do território para investir em Singapura.
Recorrendo a recortes de jornais e relatórios da empresa desde Novembro, segundo a publicação de Las Vegas, os advogados apontam um conjunto de situações que, no seu entender, foram responsáveis pela abrupta queda das acções da empresa. Recorde-se que, de Novembro de 2007 a Novembro de 2008, as acções da Sands passaram de uma cotação de 125 dólares para 7 dólares por acção.
Na sua argumentação, refere o Las Vegas Sun, os causídicos acusam o Conselho de Administração da LVS de uma série ilegalidades, incluindo abuso de poder, falhas grosseiras de julgamento e ainda desperdício de recursos da empresa.
"Esta acção destina-se a recuperar para a companhia, as suas potenciais perdas provocadas pela a exposição a imprudentes investimentos de alto risco, como a construção simultânea de vários projectos em Macau, Singapura, Pensilvânia, uma exposição a que os membros do Conselho de Administração, em especial Sheldon Adelson, indevidamente sujeitaram a empresa", destaca a nota justificativa da acção, transcrita pelo Las Vegas Sun.
A acção defende ainda que o Conselho de Administração falhou na sua missão de evitar que a LVS se confrontasse com problemas de falta de liquidez, o que resultou na necessidade em suspender alguns projectos que a empresa tinha em andamento.
Recorde-se que Macau foi directamente afectado pela falta de capital da LVS, que em Novembro anunciou a suspensão imediata das obras de construção dos empreendimentos previstos para os lotes 5 e 6 do COTAI, medida que implicou o despedimento de cerca de 11 mil trabalhadores, e que seria seguida de cortes salariais a largas centenas de funcionários.
A acção visa sobretudo o fundador e accionista maioritário da companhia, Sheldon Adelson, que, sozinho, detém mais de 50 por cento das acções da LVS. Os advogados sublinham que o facto de Adelson ter poder para escolher todos os membros do Conselho de Administração, torna a LVS numa "companhia controlada", referindo que "as suas relações, profissionais e pessoais, de longos anos, com vários directores, impediram que estes cumprissem independentemente os seus deveres de lealdade para com os accionistas e a própria companhia".

As celebrações do Ano Novo Lunar em Macau

Dar as boas-vindas ao ano de 4707

Pelas ruas de Macau, assiste-se à dança do dragão e do leão. Começou, assim, o novo ano lunar, regido pelo búfalo. Ao som dos panchões, os residentes da RAEM comemoram a sua chegada.

Luciana Leitão

“Macau é dos poucos sítios onde ainda se pode assistir às comemorações tradicionais de ano novo. Em Taiwan, já não há nada disto”, diz um cidadão chinês, que reside em Taipé. J. encontra-se entre as centenas de pessoas que se deslocaram ao Largo do Senado, para assistir à dança do dragão, no segundo dia de 4707. O entusiasmo é grande entre os populares – muitos acotovelam-se para tirar uma fotografia com as personagens mascaradas de signos do zodíaco chinês ou com as divindades da felicidade, prosperidade e longevidade, enquanto se formam filas para receber os “lai-si” distribuídos pelas autoridades municipais do turismo. Mas a verdadeira festa, essa, fez-se em casa. Foi o segundo dia do ano que começou assim que caiu a primeira noite de lua nova depois do solstício de inverno e dos banquetes familiares.
Na terça-feira, às 10h40, são dezenas de pessoas que estão reunidas junto às Ruínas de São Paulo. Nem o frio as desmotiva. De repente, ouve-se o som dos tambores. Vários indivíduos, erguendo um traje amarelo, agarram o dragão e começam a dançar, saudando os populares e desejando feliz ano novo. Entre locais, chineses oriundos do Continente, Taiwan e Hong Kong, além de alguns ocidentais, vêem-se fartos sorrisos. E o flash das máquinas teima em disparar.
Pouco depois, começam a circular, entre os populares, as divindades da felicidade, prosperidade e longevidade, ao mesmo tempo em que os 12 signos do zodíaco chinês desfilam, animando crianças e adultos. No fim do espectáculo, forma-se uma fila de pessoas, ansiosas por receber um “lai-si”, contendo votos de prosperidade e riqueza.

Um percurso que se repete

Depois das Ruínas, segue-se o Largo do Senado. Regista-se o mesmo espectáculo com movimentos idênticos. “Sabe o que isto quer dizer?”, pergunta J., um cidadão taiwanês. “É a dança do dragão-fêmea. Visa desejar boa sorte no arranque do ano do búfalo. Ontem foi a vez do dragão-macho sair à rua. Os festejos começam sempre com o macho, porque é estável e forte. Só depois, surge a fêmea”, esclarece. Entusiasmado, diz: “Em Taiwan, já não se vê nada disto. Só em Macau e Hong Kong é que se mantêm as tradições chinesas de celebração do ano novo.”
Depois do Senado, a trupe dirige-se para a Barra, onde repete o mesmo espectáculo. Desta vez, porém, a atenção recai no interior do Templo de A-Má, onde se vêem dezenas de pessoas. A maioria saúda os deuses e reitera os seus votos de prosperidade e felicidade queimando paus de incenso. De repente, ouve-se o som dos panchões. Quase ensurdecedor. São lançados por parte dos visitantes, que querem começar o Ano Novo, expulsando os maus espíritos das suas vidas.

Uma festa de família

Apesar de haver festejos na rua, as celebrações do ano novo chinês realizam-se, essencialmente, em casa, junto da família. Segundo a filósofa, doutorada em Cultura Chinesa, Ana Cristina Alves, assim que chega esta altura, “os emigrantes percorrem, às vezes, milhares de quilómetros para se juntarem às famílias. Os que trabalham em províncias distantes envidam todos os meios para regressar às suas terras. É decretado um longo feriado, com um mínimo de três dias, mas pode estender-se, dependendo do acordo entre as entidades empregadoras e os empregados”. Assinalando o início de uma nova estação do ano, estas comemorações são, normalmente, também designadas por festa da primavera.
O ano que começa corresponde “a um período dominado por um animal zodiacal com características muito específicas, que impõem um novo ritmo”. Neste caso, será o búfalo, “muito pacífico e trabalhador”, bastante “apreciado” pelos chineses. É por isso que quando é este signo a ditar os destinos na China, normalmente, “nascem muitas crianças”.
Sendo uma ocasião em que há vários rituais, os chineses esforçam-se por cumpri-los. “Deslocam-se aos templos e rezam pelos antepassados, limpam a fundo às casas, deitam fora todas as coisas velhas ou estragadas e compram roupa nova”, exemplifica Ana Cristina Alves.
Tratando-se de uma época de renovação, que se quer cheia de sorte e fortuna, alguns dos mais importantes ritos passam ainda por “pagar todas as dívidas – se possível -, enfeitar as casas com ditos auspiciosos e plantas próprias da época, como a tangerineira, a flor da ameixoeira e do pessegueiro – que significa longevidade -, cortar o cabelo, além de se realizarem reuniões de família. Por último, esta é a época de lançamento de panchões e foguetes, com vista a afugentar os maus espíritos.

O início

A origem histórica destes festejos perde-se no tempo. “Por um lado, está ligada a ritos naturalistas, que têm a ver com os ciclos agrícolas: é o início da Primavera celebrado em todas as culturas, de forma diferente, e não apenas na chinesa”, diz. Porém, do ponto de vista religioso e simbólico, a explicação é outra. “Trata-se de uma festividade relacionada com o aniversário do Buda. Este terá escolhido os doze animais mais rápidos que acorreram ao convite para a festa de aniversário, recompensando-os com o governo de o período de um ano, a repetir em cada doze, num ciclo de sessenta anos”, esclarece.
O banquete que assinala a entrada no novo ano é também ele um componente importante destes festejos, sendo que os alimentos que constam da mesa de jantar têm uma simbologia própria. “O bolo de ano novo, tal como o nosso bolo-rei, nunca pode faltar para assinalar o início do novo tempo. O arroz e a massa também estão sempre presentes. O arroz, numa cultura predominantemente agrícola, é o símbolo de fartura e a massa de longevidade. Não devem faltar as frutas, sobretudo, as tangerinas que, por homofonia, simbolizam a riqueza, bem como o peixe, que representa a abundância”, declara.
Observando-se rituais específicos que variam de região para a região, há que salientar que “a expressão da religiosidade é mais forte no sul e, como tal, em Macau”, bem como “as frases e ditos auspiciosos ligados à riqueza”. Assim, para assinalar a entrada no novo ano, os cidadãos do território cumprimentam-se através da expressão “kung hei fat choi”, aludindo à riqueza material.
Ao invés, no resto da China, a expressão mais recorrente refere-se à felicidade. “À semelhança do que sucede no Ocidente, deseja-se um feliz ano novo - ou xinnian kuaile”, explica a académica. O que, alerta, não significa que a “dimensão material não esteja presente no pensamento de todos os chineses - está e é forte, porque são um povo essencialmente prático e telúrico”.

Queixas contra a venda de "mini-bonds" da Lehman Brothers

Uma centena de casos resolvidos

O presidente da Autoridade Monetária de Macau disse que já foram resolvidos 95 casos de um total das 386 queixas apresentadas contra as instituições que venderam produtos financeiros do falido Lehman Brothers.
Em resposta a uma interpelação escrita, apresentada pelo deputado à Assembleia Legislativa Ng Kuok Cheong, o presidente da Autoridade Monetária, Anselmo Teng, disse que a Autoridade Monetária “tem acompanhado de perto o assunto e desenvolvido a uma série de trabalhos”.
O mesmo responsável explica na carta que, em primeiro lugar, a Autoridade quer apurar se os “distribuidores respeitaram a legislação vigente sobre a criação e execução de alguns elementos de controlo interno e de gestão de risco” e exigiu “relatórios de auditoria interna, que estão a ser analisados”.
A resposta de Anselmo Teng foi divulgada no mesmo dia em que a imprensa de Hong Kong noticia que 300 investidores da antiga colónia britânica vão receber a totalidade dos seus investimentos, num valor global de 8,55 milhões de euros (85 milhões de dólares de Hong Kong).
Este grupo adquiriu os produtos financeiros à empresa Sun Hung Kai Investment Services, que apresentou a proposta de recompra na noite de quinta-feira, depois de receber uma carta dos supervisores da cidade em que colocam dúvidas sobre a forma adoptada para a venda dos referidos produtos.
Cerca de 21 bancos e três empresas financeiras venderam produtos do Lehman Brothers em Hong Kong, onde cerca de 43.700 pessoas adquiriram os denominados “minibonds” investindo 1.579 milhões de euros.
Para uma fonte associada ao caso dos produtos financeiros do Lehman Brothers, citada pelo South China Morning Post, a decisão da Sun Hung Kai Investment Services “vai exercer alguma pressão” sobre as outras instituições que estiveram envolvidas na venda dos produtos financeiros do banco falido.
Em Macau, as instituições financeiras que participaram na venda de activos do Lehman Brothers e de acordo com informações da própria Autoridade Monetária, irão seguir os mecanismos adoptados por Hong Kong.

OMS diz que não sinais de epidemia na China

Gripe das aves faz quinta vítima mortal

A Organização Mundial de Saúde (OMS) indicou que, apesar da quinta morte desde o início do ano, não existe qualquer prova de uma epidemia de gripe das aves na China.
No entanto, a OMS apelou à prudência por ocasião do Novo Ano Chinês, sinónimo de deslocações em massa.
A China anunciou segunda-feira a quinta morte devido ao ressurgimento da gripe das aves desde o início deste ano, já mais mortífero que 2008, que teve três mortes confirmadas.
Um jovem homem de 18 anos morreu segunda-feira após ter contraído o vírus do H5N1 na região de Guanxi, no sudoeste da China, anunciou o ministério da Saúde, citado pela agência Nova China.
“Não há qualquer prova de uma epidemia. Além disso, os casos registados são espaçados geograficamente e esporádicos, sem nenhum sinal de uma conexão entre eles”, indicou Peter Cordingley, porta-voz da OMS para a região do oeste Pacífico.
“O que vemos está actualmente conforme o que tínhamos previsto e mais ou menos semelhante ao que se passou nos anos precedentes”, acrescentou.
Desde o início deste ano, quatro outras mortes foram anunciadas na China, onde o vírus fez o seu reaparecimento após uma acalmia de cerca de um ano.
Com efeito, a China não registou qualquer morte por gripe das aves desde o fim de Fevereiro de 2008, os três casos mortais do ano passado registaram-se no início do ano.
As novas mortes deste ano foram registadas em diversas províncias ou regiões da China: Shandong (nordeste), Pequim, Xinjiang (noroeste), Guizhou (sudoeste) e Guanxi.
Esta nova morte eleva a 25 o número de casos mortais de gripe das aves na China desde 2003, segundo um cálculo da Organização mundial da saúde (OMS).

Organizações internacionais acusam governo chinês

Direitos Humanos continuam a ser violados

Apesar de o respeito aos Direitos Humanos na China "ter melhorado", A Amnistia Internacional (AI) e a Human Rights Watch (HRW) consideram que as liberdades fundamentais continuam a ser limitadas.
Aquelas organizações elogiaram os avanços realizados pela China após assinar, em 2004, a Declaração dos Direitos Humanos, mas assinalaram que o país "deveria ser mais aberto em determinados assuntos" e "confiar mais na sua população".
Embora as autoridades chinesas tenham legislado bastante sobre o tema nos últimos anos, "a tortura e o abuso continuam a ser endémicos no tratamento dos prisioneiros, e continuam a existir casos de prisões extrajudiciais e centros de detenção ilegais", afirmou a Amnistia Internacional.
Outro aspecto importante que precisa de mudar, na opinião desta organização, é o poder que o Partido Comunista Chinês -que governa o país há 60 anos - exerce sobre os advogados.
Segundo a AI, os advogados chineses "não podem oferecer uma defesa efectiva devido às restrições legais, nem ganhar causas que representem uma oportunidade para os cidadãos".
Além disso, a organização ressaltou que quando um advogado trabalha num caso politicamente sensível "perde a sua licença sistematicamente e pode até ser preso".
A Human Rights Watch afirmou também que o Governo Chinês proíbe a investigação de temas que considera de "segurança nacional".
"O Governo ameaçou prender quem passasse informações referentes a estes assuntos a familiares, amigos ou jornalistas estrangeiros, além de deter arbitrariamente pessoas que posteriormente libertou sob a condição de que não falassem sobre temas relacionados", acrescentou a Human Rights Watch.
Esta limitação da liberdade de expressão também se estende à Internet, um assunto no qual a Amnistia Internacional destacou que o Governo "deve trabalhar".
O discurso de posse do presidente americano Barack Obama, por exemplo, teve passagens censurados, especialmente quando se referiu ao facto de os EUA terem enfrentado o comunismo e aos governo que oprimem os dissidentes.

Líder norte-coreano "está de boa saúde"

Filho de Kin Jong Il em Macau

O líder da Coreia do Norte, Kim Jong Il, está de boa saúde, afirmou o filho mais velho do dirigente, entrevistado pela cadeia de televisão japonesa Fuji News. Os jornalistas japoneses entrevistaram Kim Jong Nam à chegada ao aeroporto de Macau, no passado dia 27 de Janeiro, num voo proveniente de Pequim. O filho do dirigente norte-coreano disse estar no território apenas em "viagem de férias" e rejeitou a ideia de se ter deslocado a Macau para jogar nos casinos locais.
Ainda em Pequim, Kim Jong Nam foi questionado por outra cadeia japonesa de televisão, a Ashai Television, sobre o paradeiro de um jovem nipónica, Megumi Yokota, raptada por agentes norte-coreanos em 1977. Kim Jong Nam disse não ter qualquer informação sobre o caso e, interrogado sobre a possibilidade de vir a suceder ao seu pai, na chefia dos destinos da Coreia do Norte, disse não estar interessado no assunto.
A saúde do líder norte-coreano tem sido alvo de especulações desde que, em Agosto do ano passado, esteve ausente da mais importante parada militar do país. Desde então, não foi mais visto em público, embora o governo de Pyongyang tenha distribuído várias fotografias onde Kim Jong Il é visto a visitar unidades militares e instalações industriais.
Fontes dos serviços secretos sul-coreanos, citadas pela Imprensa local, adiantaram que Kim Jong Il teria sofrido um acidente vascular-cerebral e estaria internado num hospital, em recuperação.

Editorial

Família

Há muito tempo que não se via uma animação tão grande, em Portugal. O caso Freeport, que já foi notícia, em tempos, voltou às primeiras páginas dos jornais, com um destaque ainda maior. Ao que parece, as autoridades inglesas andam na pista de quatro milhões de euros e querem saber onde eles terão ido parar. Mas o que se sabe, de concreto, é que saíram de Inglaterra, em direção a Portugal.
Pelo meio, há conversas do primeiro-ministro com o tio, mais um email do primo a pedir a devida recompensa por ter - alegadamente - ajudado a arranjar uma reunião com o então ministro do Ambiente. A juntar a esta confusão, a guerra política estalou, com Sócrates a atirar farpas ao Ministério Público, devido à coincidência de a investigação saltar cá para fora em ano de eleições.
É sempre um mau princípio, quando se ocupam cargos de responsabilidade, abordar assuntos relacionados com o exercício dessas funções em conversas com amigos ou familiares. O então ministro do Ambiente não deu a devida importância a esse detalhe e agora está a pagar por isso. Ainda por cima, parece que alguns dos seus familiares são mais ou menos como aqueles amigos que tornam a existência de inimigos desnecessária. E o azar é que a família, ao contrário dos amigos, não se pode escolher.
O risco de se entrar em campanha eleitoral com estas sombras a pairar será um teste complicado para a Justiça portuguesa. A tendência para acelerar uma investigação vai ser grande e, como acontece normalmente nestes casos, depressa e bem não há quem.
Mas como estamos habituados, em Portugal, que a culpa morra solteira e as responsabilidades raramente sejam apuradas, não virá daí grande mal ao mundo.

Paulo Reis



Nº 1709 - Sexta-Feira 23 de Janeiro de 2009

DSAT quer importar sistema coreano de controlo de tráfego

Sistema inteligente de comunicação chega aos autocarros

A DSAT quer dotar as paragens de autocarro com um sistema de comunicação que permite aos passageiros saber quanto tempo vão ter que esperar pelo transporte.

Rui Cid

É a resposta encontrada pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego para solucionar um dos problemas que mais queixas provoca por parte da população: a (pouca) frequência com que os autocarros passam em cada paragem. O sistema inteligente de comunicação, semelhante ao usado em vários países europeus e asiáticos e que permite que os passageiros nas paragens de autocarros saibam quanto tempo de espera têm ainda pela frente, irá, de acordo com o director da DSAT, possibilitar que as companhias tenham um maior controlo sobre a localização exacta dos veículos, podendo, dessa forma, maximizar a gestão da sua frota.
"Através do GPS e de ligação sem fios, consegue-se saber exactamente em que ponto da cidade estão os autocarros. É um sistema que poderá ajudar, inclusive, a resolver os problemas de trânsito da cidade", explicou o mesmo responsável.
Em conferência de imprensa, Wong Wan revelou que o sistema a adoptar na RAEM será muito semelhante ao usado em Seul, cidade onde esteve recentemente uma delegação da DSAT.
Questionado pelos jornalistas, o director explicou que a implementação deste sistema na RAEM está, segundo o director, dependente da realização de um estudo de viabilidade que será iniciado muito em breve. Contudo, Wong Wan adiantou ainda acreditar que até ao final do ano, o sistema possa ser uma realidade na RAEM.
Da capital da Coreia do Sul, a delegação da DSAT trouxe ainda outras duas sugestões para o futuro: Um sistema de tarifas conjuntas entre metro e autocarros e reservar vias exclusivamente para os transportes públicos. Esta ultima medida será, reconhece Wong Wan, muito difícil de aplicar em Macau devido às características da cidade.
"Não podemos comparar Seul com a RAEM. Aqui é raro termos estradas com duas vias para cada sentido. Lá eles têm 3 ou 4 vias para cada sentido, podendo, sem problemas, reservar uma delas para os transportes públicos. Mas acredito que nas zonas novas, como o COTAI, poderemos vir a implementar esta medida", afirmou.

Avaliação não satisfaz

A conferência de imprensa de ontem, serviu igualmente para a DSAT fazer um ponto da situação das actividades que tem vindo a realizar desde a sua criação, o ano passado. Baseando-se nos resultados de um inquérito recentemente realizado, Wong Wan admite que a situação do transportes públicos em Macau "não é satisfatória".
De acordo com o estudo, que abrangeu um universo de mais de 800 pessoas, a população de Macau dá nota negativa a vários aspectos relacionados com os serviços de autocarros, nomeadamente no que diz respeito à sua frequência e aos trajectos percorridos.
Outra das queixas levantadas pelos cidadãos prende-se com os serviços de táxi, com o responsável máximo da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego e Transportes a reconhecer que a DSAT tem recebido várias reclamações contra taxistas que, desde a actualização das tarifas, arredondam a seu favor o preço das corridas. Wong Wan garantiu estar atento, prometendo um reforço da fiscalização de modo a solucionar este problema.

Obras públicas vão criar nove mil postos de trabalho em Macau

Construir mais depressa para dar emprego

São 93 obras de dimensões várias que vão dar origem a quase nove mil postos de trabalho. Destinam-se prioritariamente a trabalhadores locais, garantem as autoridades governamentais. Com os trabalhos, espera-se permitir um maior dinamismo a um sector que está a sofrer com a crise.

Isabel Castro

O Governo de Macau vai gastar 5,1 mil milhões de patacas em obras de índole diversa no território. Algumas delas já foram lançadas a concurso, mal se começou a perceber que a crise económica mundial estava a ter repercussões negativas no sector da construção civil do território, e prevê-se que seja feito o mesmo com as restantes em breve.
O estado das obras públicas de Macau foi objecto de um balanço feito ontem pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) e pelo Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI). Na conferência de imprensa convocada para o efeito, Francisco Chau, coordenador-adjunto do GDI, especificou que “as grandes obras vão permitir criar 5530 postos de trabalho”, sendo que “as pequenas e médias empreitadas vão dar origem a 3740”.
Por seu turno, o subdirector substituto das Obras Públicas, Daniel Shin Chun Low, explicou que há regras específicas no sentido de ser contratada “prioritariamente” mão-de-obra local. “As empresas infractoras serão excluídas da lista de empreiteiros qualificados para a realização de obras públicas”, avisou.
Ao todo, tratam-se de 93 obras de dimensões diferentes. Ainda no primeiro semestre deste ano serão lançadas a concurso 64 empreitadas pequenas e médias. Neste grupo incluem-se trabalhos como o reordenamento dos passeios dos Novos Aterros do Porto Exterior e a renovação das fachadas de edifícios localizados na Almeida Ribeiro.
Quanto às grandes obras, o Governo pretende pôr em marcha durante o corrente ano 11 empreitadas: a construção do auto-silo e do jardim em frente aos Nova Taipa, o prolongamento e reforço da protecção do canal de navegação da Ponte da Amizade e a edificação do Centro de Socorro e Emergência dos Bombeiros do Cotai.
Dos planos da DSSOPT e do GDI fazem ainda o início da primeira fase do novo estabelecimento prisional de Coloane, a empreitada de concepção e construção das habitações no lote TN27, na Taipa, e a obra de ampliação das instalações do novo terminal marítimo de passageiros na ilha, bem como a construção do túnel subterrâneo na rotunda do Istmo.

Cidade em pantanas?

As autoridades governamentais garantem que todas estas construções não irão provocar grandes transtornos à população. E isto porque, segundo Daniel Shin Chun Low, “as obras foram distribuídas de forma a evitar que estejam todas acumuladas numa mesma zona”.
Para permitir que o maior número de empreiteiros locais participe neste grande projecto público de construção, o Governo vai dividir as grandes obras em várias de menores dimensões, “desde que tal não tenha implicações negativas para a vida da população”.
O mesmo responsável reiterou que, tal como tinha sido já anunciado, “a DSSOPT e o GDI vão criar uma base de dados central para permitir uma melhor distribuição dos trabalhos e evitar que tenham um grande impacto ao nível do quotidiano e do trânsito”. Garantindo que tudo será feito dentro das disposições legais, o subdirector substituto prometeu “desburocratizar a máquina administrativa”.

Não é nada com ele

A propósito de máquina administrativa e de desburocratização, o PONTO FINAL quis saber o que está a DSSOPT a fazer para responder às críticas que têm sido feitas por quem trabalha no sector da construção em relação à morosidade da apreciação dos processos.
“Os trabalhos que hoje anunciámos foram em termos de obras públicas”, afirmou Daniel Shin Chun Low. “Quanto à apreciação dos projectos para as obras particulares, já adoptámos algumas medidas, mas só que esta conferência de imprensa destina-se apenas às obras públicas”, disse o subdirector substituto da DSSOPT, não dando assim mais esclarecimentos sobre a questão.
Recorde-se que, de investidores a representantes do sector imobiliário, passando por arquitectos e engenheiros, muitas têm sido as pessoas que se têm queixado da lentidão na apreciação dos projectos privados, morosidade que já levou algumas empresas internacionais do ramo a abandonar a ideia de investir em Macau. O fenómeno acentuou-se depois da detenção e do julgamento do ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas.
Por ser subdirector substituto na área das obras públicas e na do sector privado, Daniel Shin preferiu reiterar que, no âmbito das suas competências directas, “já adoptámos algumas medidas em termos de serviços one-stop para apreciação dos projectos, de modo a que todos os serviços competentes se reúnam periodicamente para dar o seu parecer, no sentido de acelerar os processos.”

China prepara-se para a grande festa

Prosperidade duvidosa no Ano do Búfalo

A China celebra domingo à noite a entrada no Ano do Búfalo, um signo associado ao trabalho árduo e à persistência, duas qualidades indispensáveis para enfrentar a crise financeira global.
“Vai ser o ano mais duro desde 2000”, avisou esta semana um jornal oficial, citando o primeiro-ministro, Wen Jiabao.
Confrontados com as perspectivas de abrandamento económico e aumento do desemprego, os votos de “prosperidade” que se fazem nesta quadra (“Gong Xi Fa Cai”) parecem irrealistas, mas isso não chega para alterar a tradição.
A passagem do ano lunar é a maior festa da China – e das comunidades chinesas espalhadas pela mundo.
A data, que varia de ano para ano, proporciona três dias oficiais de feriado. Com as “pontes” e outros expedientes, muitas empresas acabam por parar uma semana inteira. E os estudantes, cujo ano lectivo começa no início de Setembro, têm direito a três semanas de férias.
Em Pequim, as lojas e edifícios públicos estão engalanados com lanternas vermelhas e vêem-se muitas pessoas arrastando malas pelas ruas: regressaram a casa ou vão a caminho do aeroporto ou de uma estação de comboio, para irem juntar-se às suas famílias.
Pelas previsões do governo, de 11 de Janeiro a 19 de Fevereiro, os comboios chineses deverão transportar 188 milhões de passageiros, mais 8 por cento do que em 2008, e os aviões cerca de 23,2 milhões, um aumento de 12 por cento.
Como manda a tradição, na passagem do ano, a família reúne-se à volta da mesa, “adorando o Deus da Cozinha”, os mais novos oferecem prendas aos mais velhos e estes retribuem com dinheiro (“ya sui qian”), entregue dentro de um “hongbao” (envelope vermelho).
O fogo de artifício, uma das milenares invenções chinesas, também não poderá faltar – para “iluminar a entrada no novo ano lunar” e “afastar os fantasmas”.
Em períodos de maior rigor ideológico, como na década da Grande Revolução Cultural Proletária (1966-76), o “Deus da Cozinha” não seria “adorado” tão abertamente, mas também neste aspecto a China mudou muito.
O Búfalo é um dos doze signos do Zodíaco chinês, juntamente com os outros onze animais, incluindo o dragão, a única criatura mitológica da lista, que foram despedir-se de Buda quando este partiu para a eternidade.
Os nativos do Ano do Búfalo (“Niu Nian”) – entre os quais o novo presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama – são descritos como “honestos”, “trabalhadores”, “fiéis” e “tolerantes”.
Segundo as previsões do Banco Mundial, a economia chinesa deverá crescer apenas 7,5 por cento em 2009 – o valor mais baixo dos últimos 19 anos, e 2,4 pontos abaixo da média anual registada durante as três décadas de “Reforma e Abertura”.
Depois do Ano Búfalo, que começa dia 26 de Janeiro e termina a 14 de Fevereiro de 2010, segue-se o Ano do Tigre.

Escândalo do leite contaminado com melamina

Responsável da Sanlu condenada a prisão perpétua

Um tribunal chinês condenou ontem a prisão perpétua a antiga dirigente de uma das empresas lácteas que produziram leite contaminado com melamina e à morte três outros responsáveis envolvidos no escândalo, noticiou a agência Nova China.
O tribunal da Relação em Shijiazhuang, onde está a sede da companhia Sanlu, uma das maiores produtoras de leite, aplicou a prisão perpétua à antiga presidente e directora geral do grupo, Tian Wenhua, antigo quadro do Partido Comunista Chinês (PCC), que foi considerada culpada de ter tentado abafar o escândalo.
O tribunal, que julga desde Dezembro 21 pessoas envolvidas no escândalo, condenou também três dos acusados à morte, um deles com pena suspensa.
Zhang Yujun, que produziu o pó contendo melamina e escoou 600 toneladas dele, foi o primeiro acusado condenado à morte por ter "posto em perigo a segurança pública".
Outros dois acusados foram condenados à morte, mas um deles com pena suspensa que deverá ser comutada para prisão perpétua.
Neste julgamento, Tian Wenhua, a ex-directora da Sanlu, foi a pessoa com um cargo de maior responsabilidade, apesar de o escândalo ter levado à demissão do líder da secção do partido de Shijiazhuang e do presidente da câmara.
Tian Wenhua, foi acusada de produzir e vender produtos "falsos e de qualidade inferior", crime cuja pena máxima prevista é a prisão perpétua.
A directora da empresa teve como co-acusados três antigos quadros superiores da Sanlu, que foram condenados a penas de prisão entre os cinco e os 15 anos. Um deles compareceu em tribunal de cadeira de rodas, por ter ficado parcialmente paralisado depois de uma tentativa de suicídio.
A empresa, que era uma das principais empresas chinesas e está agora à beira da falência, foi condenada a pagar uma multa de 50 milhões de yuans e a sua directora ao pagamento de uma multa de 20 milhões de yuans.
A investigação concluiu que 22 empresas venderam leite contaminado com melamina, um produto químico destinado ao fabrico de colas, resinas e plásticos, que ingerido provoca, como provocou a milhares de crianças, problemas renais, designadamente a formação de cálculos renais (pedras nos rins).
Estas 22 empresas anunciaram a criação de um fundo especial de indemnizações no valor de 160 milhões de dólares, mas os advogados das vítimas protestaram porque algumas das famílias só vão receber cerca de 300 dólares.
Na sequência da contaminação do leite, morreram seis bebés e quase 300.000 tiveram de ser hospitalizados.

Pansy Ho abre hotel no aeroporto de Hong Kong

Vistas largas

O hotel de cinco estrelas que a directora da Shun-Tak inaugurou quinta-feira perto de Chek-Lap Kok aposta nos executivos em viagem, mas está de olho no mercado das convenções e nas vantagens estratégicas da ponte Zhuhai- Macau – Hong Kong.

Nuno Mendonça em Hong Kong

Chamar ao novíssimo Hong Kong Sky City Marriott um hotel de aeroporto é quase insultuoso, se pensarmos que a maioria destas unidades em todo o mundo são uma espécie de armazéns gigantes com cubículos de plástico que nos atenuam a espera de algumas horas para um voo de trabalho ou lazer. Hong Kong não era excepção até que a cadeia Marriot, com já cinco hotéis no território vizinho, resolveu apostar neste cinco estrelas na ilha de Lantau.
Com vistas sobre o mar da China e um campo de golfe adjacente ao hotel, o Sky City Marriott quase faz esquecer que uma das suas razões de ser é o aeroporto de Hong Kong em fundo. O hotel auto-define-se como um “resort internacional de negócios” a pensar claramente no viajante com poder de compra que não dispensa uma boa bebida e uma refeição decente num restaurante de nível. O hotel tem nada menos que seis, com sabores asiáticos e internacionais, para além de um bar onde uma dezena de flat screens mostram os altos e baixos das bolsas internacionais e as jogadas de várias primeiras ligas europeias.
Mas há mais mimos, raros em hotéis que servem aeroportos: um spa com as últimas tecnologias para tratamentos e massagens, uma piscina de 27 metros e um clube com um ginásio aberto 24 horas.
Nos quartos amplos (são 658, do standard a suite presidencial), encontra-se tudo o que é esperado num hotel deste nível, com a já óbvia TV de ecrã plano e a rápida ligação online.

Longe da cidade mas perto das convenções

Levam cinco minutos a chegar a Chek Lap Kok no autocarro do hotel, o que pode ser um “não, obrigado” para alguns clientes.
Mas a ponte que liga o hotel à feira de convenções Asia World Expo mostra que a estratégia de Pansy Ho, no consórcio que criou com o grupo de construção Dragages e a GR8 Leisure Concept, visa claramente servir também o mercado de convenções de Hong Kong que desde a inauguração do Venetian atravessa uma fase reactiva de renovação para fazer face à concorrência vinda de Macau. O próprio Sky City Marriott dispõe de espaço para convenções e/ou exposições de 1950 metros quadrados.
“Há uma série de empresas internacionais a basear-se nesta zona de Lantau e a nossa estratégia é mostrar a esses executivos e profissionais que necessitam de pernoitar em Hong Kong, que o podem fazer perto das reuniões e trabalho que vêm fazer em Hong Kong em vez de terem de se deslocar para o centro da cidade,” disse a directora de marketing Maxine Howe ao PONTO FINAL.
E há ainda um trunfo só esperado lá para 2014, mas que pode fazer toda a diferença para o hotel. É previsível que o percurso da ponte Zhuhai – Macau – Hong Kong passe por Lantau, tornando este Marriot num conveniente ponto estratégico para profissionais e empresários da região.

Shun Tak aposta na área hoteleira

A própria Pansy Ho definiu na cerimónia de inauguração o que espera atingir neste consórcio ao descrever o hotel como “um novo capítulo em termos do que o aeroporto de Hong Kong tem para oferecer: a conjunção de convenções, descanso e transporte de elevada qualidade”.
A empresária, para quem este hotel é a primeira iniciativa hoteleira da Shun Tak em Hong Kong, parece apostada em desenvolver este ramo dentro do grupo, depois de no início de Dezembro ter anunciado um consórcio com a cadeia de hotéis Jumeirah (que opera entre outros, o Burj Al Arab no Dubai, tido como o hotel mais luxuoso do mundo), para a construção do Jumeirah Macau, que deve abrir portas em 2013.
Para já e voltando ao sofisticado mas discreto Marriot, o único senão é o terminal pré-fabricado, muito anos 70, mas absolutamente conveniente para o viajante de Macau que o utiliza para aceder ao aeroporto de Hong Kong.
Um novo terminal está previsto para abrir neste local ainda este ano e, nessa altura, os passageiros “cá da terra” poderão contemplar a possibilidade de retemperar forças no SkyCity Marriot, por 888 Hong Kong dólares no mínimo. Não sai barato, mas soa a boa-sorte.

Albergue da Santa Casa da Misericórdia foi ontem inaugurado

Criatividade com todos e para todos

O espaço já existe há algum tempo mas ainda não tinha sido inaugurado oficialmente. Ontem, com toda a pompa e circunstância, o Albergue da Santa Casa da Misericórdia foi baptizado enquanto espaço para a cultura e a criatividade. O PONTO FINAL passou por lá, assistiu ao protocolo e sentiu a festa.

Isabel Castro

É um desejo que fica, de alguma forma, cumprido. Há já alguns anos que Edmund Ho demonstrou vontade de que o Bairro de São Lázaro fosse transformado numa zona por excelência para as indústrias criativas. Ontem, o Chefe do Executivo teve o prazer de inaugurar o Albergue da Santa Casa da Misericórdia.
A estrutura tem vindo, nos últimos tempos, a funcionar como espaço onde convivem diferentes estruturas que trabalham em projectos relacionados com a criatividade. Da Casa de Portugal à Sociedade de Artes Bambu, têm sido desenvolvidos vários projectos, de workshops a exposições. Mas, a partir de agora, o Albergue assume oficialmente a sua função no apoio às indústrias criativas.
“É mais um contributo da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, desta vez no vector cultural e nas indústrias criativas, de que se fala muito hoje em dia e que são importantes”, comentou António José de Freitas, provedor da Santa Casa da Misericórdia, no início da festa que, além dos momentos protocolares, incluiu um desfile de moda concebida inteiramente em Macau, uma exposição de produtos de design da responsabilidade de criativos locais e uma projecção de vídeos.
A casa esteve cheia numa mistura nem sempre comum: políticos importantes com artistas destacados. Ao lado de Edmund Ho estiveram figuras do mundo político como os empresários Ho Iat Seng e Lionel Leong Iok Va. O vice-presidente da Assembleia Legislativa, Lau Cheok Va, e o deputado Leong Heng Teng também marcaram presença, bem como o deputado Leonel Alves, presidente da assembleia geral da Irmandade da Santa Casa.
“Em 2001, a Santa Casa criou o seu núcleo museológico, tem já um projecto na vertente cultural histórica. Estamos satisfeitos por poder hoje disponibilizar este espaço que diz muito, não só para a irmandade mas também para a comunidade local, sobretudo para a comunidade portuguesa e macaense”, acrescentou ainda António José de Freitas, recordando que o Albergue teve várias finalidades, de “abrigo a refugiados durante a guerra a asilo para as velhinhas”.
O provedor da Santa Casa era ontem um homem “satisfeito” com o projecto. “Esperamos que venha a ter os maiores sucessos e seja coroado de êxitos. Da parte da Irmandade tudo faremos e vamos apoiar tudo para concretizar com sucesso este projecto, que não é só da Santa Casa mas que diz respeito à sociedade de Macau.”

O que dizem os artistas e criativos

“É com alegria e com esperança de que a cidade tenha uma outra componente urbana, e que esta seja exactamente não virada para o jogo, mas para outro tipo de indústrias a que podemos chamar criativas mas que sejam, sobretudo, renovadoras do tecido social e da memória. No caso de Macau, a que eu costumo chamar palco para todas as ficções, é a memória que enforma todo o processo criativo.”
António Conceição Júnior, artista plástico

“É muito importante porque Macau pode realmente crescer quando pode desenvolver um conjunto de produtos criativos únicos que pertencem especificamente à cidade. Também ajuda a diversificar a economia que, neste momento, depende muito do jogo. Permite ter outros aspectos para que os visitantes venham e usufruam, e melhora a qualidade de vida das pessoas que vivem aqui.”
Ray Granlund, músico e editor

“É um desafio para que as indústrias criativas possam, a partir de agora e deste exemplo, crescer e tornarem-se significativas para Macau, seja isto economicamente, seja isto culturalmente, mas, acima de tudo, uma iniciativa para que, a partir de agora, se possa avançar no sentido das indústrias criativas de Macau.”
Manuel Correia da Silva, designer industrial

“Penso que é um momento muito feliz para a comunidade criativa de Macau e também para todas as pessoas que se interessam pela cultura e por outros aspectos da sociedade de Macau. De facto, cada vez mais são necessárias muitas iniciativas e um esforço conjunto grande dos vários sectores, sobretudo das pessoas que têm alguma ligação com as actividades criativas e culturais, para podermos andar para a frente com o desenvolvimento das indústrias criativas de Macau como sector com importância na actividade económica e na diversificação da economia.”
José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau

“Todas as iniciativas que chamem a atenção para o que é preciso fazer, para o que se está a fazer e que sirvam para sensibilizar as pessoas para o apoio que o trabalho na área criativa e cultural precisa são todas válidas.”
Maria Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau

“É simpático. Acho que devia haver cada vez mais em Macau espaços destes. Devem ser apoiados e existir. É sempre bom para os artistas de Macau.”
Joaquim Franco, pintor

“Gosto de todas as iniciativas que venham de artistas e relacionadas com arte. São muito melhores do que as dos casinos. Pelo menos traz alguma qualidade de vida e cultura. É uma boa iniciativa.”
Konstantin Bessmertny, pintor

“É muitíssimo importante porque é um espaço alternativo. Quem tem a ganhar muito são os criativos.”
Lúcia Lemos, directora do Creative Macau

Editorial

Soluções

Uma das novidades ontem anunciadas pelo director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego foi a hipótese de instalar em Macau um sistema de controle e localização dos autocarros, que permitirá colocar placards electrónicos nas paragens, com a indicação do tempo que falta para a chegada de cada veículo.
Embora ainda seja necessário elaborar um estudo de viabilidade, o mesmo responsável acredita que o sistema poderá estar a funcionar, no território, até final do ano e que irá ajudar a resolver os problemas do trânsito na cidade.
O sistema já está vulgarizado em muitos países e, para além de permitir que o utente saiba se chega ou não atrasado ao trabalho, possibilita às empresas uma gestão mais eficiente da sua frota.
A ideia até é boa, mas parece-nos que pouco adiantará na resolução do problema do trânsito que, cada vez mais, sufoca esta cidade. É certo que ficamos todos - nós, utentes, e os responsáveis das empresas de transportes públicos - melhor informados. Mas não é isso que irá fazer com que os autocarros andem mais depressa. Dizem as leis da Física que dois objectos não podem ocupar a mesma posição ao mesmo tempo. E enquanto o número de veículos particulares que enchem as ruas não for reduzido, não há sistema que resolva os constantes engarrafamentos, as intermináveis filas de automóveis e os "comboios" de autocarros.
Quanto a melhorar a gestão da frota das empresas, essa hipótese ainda nos parece mais duvidosa. Não é preciso um sistema inteligente para saber que grande parte dos autocarros, nas horas de ponta, estão parados. Ou a andar muito devagar.

Paulo Reis

1.27.2009

Nº 1708 - Quinta-Feira 22 de Janeiro de 2009

Preços dos produtos alimentares crescem 17,2 por cento

Inflacção aumenta em 2008

A taxa de inflacção anual, em 2008, atingiu 8,16 por cento, de acordo com dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos. Para este valor, contribuíram especialmente os aumentos registados nos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas, saúde e habitação e combustíveis que atingiram, respectivamente, 17,22 por cento, 13,88 por cento e 8,15 por cento.
O Índice de Preços no Consumidor geral de Dezembro de 2008 registou um aumento de 6,16 por cento em relação a Dezembro de 2007, atingindo 125,78, o nível mais baixo em 2008. Salienta-se que o índice de preços das secções produtos alimentares e bebidas não alcoólicas, saúde e vestuário e calçado subiu 14,35 por cento, 13,69 por cento e 9,39 por cento, respectivamente.
Os incrementos mais significativos ocorreram nos preços: do arroz (54,83 por cento); da carne enlatada (40,10 por cento); do peixe fresco de água doce (33,34 por cento); dos óleos comestíveis (32,38 por cento) e dos produtos hortícolas (19,28 por cento), que pertencem. Nas secções saúde e vestuário e calçado, observaram-se crescimentos notórios, nomeadamente nas consultas médicas (24,51 por cento) e vestuário de senhoras (11,62 por cento).
Por um lado, o índice de preços da secção recreação e cultura aumentou 6,05 por cento, face ao mês homólogo do ano precedente. No que concerne à secção habitação e combustíveis, embora os índices de preços das rendas de casa (+12,51 por cento) e dos serviços de reparação e manutenção da habitação (+9,60 por cento)) se tenham ampliado, o crescimento homólogo do índice de preços da habitação e combustíveis abrandou para 2,77 por cento, devido à descida do gás de petróleo liquefeito (-4,65 por cento) e à atribuição de um subsídio temporário de electricidade pelo Governo aos agregados familiares.
Por outro lado, os índices das secções transportes e comunicações diminuíram 8,15 por cento e 6,86 por cento, respectivamente, face ao mês homólogo de 2007, graças à atribuição temporária do subsídio da tarifa do autocarro pelo Governo, redução dos preços da gasolina, bem como as quedas de preços dos telemóveis e das despesas inerentes à sua utilização.
No 4º trimestre de 2008, o IPC geral aumentou 7,48 por cento em relação ao trimestre homólogo de 2007, atingiu o nível de 126,23. Os acréscimos de preços ocorreram nas secções produtos alimentares e bebidas não alcoólicas (16,10 por cento), saúde (13,84 por cento) e vestuário e calçado (8,23 por cento).
O IPC-geral médio de 2008 foi de 124,32, sendo a taxa de inflação anual 8,61 por cento. Os índices das secções produtos alimentares e bebidas não alcoólicas, saúde e habitação e combustíveis elevaram-se 17,22 por cento, 13,88 por cento e 8,15 por cento, respectivamente, face ao ano de 2007. Além disso, o IPC-A e o IPC-B em termos médios foram de 126,47 e 123,72, subiram 9,08 por cento e 8,44 por cento, respectivamente, em relação a 2007.

Concluída apreciação na especialidade da Lei da Segurança do Estado

Alterações ainda em segredo

Está concluída a apreciação na especialidade da proposta de Lei relativa à Defesa da Segurança do Estado. Depois de ouvir as sugestões de alteração apresentadas em sede de comissão, o Governo promete apresentar um novo texto ainda antes do Ano Novo Lunar.

Rui Cid

Pelo segundo dia consecutivo, representantes do Executivo, com destaque para Florinda Chan, deslocaram-se à Assembleia Legislativa para se juntarem aos membros da segunda comissão permanente, na discussão na especialidade da Proposta de Lei Relativa à Defesa da Segurança do Estado.
Tal como na véspera, o debate prolongou-se por mais de três horas, e passava já das 18h30, quando Fong Chi Keong se apresentou perante os jornalistas para um breve resumo da reunião. Contudo, ao contrário do dia anterior, onde, segundo, o presidente da segunda comissão, apenas se discutiram quatro artigos, a discussão de ontem foi bem mais produtiva.
"Concluímos a nossa apreciação ao documento", começou por avançar Fong Chi Keong, acrescentando, em seguida, que o Executivo se comprometeu a apresentar um novo texto no prazo de cinco dias, ainda antes do ano novo chinês.
Nesse articulado, o Governo pondera incluir algumas, mas não todas, das propostas de alteração sugeridas em sede de comissão. De acordo com Fong Chi Keong, a Administração não revelou que propostas serão tido em conta, limitando-se a justificar algumas passagens do articulado, como "opções politicas".
Se na terça-feira o Executivo tinha admitido rever as molduras penais (nomeadamente a pena mínima) previstas para os crimes de traição à pátria, secessão e subversão contra o Governo Central, ontem, Florinda Chan e seus pares anuíram em ponderar incluir no documento outras duas alterações, relativas aos artigos 5º, 6º e 7º.
Sem referir nomes, Fong Chi Keong revelou que alguns deputados concentraram as suas atenções no artigo 5º - referente à subtracção de segredo de Estado - insistindo para que o texto final faça uma distinção entre crime doloso e por negligência, de forma a que quem tenha praticado um crime de forma negligente seja punido de forma mais branda.
Outra alteração sugerida prende-se com a necessidade, segundo alguns deputados, em acrescentar aos artigos 6º e 7º, o ponto nº6 do artigo 8º. Dizem os deputados que, tal como estão redigidos, os artigos referentes às actividades de associações ou organizações estrangeiras em Macau restringem o âmbito da aplicação das multas previstas.
Esses mesmos deputados defendem que o texto actual não permite aplicar multas às associações que não tenham personalidade jurídica. Entendem, por isso, que se deve transportar para estes dois artigos o conteúdo disposto nº6 do artigo 8º, que determina que na ausência de personalidade jurídica de uma associação ou organização, "responde por ela o património comum, e, na sua falta ou insuficiência, o património de cada um dos membros".


Redução proporcional ao valor dos imóveis

Imposto de selo vai ter três escalões

A redução no imposto de selo na compra de imóveis vai, afinal, ser sujeita a um regime de escalões, em que as transacções menos dispendiosas passam a ser mais beneficiadas.
Na quarta reunião da terceira comissão permanente da AL, Francis Tam revelou que o governo tinha aceite a proposta avançada pelos membros da comissão, na reunião anterior.
A intenção de alterar o actual regime do imposto de selo foi anunciada por Edmund Ho durante a apresentação das Linhas Acção Governativa para 2009, e tem como objectivo incentivar e apoiar a compra de habitação própria. Para esse efeito, na Proposta de Lei que levou a semana passada à AL, o Executivo sugeria que todas as transacções de imóveis passassem a ter que pagar de imposto de selo um valor correspondente a um por cento do montante dispendido na compra, ao invés dos actuais três por cento previstos.
Contudo, apesar de a proposta ter sido aprovada por unanimidade na generalidade, alguns deputados consideraram ser injusto tratar de igual forma todos os casos de compra e venda de habitações.
O regime de escalões acabaria por ganhar forma já em sede de comissão, com os membros da terceira comissão permanente a concordarem com uma redução no imposto de selo de forma proporcional ao valor dos imóveis, em três escalões. Assim, o imposto de selo para imóveis que custem até 2 milhões de patacas passa a ser apenas de um por cento. Esse valor sobe para dois por cento nos casos em que as transacções envolvam gastos entre os 2 e os 4 milhões de patacas. Sem alterações ficam os imóveis negociados acima dos 4 milhões de patacas, cujo valor de imposto de selo se mantém nos actuais três por cento.
No final da reunião, Cheang Chi Keong, presidente da comissão, revelou aos jornalistas que a aprovação destas medidas, que terão ainda que ser aprovadas pelo plenário , significará uma redução de 126 milhões de patacas no valor que o Governo tinha previsto perder em receitas fiscais. Inicialmente, as contas do Executivo apontavam para uma redução de 273 milhões de patacas, passando esse valor a ser apenas de 147 milhões.
O presidente da comissão sublinhou ainda que as alterações irão abranger todas as transacções de imóveis realizadas desde um de Janeiro e um valor de 0,5 por cento do total do imóvel tenha sido pago.

R.C.

Braço de ferro no Banco Delta Ásia

AMCM não conseguiu afastar Stanley Au

A Autoridade Monetária andava há um ano a tentar tudo para remover Stanley Au da administração do banco de que é proprietário. Mas, num processo que os responsáveis do Delta Ásia descrevem como ‘kafkiano”, a AMCM nunca ouviu o patrão do banco sobre essa e outras medidas que restringiam os seus direitos. E agora que o caso deu entrada nos tribunais, as medidas acabaram por ser revogadas.

Ricardo Pinto

A Autoridade Monetária de Macau e o patrão do Banco Delta Ásia, Stanley Au, travaram nos últimos meses uma guerra de nervos que tinha por pano de fundo a questão de saber a quem devia ser entregue a gestão do banco, depois de dois anos de intervenção governamental. O braço de ferro, mantido em segredo da opinião pública, teve início em Setembro de 2007, quando cessou funções a Comissão Administrativa nomeada pelo governo após os Estados Unidos terem acusado o Delta Ásia de envolvimento em operações de branqueamento de capitais a favor da Coreia do Norte. Ao mesmo tempo que fazia “cessar a aplicação das medidas excepcionais, devolvendo a gestão do Banco Delta Ásia, SARL ao seu sócio fundador”, como foi então anunciado em nota à imprensa, a AMCM comunicava apenas aos responsáveis do banco um novo conjunto de medidas excepcionais em que, estranhamente, se incluía a proibição do mesmo accionista principal retomar a liderança da instituição, proibição extensiva aos seus familiares e a “outras partes com eles relacionadas”.
Não menos estranhamente, o Delta Ásia só foi formalmente notificado da aplicação dessas medidas em Outubro de 2008, mais de um ano depois da sua elaboração e suposta entrada em vigor, e quase outro tanto sobre a sua confirmação por despacho do Chefe do Executivo. No recurso que apresentou entretanto junto do Tribunal de Segunda Instância, a cujo teor o PONTO FINAL teve acesso, o BDA lamenta que a AMCM tenha demorado “10 meses a notificar um acto que a lei manda notificar em 8 dias” e, pior do que isso, que não tenha querido “perder oito dias a conceder ao recorrente um direito inalienável: o direito de audiência prévia previsto, imperativamente, no Código de Procedimento Administrativo”.
Segundo os responsáveis do BDA, a AMCM não deu “qualquer justificação, nem boa nem má” para afastar Stanley Au e os seus familiares e colaboradores da administração do banco, e jamais lhes deu hipóteses de se defenderem, tudo isso resultando num “processo Kafkiano”. As medidas, descrevem-nas como “injustas, desproporcionadas, violadoras da Lei Básica e de direitos fundamentais” (ver outro texto nestas páginas), e pedem por isso ao tribunal para declarar a sua nulidade.
Sempre num tom muito crítico, os responsáveis do banco acusam ainda a AMCM de falta de transparência na sua actuação, “levantando desnecessárias dúvidas sobre uma Autoridade tão relevante para a Região numa altura em que uma potencial tempestade financeira abala o sistema financeiro internacional”.

Fazer a vontade aos americanos?

As razões que levaram a AMCM a tentar afastar Stanley Au da administração do seu banco não são claras. O PONTO FINAL tentou obter esclarecimentos sobre esta e outras questões junto da administração da AMCM, mas esta escusou-se a fazê-lo invocando a obrigação de respeitar o segredo profissional.
Mas no recurso os responsáveis do banco, depois de garantirem que à Autoridade Monetária “faltou coragem” para explicar as suas motivações ao longo do processo, deixam entender que a AMCM ter-se-á limitado a acatar uma imposição tácita do governo americano, que – pelo menos até à entrada de Barack Obama na Casa Branca, anteontem – estaria decidido a manter as sanções contra o Delta Ásia enquanto Stanley Au permanecer como líder da instituição. E não o devia ter feito, sugerem os mesmos responsáveis. É que “as suspeições sobre o BDA levantadas pelo governo americano nunca foram demonstradas”, o que explicam pelo facto do banco ter sido “injusta e injustificadamente, eleito como alvo simbólico ou como bode expiatório” no conflito que os Estados Unidos mantêm com a Coreia do Norte.
Ao mesmo tempo que o Delta Ásia avançava com o recurso, dirigentes das duas instituições mantinham negociações com vista a encontrarem uma solução extra-judicial para o problema. No passado dia 12, o governo deu uma primeira indicação de que as medidas excepcionais aplicáveis ao BDA seriam revogadas ao retirar à AMCM poderes que antes lhe atribuíra para “praticar os actos ou medidas adequados à gestão, sã e prudente do Banco Delta Ásia”. E, ao que conseguimos apurar junto de fonte da Administração, a AMCM prepara-se nos próximos dias para levantar as medidas de modo formal, com a justificação de que a situação financeira do banco se terá entretanto estabilizado. Como resultado, a peleja judicial que se preparava será abandonada por “inutilidade superveniente” do recurso.
As medidas acabarão assim por ser revogadas mais de um ano depois de supostamente terem entrado em vigor, sem que alguma vez tenham sido de facto aplicadas. No caso de Stanley Au, a proibição de participar na administração do banco nunca foi acatada, apesar dos avisos de que lhe seria aberto processo de infracção ou mesmo retirada a licença bancária. Curiosamente, a AMCM dirigia esses avisos e outra correspondência ao presidente do Conselho de Administração do banco, Exmo. Senhor Stanley Au...

As medidas contra o BDA

Eram 23 as “medidas especiais” de supervisão que a Autoridade Monetária pretendia ver aplicadas ao Banco Delta Ásia assim que cessou funções a Comissão Administrativa nomeada pelo governo e o banco foi devolvido aos accionistas, em Setembro de 2007. O texto que se segue é uma tradução nossa do memorando então elaborado em inglês pela AMCM:

Gestão do BDA
1. O sr. Stanley Au e o BDA devem prometer por escrito que darão total colaboração à AMCM.
2. Os accionistas originários do BDA, membros da família e outras partes relacionadas com os accionistas não poderão exercer quaisquer cargos de gestão no BDA.
3. As entidades mencionadas no ponto anterior não poderão participar, directa ou indirectamente, na gestão diária dos assuntos do BDA.
4. O BDA deverá nomear uma nova equipa de administradores que seja aceitável pela AMCM, devendo três desses administradores estar baseados em Macau, e devendo ocupar-se dos assuntos do BDA em regime de exclusividade.
5. Os membros da nova equipa de administradores nomeados pelo BDA não podem ser nomeados simultaneamente para outros cargos de gestão no DAG (Delta Asia Group). Se essa situação for inevitável, os nomeados simultaneamente para cargos no BDA e no DAG terão que obter aprovação prévia da AMCM.
6. A nova equipa de administradores do BDA deverá submeter um relatório periódico à AMCM detalhando os progressos na implementação da reforma da gestão empresarial, reforço dos controlos internos, observância da legislação e medidas anti-lavagem de dinheiro e de combate ao financiamento do terrorismo.

Plano de actividades
7. O BDA deverá submeter à AMCM, numa base mensal, súmulas das actas das reuniões do Conselho de Administração do BDA e do DAGH, onde sejam apresentadas todas as decisões estrategicamente importantes e planos de actividades.
8. O BDA deverá submeter à AMCM o seu plano anual de actividades até 30 de Novembro de cada ano.

Mercado inter-bancário
9. Todos os fundos colocados no mercado inter-bancário deverão estar em nome do BDA, e não do DAC (Delta Asia Credit) ou de outros membros do grupo.

Liquidez e solvência
10. O BDA deverá definir um tecto-limite para depósitos de clientes (limite máximo para depósitos não-bancários) e submetê-lo a aprovação prévia da AMCM.
11. O BDA deverá observar estritamente as regras de liquidez e solvência.
12. O BDA deverá manter sempre um equilíbrio líquido na sua conta-depósito junto da AMCM, equivalente ao dobro do montante mínimo requerido pelas actuais regras de liquidez.

Empréstimos no seio do grupo
13. A menos que obtenha aprovação prévia da AMCM, o BDA não concederá quaisquer facilidades de crédito nem participará em empréstimos concedidos pelos seus accionistas, empresas-irmãs, subsidiárias e outros membros do Grupo Delta Ásia.
14. As acima mencionadas facilidades de crédito e participação em empréstimos, se aprovadas a priori pela AMCM, deverão respeitar os respectivos limites máximos, ou outros limites impostos pela AMCM.
15. Por período de tempo a determinar, o BDA submeterá à AMCM uma solução para a retirada da participação no acordo para empréstimos com o DAC, a fim de abandonar, completa e gradualmente, a participação em empréstimos concedidos pelo DAC.

Rácios
16. A rácio empréstimos-depósitos do BDA não deverá ultrapassar os 75% em momento algum.
17. A rácio de adequação de capital (CAR) do BDA deverá manter-se a todo o momento igual ou superior a 16%.

Auditoria às Contas
18. A auditoria anual às contas do BDA, do DAC e da holding do Grupo Delta Ásia deverá ser submetida à AMCM no prazo de 5 meses após o fim do ano financeiro respectivo.
19. O espectro das auditorias efectuadas por auditores externos ao BDA deverá cobrir a gestão empresarial, os controlos internos, a observância das leis e das regras de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, para além do escopo normal das auditorias.
20. O BDA deverá submeter à AMCM em cada ano um relatório pormenorizado da gestão preparado por auditores externos, detalhando todas as deficiências detectadas.

Rearranjo da DAC
21. O BDA deve elaborar um plano de reorganização da DAC para tornar a DAC numa não-subsidiária do BDA ou para liquidar a DAC num prazo razoável.

Não observância
22. A não observância das medidas de supervisão requeridas pela AMCM levará à desqualificação do accionista e eventual revogação da autorização para o BDA operar.

Relatórios
23. Para além dos relatórios bancários obrigatórios, o BDA continuará a submeter a seguinte informação (com modificações) à AMCM:

Numa base mensal
- Rácio empréstimos-depósitos, tanto a singular como a consolidada (BDA e DAC);
- Enumeração dos 10 principais devedores não bancos (BDA e DAC);
- Contas de Gestão (BDA, DAC e consolidadas);
- Resultados dos recursos e responsabilidades financeiras (DAC); e
- Relatório mensal detalhado de facilidades de crédito iguais ou acima dos 5 milhões de dólares de Hong Kong concedidas ou renovadas pelo BDA, incluindo a participação em empréstimos concedidos ou renovados pela DAC.

Numa base trimestral
- Lista do imobiliário em nome do BDA (este relatório deve incluir as propriedades que, por falta de pagamento das hipotecas, estejam agora em nome do BDA); e
- Análise do crédito mal parado em contas com balanço negativo superior a 3 milhões de patacas (BDA e DAC).

Medidas “draconianas”, diz o BDA

Quando convidada pelos responsáveis do Banco Delta Ásia a explicar o porquê destas medidas, a AMCM elaborou um relatório em que afirmava serem necessárias para “fazer face à situação do BDA não poder retomar a totalidade das operações bancárias depois das sanções dos EUA, bem como às deficiências na área da gestão empresarial, controlos internos e observância da lei e das regras contra o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo detectadas por exames prévios no terreno e pela investigação (dos auditores) da Ernst & Young”. Além disso, a Autoridade Monetária alegava que o banco se encontrava em situação de desequilíbrio financeiro, devido a “grave insuficiência de liquidez”, tendo que recorrer ao “apoio continuado” da própria AMCM.
As explicações não convenceram, no entanto, Stanley Au e os seus principais colaboradores. O recurso que deu entrada no Tribunal de Segunda Instância descreveu como “draconianas” as medidas que a AMCM pretendia impor ao Delta Ásia e contestou-as uma por uma. A Autoridade Monetária foi, nomeadamente, acusada de não ter apresentado factos que revelassem a “falta de idoneidade e experiência” de Stanley Au e que pudessem justificar o seu afastamento da administração do banco, bem como de não esclarecer “o que é que detectou de errado e quando detectou”. Segundo o recurso, a AMCM “limitou-se a alegar generalidades com uma simplicidade lamentável que faz duvidar seriamente da competência técnica” de quem elaborou as medidas.
Quanto ao alegado desequilíbrio financeiro, os responsáveis do banco negaram com veemência que essa situação tenha existido e salientaram que o BDA só recorreu a empréstimos junto da AMCM por duas ocasiões: uma, em Setembro de 2005, para acudir ao volume anormal de levantamentos na corrida ao banco que se seguiu ao anúncio das sanções americanas; e a outra mais recentemente, por razões meramente técnicas. Mas em momento algum, pode ler-se no recurso, o património líquido do BDA foi inferior à dívida contraída perante a AMCM (nem mesmo quando ela atingiu o seu valor máximo, acima dos 750 milhões de patacas) e, entretanto, o banco acabou de pagar tudo o que devia à Autoridade Monetária em Março do ano passado.
Os responsáveis do banco dizem não poder deixar de estranhar, por outro lado, que a AMCM tivesse pretendido aplicar medidas que não teriam outro efeito senão “o de agravar a situação difícil em que a AMCM alega que o Banco está”.


Cronologia

8 de Setembro de 2005 – O Wall Street Journal revela que as autoridades norte-americanas estão a investigar três bancos de Macau (o Delta Ásia, o Seng Heng e o Banco da China) por suspeita de envolvimento em operações de lavagem de dinheiro a favor da Coreia do Norte, resultantes de tráfico de droga e vendas de armas.

12 de Setembro – A Financial Crimes Enforcement Network (FinCEN), do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, designa o Banco Delta Ásia “preocupação primária de lavagem de dinheiro”, ao abrigo do USA Patriot Act.

15 de Setembro – O comunicado da FinCEN, que descrevia o Banco Delta Ásia como “peão consciente” do regime norte-coreano no desenvolvimento de actividades ilícitas, é divulgado junto da imprensa. É já princípio da noite em Macau: os efeitos da notícia só seriam sentidos no dia seguinte.

16 de Setembro – Corrida aos depósitos. Formam-se longas filas de clientes receosos sobre o futuro do banco e a segurança das suas poupanças. No fim do dia o Delta Ásia tinha perdido depósitos no valor de 515 milhões de patacas, cerca de 17 por cento do total.

17 de Setembro – O chefe do Executivo de Macau, Edmund Ho Hau Wah, nomeia dois delegados para ajudarem a administração do banco na sua gestão.

20 de Setembro – Em três dias o banco perde mais cerca de 330 milhões de patacas em depósitos e obtém um empréstimo do governo de Macau, no valor de 500 milhões de patacas, para garantir a sua liquidez.

22 de Setembro – A pedido dos delegados do governo, o Banco Delta Ásia suspende todos os negócios com bancos da Coreia do Norte.

29 de Setembro – O chefe do Executivo reforça a intervenção do governo no Delta Ásia ao nomear uma Comissão Administrativa, de três membros, que assume o controlo da gestão do banco. Os elementos do anterior Conselho de Administração, presidido por Stanley Au, tinham previamente apresentado pedidos de demissão.

4 de Outubro – São também suspensas todas as relações comerciais com empresas norte-coreanas e outras envolvidas em negócios com a Coreia do Norte.

17 de Outubro – O Banco Delta Ásia, através da firma de advogados Heller Ehrman, apresenta, por carta, a defesa das suas posições junto da FinCEN. Vão passar-se meses até conseguir um contacto directo com os responsáveis do Departamento do Tesouro.

27 de Outubro – O subsecretário do Tesouro para o Terrorismo e os Crimes Financeiros, Stuart Levey, inicia uma visita a Macau em que expõe às autoridades locais, de viva voz, as queixas dos Estados Unidos contra o Banco Delta Ásia.

31 de Outubro – O governo concede ao Delta Ásia mais um empréstimo no valor de mil milhões de patacas.

15 de Novembro – O total de depósitos perdidos pelo banco atinge os 1600 milhões de patacas, ou seja, metade dos que detinha antes do início da crise.

7 de Março de 2006 – Coreia do Norte anuncia que não voltará à mesa das negociações sobre o seu programa nuclear enquanto as contas congeladas em Macau (cerca de 200 milhões de patacas) não forem desbloqueadas.

Abril – BDA paga integralmente a dívida contraída junto da AMCM.

14 de Março de 2007 – O Departamento do Tesouro dá por concluída a investigação ao Banco Delta Ásia e ordena a todos os bancos e empresas americanas para cortarem as ligações com o BDA. O subsecretário Stuart Levey explica que a investigação confirmou que o Delta Ásia estava disposto a fechar os olhos a actividades ilícitas. Ao contrário, a auditoria efectuada pela Ernst & Young a pedido do governo de Macau não detecta indícios da prática de lavagem de dinheiro ou outras actividades ilícitas, limitando-se a apontar deficiências à gestão do banco, nomeadamente em matéria de controlos internos.

14 de Junho de 2007 – Descongeladas as contas norte-coreanas no Delta Ásia. Através de um banco americano e outro russo, os fundos são finalmente devolvidos ao regime de Pyongyang.

Agosto – BDA volta a contrair empréstimo junto da AMCM, mas desta vez inferior a 70 milhões de patacas e somente para fazer face à falta de dólares de Hong Kong.

28 de Setembro – Governo de Macau põe fim à intervenção no BDA, cessando funções a Comissão Administrativa. A AMCM anuncia publicamente o fim das medidas excepcionais e a devolução do banco ao “sócio fundador”. Stanley Au é informado de que na mesma data entram em vigor 23 novas “medidas especiais de supervisão”, incluindo uma que o proibia de retomar a administração do banco.

10 de Janeiro de 2008 – Representado pela advogada Wang Wei Morbey, o BDA insurge-se contra as medidas classificando-as de ilegítimas, injustas e inapropriadas.

18 de Janeiro – Conselho de Administração da AMCM aprova a deliberação que manda aplicar as medidas.

27 de Fevereiro – Edmund Ho exara o seu despacho na deliberação.

3 de Março – Despacho 55/2008 do Chefe do Executivo autoriza a AMCM a praticar os actos ou medidas adequados à gestão, sã e prudente do Banco Delta Ásia.

4 de Março – Dívida à AMCM volta a ser reduzida a zero.

16 de Outubro – AMCM notifica finalmente o BDA da decisão de aplicação das 23 medidas destinadas a garantir uma gestão sã e prudente do banco. Segundo os responsáveis do BDA, fá-lo para a pessoa e o local errado. Ainda assim, o banco apresenta recurso da decisão junto do Tribunal de Segunda Instância no prazo correspondente.

30 de Outubro – Em reunião em que participou o secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, as duas partes chegam a acordo quanto a uma futura revogação das medidas.

12 de Janeiro de 2009 – Chefe do Executivo revoga despacho 55/2008.

Ho Chio Meng e Lai Kin Hong foram os convidados de honra da festa de ano novo lunar

Danças na prisão para Procurador ver

O Estabelecimento Prisional de Macau abre as portas uma vez por ano aos jornalistas, para que assistam à festa de ano novo lunar da instituição. Os reclusos tiveram um dia diferente, com mais sol. Ontem, cantaram e dançaram para muitos VIP. O procurador da RAEM era o mais importante de todos eles.

Isabel Castro

A concentração estava marcada para as 10h, à porta do Estabelecimento Prisional de Macau (EPM). Uma dúzia de jornalistas aguarda a ordem de entrada no silêncio de Coloane, perturbado de quando em vez por um carro que passa na estrada. O horizonte faz-se de meia dúzia de árvores e rolos imensos de arame farpado.
Os enormes portões de ferro abrem-se para, de imediato, se fecharem. Pela frente, um labirinto de corredores, escadas de paredes amarelas a precisarem de uma demão de tinta, um cheiro fétido que não combina com a delicadeza do pessoal que faz as honras da casa aos convidados. Mais um patamar e vêem-se grades que dão acesso a corredores de celas. Há uma porta aberta com saída para a luz do dia.
Ano após ano, a prisão de Macau, onde vivem 912 pessoas, convida a comunicação social do território para assistir ao primeiro dia das festas de ano novo lunar. Os rituais são sempre os mesmos e o espaço onde reclusos e gente livre convive (à distância) também: um pátio rectangular, uma espécie de campo de jogos com um cesto de basquetebol disfarçado com um tecido vermelho, a condizer com a decoração do local.
As mesas para os jornalistas estão alinhadas logo à entrada, à esquerda, cobertas por um toldo que protege do sol. Do lado oposto, sem toldo, estão uma dezenas de habitantes desta enorme casa de Coloane. Vestem quase todos de igual: a roupa beije da prisão. Alguns optaram por fatos de treino. São todos homens, estes presos que aguardam pelo início da festa. Mas há mulheres para ver e ouve-se, de repente, um assobio atrevido quando aparece, vestida de cor-de-rosa, uma das reclusas que vai desempenhar um papel na festa. Só já faltam os VIP para que os leões possam acordar.

Ascensão e queda dos leões

Entre jornalistas e reclusos, várias mesas preparadas a preceito para os convidados especiais. O mais célebre de todos é Ho Chio Meng, o procurador da RAEM, que tem estado na mira dos jornalistas por ser um dos nomes falados para candidato a Chefe do Executivo. Ontem, não houve contacto com a comunicação social.
Ho entrou acompanhado por vários convidados, também eles pertencentes ao sector judiciário. Na lista de nomes entregues aos jornalistas, apenas o do director da Escola Superior das Forças de Segurança de Macau, Hoi Sio Iong, tem relação directa com a tutela da qual está dependente a prisão – a pasta da Segurança.
Os demais VIP ocupam lugares nos tribunais, quer a deduzir acusações, quer a julgar. No grupo destes últimos destaca-se Lai Kin Hong: é o presidente do Tribunal de Segunda Instância e passou a ser um nome citado pelos jornais a partir do momento em que começou o julgamento de Ao Man Long, o recluso mais famoso do EPM.
No longo desfile de convidados estão também representantes de associações de índole social. Dois monges budistas entram com as suas vestes alaranjadas. Uma freira católica vem logo atrás. Está tudo pronto para que se dê início à festa.
Cabe a Ho Chio Meng e a Lai Kin Hong vivificarem dois dos três leões que vão dançar. Dentro destes dois bichos coloridos estão quatro reclusos. Não deixa de ser irónica a vivificação feita pelas personalidades a quem compete acusar e, por vezes, condenar à vida atrás das grades.
No momento em que as duas personalidades se levantam, um grupo de guardas prisionais aproxima-se, não vá o diabo tecê-las. Na janela que dá para o pátio, também ela com grades, estão a postos 18 elementos do corpo de segurança do EPM, munidos de escudos como nas guerras dos filmes. Cá em baixo, ao sol de Inverno que põe os corpos a transpirar, Ho e Lai pintam os olhos dos leões que, assim, passaram a ter vida. O único incidente a registar foi a queda de um dos bichos, no momento das acrobacias mais arriscadas, em cima das estruturas onde dançaram.

Nova prisão só em 2011

Uma das reclusas que segura o tabuleiro com a tinta e o pincel para a vivificação dos leões sobressai entre as restantes. Tem o cabelo claro e é mais alta, os olhos rasgados mas claros. No conjunto de homens e mulheres vestidos mais ou menos de igual, destacam-se etnias e adivinham-se origens, imaginam-se as razões porque ali estão. Não há outro contacto que não o visual (ao longe), e não há nomes, reais ou fictícios, apenas números.
Neste momento, estão 113 estrangeiros na prisão de Coloane. Além desta mulher de cabelos claros e de porte altivo, ligeiramente alienado, estão ali outras 21 reclusas de origens diversas. Os restantes 91 estrangeiros são homens e, pela amostra vista na festa, deverão ser essencialmente de origem africana.
Numa comparação com os números do ano passado, verifica-se um aumento de 1,4 por cento na comunidade estrangeira residente no EPM. Entre 2007 e 2008, a prisão passou a ter mais cem reclusos no total. O director da instituição garante que a lotação ainda não está esgotada: o edifício tem capacidade para 1100 pessoas.
Há muito que se fala na necessidade de um novo estabelecimento prisional de Macau e é um dos temas clássicos do encontro do director do EPM com os jornalistas, durante o intervalo da festa. Este ano, ficou-se a saber que o início da edificação da nova prisão deverá estar para breve, ainda durante 2009. “As Obras Públicas estão a fazer o trabalho e o concurso vai ser lançado em breve”, explica Bernard Lee Kam Cheong.
As razões para os atrasos da construção do novo complexo, que será em Ka Ho, são duas: por um lado, foram feitas alterações ao projecto; por outro, diz o director, “as Obras Públicas estiveram ocupadas durante estes anos” com a construção de outras infra-estruturas. É mais uma situação de alguma ironia.
A nova prisão será feita a pensar em 1500 reclusos, mas terá capacidade para acolher três mil, caso haja necessidade. Deverá estar concluída lá para 2011, esclareceu o director.
Quando mudarem de instalações, os guardas prisionais terão um centro para treino dentro do complexo, que será organizado com base no conceito de controlo por unidade. Desdobrando a ideia, cada ala terá serviços próprios para os reclusos que a ocupam.
Profissionais de diferentes áreas que trabalham de perto com detidos e prisioneiros garantem que já estiveram em prisões piores, mas certo é que aquilo que é dado a ver das actuais instalações permite concluir que o espaço precisa de melhorias.
Os 912 reclusos (320 ainda em prisão preventiva) dividem-se por celas de uma, quatro e doze pessoas – “as grandes”, sublinha Bernard Lee. Os prisioneiros são agrupados tendo em conta diversos critérios: sentença proferida, tipo de crime, grau de violência, idade, nacionalidade e língua materna.

Quebrar a monotonia

Enquanto o director fala com a comunicação social, a festa continua, uns pisos mais acima. A avaliar pelo programa, deve estar já na hora de atribuir os prémios aos concorrentes de uma competição de danças.
O espectáculo é todo ele preparado pelos reclusos: a banda no palco ao fundo do recinto é com gente da casa, os apresentadores e apresentadoras também. Os trajes que usam destoam dos restantes companheiros de desventura, que não vestiram as roupas domingueiras para a festa.
Depois de um “Sole Mio” em mandarim cantado à capela, entram na área reservada ao espectáculo 25 reclusos (homens e mulheres) vestidos à Bruce Lee. Demonstram que ensaiaram bem os gestos e passos da “nam kun”, arte marcial indicada no programa. Ao fundo vê-se a mulher de cabelos claros, a única não chinesa a alinhar no conjunto. Na primeira fila, sobressai um recluso que, pela segurança dos gestos e a convicção dos músculos, não deve ser iniciado nestas lides orientais.
Chega a hora da dança. O primeiro grupo a entrar em palco podia ser do edifício ao lado, o Instituto de Reinserção de Menores, mas não é. São sete meninas muito jovens que ensaiam uns passos de dança jazz ao som de cantopop. Fazem lembrar festas de adolescentes em liceus.
O grupo que se segue, todo ele constituído por homens de diferentes etnias, motivou uma maior euforia entre a audiência. Ao som de uma música com uma sonoridade africana, dois negros, um árabe e um chinês demonstram que os ritmos são universais. Uma quinta figura masculina mascarada de mulher entra em palco e provoca o riso entre a plateia de farda beije. Os fotógrafos oficiais não se cansam de apontar as objectivas aos convidados de honra.
A avaliação dos grupos de dançarinos é feita pela primeira fila de convidados, onde estão sentados o procurador da RAEM e o presidente do Tribunal de Segunda Instância. A alguns metros de distância, dois palhaços bem maquilhados participam também na votação, para ajudarem à festa e lançarem alguma confusão nas contas.
Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM), foi uma das pessoas convidadas para assistir. “São iniciativas positivas, que permitem aos reclusos terem um dia diferente, para quebrar a monotonia”, disse o responsável ao PONTO FINAL, umas horas depois da festa ter acabado.
Nesta celebração aberta aos jornalistas e com a televisão presente só participa quem quer, assegura o EPM. Os que preferiram ficar na cela têm a hipótese de escolher entre os outros dois dias de festa, longe das objectivas oficiais e da câmara da TDM. Nunca a prisão teve tantas figuras públicas dentro das suas paredes como este ano.
Atendendo a que a privacidade está protegida, o presidente da ARTM não encontra qualquer problema quanto à exposição dos presos. “É sinal de que não há nada a esconder. Partimos do princípio de que se abrem as portas à comunicação social e a outras pessoas é para que possam ficar com uma ideia do que está lá dentro”, diz. E o que ali está, garante, “não tem nada a ver com outras prisões do mundo, onde a vida é bem mais difícil e o ambiente mais agressivo.”

A refeição especial

Junto às quatro casas de banho portáteis, de cor azul-choque, colocadas numa das extremidades do recinto, aumenta o vaivém de reclusos, que se dirigem para uns bastidores improvisados. Dali vão saindo caixas de esferovite com uma refeição que é especial por ser de festa.
O manjar é da iniciativa da Caritas, co-organizadora do evento. “Esta festa anual tem o objectivo de manifestar o apoio e a atenção da sociedade e do EPM às pessoas condenadas, a fim de fortalecer a sua confiança na reinserção social”, lê-se numa nota distribuída aos jornalistas. Já Augusto Nogueira destaca que, por ser nesta altura do ano, a celebração demonstra “respeito pelas tradições e cultura” dos reclusos.
Aproxima-se a hora do intervalo e os jornalistas são convidados a descer para o encontro com o director. De novo as escadas, os acessos para as celas, as paredes desbotadas e o odor característico de uma casa sem janelas. Aqui não vivem só condenados e o número de detidos preventivamente aumentou. No final de 2007, eram 208 as pessoas que aguardavam por julgamento. Decorrido exactamente um ano, passaram a ser 320.
Em resposta a um jornalista, Bernard Lee garante que, nos últimos nove anos, “esforçámo-nos na formação do pessoal para que cumpram as regras e não tenham comportamentos de corrupção”. O director do EPM explica que a instituição tem uma relação estreita com o Comissariado contra a Corrupção na formação dos guardas e na investigação de eventuais casos.
A propósito de pessoal, Lee avança que estão a ser formados 23 guardas prisionais de origem vietnamita, sendo que está para breve o início do recrutamento para mais um curso. “Como temos mais actividades e fornecemos mais serviços, precisamos de mais recursos humanos.”
Houve quem quisesse saber como está a acontecer a transferência de reclusos para Hong Kong, ao abrigo do mecanismo relativamente recente que permite aos residentes da antiga colónia britânica cumprirem as suas penas mais perto da família. Até agora, explicou o director, foram transferidos 24 presos, sendo que ainda cá estão 57. No sentido oposto não se contabilizou um único.
Trocam-se os cartões da praxe e a visita fica por aqui. À saída ainda se ouvem música e palmas oriundas lá de cima, do espaço de recreio. Os jornalistas têm ordem de soltura. Para o ano há mais do mesmo.

Editorial

Censura

As alterações introduzidas na versão chinesa do discurso de tomada de posse de Barak Obama são o perfeito exemplo de como, às vezes, o remédio é pior do que a doença. Se as referências aos que fizeram frente ao comunismo e ao fascismo e a chamada de atenção para os governos que perseguem as vozes dissidentes tivessem sido mantidas, o seu efeito junto da população chinesa seria praticamente nulo.
Por outro lado, a eficácia deste corte é mais do que discutível, quando se sabe que a versão inglesa do discurso de Obama circulou livremente pela Internet, sem que os censores de serviço tenham tomado qualquer iniciativa para o impedir. Em relação à versão chinesa, provavelmente tratou-se de um caso típico em que um obscuro burocrata se viu chamado a decidir, numa matéria que requeria alguma sensibilidade política.
O episódio é demonstrativo da dificuldade crescente do governo de Pequim em colocar restrições à livre discussão e debate de ideias. O facto de permitir que o texto em língua inglesa fosse divulgado na íntegra terá sobretudo a ver com a impossibilidade de impedir que milhões de cópias de publicações estrangeiras, que todos os dias circulam no país, chegassem aos seus destinatários.
Este é, sem dúvida, um dos dilemas que a China tem que enfrentar, a curto prazo. A livre circulação de informação é uma das chaves para o desenvolvimento científico e tecnológico de qualquer país. Tentar limitá-la e filtrar o natural debate de ideias que ela arrasta consigo, acaba por ter custos superiores aos eventuais benefícios que daí resultem. Tapar o sol com uma peneira nunca foi grande solução.

Paulo Reis

Nº 1707 - Quarta-Feira 21 de Janeiro de 2009

Exposição de fotografias inaugurada ontem

Instantâneos (também) lusófonos

O Carmo recebe, desde ontem, uma exposição de fotografias alusivas ao último Festival da Lusofonia. Uma oportunidade para rever alguns dos melhores momentos do verdadeiro encontro de culturas que ocorreu junto às Casa-Museu da Taipa.

Rui Cid

Mais do fazer uma retrospectiva da festa lusófona de Novembro, através de instantâneos de alguns dos melhores momentos vividos no Carmo ao longo de uma semana, a exposição de fotografias alusivas ao Festival da Lusofonia, ontem inaugurada, é, nas palavras de Rita Santos, uma forma de "transmitir a mistura de culturas que existe em Macau".
Discursando perante uma mais de vintena de convidados, nas instalações da Casa Museu, no Carmo, a coordenadora do Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum de Macau enalteceu o trabalho dos fotógrafos que "souberam expressar a alegria, amizade e união entre as comunidades participantes no Festival, incluindo a chinesa, que espelham Macau como plataforma das relações culturais entre a China e os Países de Língua Portuguesa".
Na origem da exposição esteve um desafio, em forma de concurso, lançado em conjunto pelo Secretariado Permanente do Fórum de Macau, IACM e Associação de Fotografia Digital, com o objectivo de envolver a população do território no Festival da Lusofonia.
Na mostra estão patentes 43 fotografias, seleccionadas entre as mais de 250 que chegaram às mão do júri. Destas, 14 obras mereceram destaque, tendo o júri atribuído, além dos prémios para os três melhores trabalhos, 10 menções honrosas. Paralelamente, a Associação de Fotografia Digital distinguiu a melhor obra entre todas as que foram apresentadas pelos seus associados.
A grande maioria dos fotógrafos optou por captar instantâneos dos diversos concertos realizados entre 3 e 9 de Novembro no Carmo, mas os momentos de convívio entre as diferentes comunidades, lusófonas e chinesa, proporcionaram igualmente fotografias de belo efeito. O grande vencedor acabou por ser Kong Chan Vai, com uma fotografia da actuação do grupo português Xaile.
Aos jornalistas, depois de ter recebido das mãos de Rita Santos um cheque de 4 mil patacas, "que será investido em equipamento", o fotógrafo salientou a importância deste tipo de eventos, considerando que são "um incentivo para o futuro".
As fotografias estarão em exibição nas Casa-Museu da Taipa, na zona do Carmo, até 15 de Fevereiro, das 10 às 18 horas, de terça a domingo, de forma a aproveitar a presença no território de milhares de turistas devido às festividades do novo ano lunar.

Deputados e Florinda Chan debatem regulamentação do Artigo 23º em sede de comissão

Governo vai ponderar reduzir a pena mínima

É uma das questões que mais polémica tem gerado na sensível regulamentação do Artigo 23º da Lei Básica. Há quem ache curta a moldura penal para os crimes mais gravosos previstos na lei. Ontem, o Governo prometeu pensar numa diminuição da pena mínima. Fong Chi Keong não ficou por aí além convencido.

Isabel Castro

Foram três horas e trinta minutos para debater os primeiros quatro artigos do diploma sobre a defesa da segurança do Estado. Pelas palavras do presidente da comissão que está a estudar a proposta de lei, Fong Chi Keong, não deverá ter sido uma reunião fácil. Alguns deputados insistiram nas críticas; o Executivo defendeu a sua dama.
“Quanto às opiniões transmitidas pelos deputados, a resposta do Governo não variou muito daquelas que estão no relatório sobre a consulta pública”, explicou Fong, instado a comentar a postura de Florinda Chan. “A postura do Governo consiste em insistir na sua posição”, continuou. “Prestou muitos esclarecimentos, dizendo que as normas estão em conformidade com os princípios do Código Penal.”
Da discussão da tarde de ontem, disse ainda o deputado, ficou ainda “a impressão de que o Governo não vai introduzir grandes alterações”. Mais directo seria difícil: “Se Executivo cedesse às nossas sugestões, não teríamos que despender três horas e meia para discutir quatro artigos”.
A maior vitória dos deputados que estão preocupados com alguns detalhes do articulado (grupo onde Fong Chi Keong não parece estar incluído) terá sido mesmo a promessa feita por Florinda Chan relativamente à possibilidade de se diminuir a pena mínima para os três crimes mais gravosos contemplados pela lei.
De acordo com a proposta em cima da mesa, a pena mínima de prisão é de 15 anos (e a máxima de 25) para três das condutas criminosas contempladas pelo diploma: traição à pátria, secessão e subversão contra o Governo Central.
Há deputados que entendem que esta moldura penal não dá ao aplicador grande flexibilidade. E outros argumentam que até na China, onde a pena máxima é perpétua para este tipo de crimes, a mínima é de 10 anos, ou seja, menos cinco do que aquela que se quer fazer vigorar em Macau.
“O Governo concorda em ponderar baixar o limite mínimo para os 10 anos. Vai pensar, mas não há ainda uma decisão concreta”, realçou o presidente da segunda comissão da Assembleia.

Deputados participativos

Além dos artigos que criminalizam a traição à pátria, a secessão e a subversão contra o Governo Central, a longa reunião serviu apenas para analisar a norma respeitante ao crime de sedição.
De um modo geral, explicou Fong Chi Keong, “há deputados que entendem que a redacção não é clara”. Depois há divisões mais profundas entre os membros da Assembleia Legislativa, e que já se prendem com questões de filosofia penal.
“A maioria dos deputados concorda com as normas, mas há outros que têm uma posição contrária por entenderem que viola direitos fundamentais, nomeadamente o direito à liberdade de expressão.” Fong garante que todos estes receios constarão do parecer a enviar ao plenário.
Quanto ao Governo, “esclareceu a sua intenção legislativa”, apoiou-se nas normas já em vigor em Macau (quer as do Código Penal, quer de leis de natureza semelhante em termos de gravidade penal, como o diploma de combate ao terrorismo), e reiterou que os direitos fundamentais não são postos em causa pela regulamentação do Artigo 23º.
Da discussão em pormenor fez parte a expressão “outros meios ilícitos graves”, e isto porque há deputados que entendem que no rol de punições devem deixar de constar “actos que destruam meios de transporte”. “O Governo não parece ter intenção de o fazer”, declarou Fong.
Falou-se ainda dos actos preparatórios e “o Governo deu vários exemplos para explicar o que são.”
Já no artigo sobre os actos de sedição, que se aplicará a quem “pública e directamente incitar” à pratica dos três crimes mais gravosos, alguns deputados exigiram explicações sobre a expressão que constitui requisito para aplicação da lei. “O Governo disse que essa norma está em conformidade com os crimes de incitamento e de instigação do Código Penal”, relatou o presidente da comissão.
Para hoje está marcada nova reunião e Fong acredita que será possível concluir o debate com o Executivo, pelo menos nesta fase preliminar de negociações com o proponente. “Tudo o que for discutido vai constar do nosso parecer”, prometeu.
No encontro de ontem participaram seis deputados que não pertencem à segunda comissão, sendo que a presidente da Assembleia, Susana Chou, também esteve presente. Diz Fong Chi Keong que a reunião foi animada e os deputados muito participativos.

Eleição do Chefe do Executivo cada vez mais presente na imprensa em língua chinesa

Ho Chio Meng não revela vontades

Desde a visita do vice-presidente da China a Macau que o assunto tem vindo a ser abordado com maior insistência na comunicação social da RAEM. Depois de ter feito uma análise à duração dos apertos de mão Xi Jinping para chegar à conclusão de que o barómetro nada revelou sobre o preferido de Pequim, o jornal Ou Mun voltou ontem a escrever sobre o mistério político do ano.

Isabel Castro

Parece que finalmente a questão começa a estar presente com regularidade na imprensa em língua chinesa do território. Dizia o Ou Mun na sua edição de ontem que a questão “quem vai ser o próximo Chefe do Executivo” se transformou num tema “quente” na cidade nos últimos tempos.
Explica ainda o matutino editado em Macau com maior número de leitores que os jornalistas locais não desperdiçam as oportunidades que têm quando se depararam com um candidato a candidato. Os microfones e gravadores são de imediato encostados aos “preferidos”.
Depois de Chui Sai On ter sorrido perante a perspectiva e ter preferido não tecer comentários sobre a matéria, durante a sua deslocação a Sichuan, esta semana chegou também a vez de Ho Chio Meng ser confrontado com a hipótese.
O encontro da comunicação social com o Procurador da RAEM aconteceu durante a recepção de Primavera oferecida pelo Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM e não foi muito produtiva em termos de pistas. Ho evitou os jornalistas e contornou a questão.
A ocasião serviu para juntar no mesmo espaço muitas personalidades políticas mas todas elas, realça o matutino, se mantiveram caladas em relação ao assunto. “Não há mais nada a fazer do que continuar a adivinhar”, constata o Ou Mun.
A abordagem a Ho Chio Meng parece não ter surtido grande efeito. O procurador da RAEM limitou-se a indicar que pretende fazer um bom trabalho (não precisou em que campo, se no judiciário, se no político) e desejou aos jornalistas que o rodeavam um bom ano novo.
Sem sucesso foi também a investida feita a Bai Zhijian, responsável máximo do Gabinete de Ligação. Os seguranças protegeram-no do contacto mais próximo com os jornalistas e ele nada disse sobre a incógnita política de Macau, relata ainda o Ou Mun.
Dificilmente Bai se pronunciaria sobre uma matéria que, em termos muito práticos, está dependente de Pequim, mas que na perspectiva política e constitucional diz respeito, antes de tudo, a Macau enquanto região administrativa especial.
Mas, para a comentadora política Agnes Lam, que em declarações recentes a este jornal se pronunciou sobre o assunto, é bem provável que Pequim seja o responsável por este silêncio. “Talvez o Governo Central não queira que os nomes sejam conhecidos publicamente cedo, porque ainda existe um ano para gerir e não é desejável ter um Governo que nada faça e fique a observar quem vem a seguir”, disse.
O nome de Ho Chio Meng para candidato a Chefe do Executivo foi uma das apostas feitas pelo jornal Va Kio no ano passado, num artigo assinado por Ng Chan, um dos mais influentes analistas da imprensa local.
O procurador da RAEM granjeou importância política com a bem sucedida acusação contra o ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, sendo visto por muitos como uma garantia de sociedade “íntegra” e correcta”.
Desconhecem-se apoiantes seus que demonstrem essa posição em público, à excepção do deputado Pereira Coutinho, que deixou já transparecer que a ideia de Ho suceder a Edmund Ho não lhe desagrada, principalmente por se tratar de uma figura com um enquadramento académico na área do Direito.
Ho Chio Meng nasceu em 1955 e é procurador da RAEM desde a transferência de administração. Natural de Macau, Ho foi viver para a China com a família em 1958. No Continente, ocupou vários postos governamentais.
Estudou Direito na Universidade de Ciência Política e Direito na província de Guangdong entre 1979 e 1983 e, mais tarde, foi para Pequim fazer o doutoramento.
Ho foi juiz no Tribunal Superior Provincial de Guangdong de 1987 a 1990, ano em que regressou a Macau, para pouco tempo depois ir para Coimbra estudar Direito português. Regressou ao território em 1993.


Apoio à província de Sichuan

Trabalhos de reconstrução vão ser acelerados

O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Chui Sai On, reuniu ontem com o secretário do comité de Sichuan, Liu Qibao, num encontro onde foi feito o ponto da situação em relação ao apoio de Macau às obras de reconstrução daquela província, afectada pelo tremor de terra de Maio do ano passado.
Durante a reunião, Liu Qibao referiu que o governo deseja imprimir maior rapidez aos trabalhos de reconstrução, sem prejuízo da segurança, de forma a que 80 por cento dos projectos fiquem concluídos nos próximos dois anos. As propriedades actuais, de acordo com aquele responsável, estão dirigidas para a recuperação de escolas, hospitais, redes de abastecimento de água e energia eléctrica, entre outros.
Chui Sai On, por seu lado, referiu que todos os 17 projectos da primeira fase de apoio à reconstrução por parte da RAEM se concentram na zona de Guangyuan, tendo sido assinados agora mais seis acordos. O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura afirmou ainda que a comissão de apoio à reconstrução das zonas afectadas irá convocar uma reunião, após o seu regresso a Macau, de forma a optimizar o plano de reconstrução e acelerar o processo.

Michael Roskin, politólogo norte-americano radicado em Macau, analisa tomada de posse de Obama

“A cultura de Washington vai ser mais civilizada”

A crise ajudou-o a chegar à Casa Branca. A crise é a pedra mais difícil de tirar do sapato. No primeiro dia de Barack Obama à frente do destino dos Estados Unidos da América, o PONTO FINAL pergunta ao politólogo norte-americano Michael Roskin de que forma vai o seu país mudar.

Isabel Castro

Foram umas eleições vividas com expectativas que muitos entenderam ser desmesuradas. Agora chegou a hora de se ver até que ponto a esperança Obama vai ter efeitos práticos visíveis. Os Estados Unidos da América empossaram o seu primeiro Presidente negro. O homem que prometeu mudança terá muito com que se ocupar durante os seus próximos tempos na Casa Branca.
Para Michael Roskin - norte-americano residente em Macau que até já foi republicano mas que, em Novembro passado, votou no democrata -, a crise financeira que entretanto se agudizou será o principal obstáculo a um comando sereno do novo Presidente. Foi a crise que lhe abriu as portas, mas agora terá que saber lidar com ela.
“As expectativas em torno de Obama foram potenciadas pela crise económica, e foi isto que lhe permitiu ter aquela margem de vitória. McCain não foi capaz de se distanciar o suficiente dos fracassos de Bush”, recorda o professor de Ciência Política, em declarações ao PONTO FINAL.
Roskin vinca que “os americanos têm razões concretas para estarem assustados e temerem perder os empregos, as casas, as pensões”. E aqui surge o primeiro problema de Obama: “O problema é que os americanos podem estar à espera de mais do novo Presidente do que deviam. Com certeza que as expectativas vão diminuir.”
Para que tal não aconteça, pelo menos de forma dramática, Michael Roskin aconselha Obama a dar grande importância à saúde da banca, no que às prioridades de política interna diz respeito.
“A prioridade deverá ser fazer com que o bancos voltem a conceder empréstimos. Muitos deles olham para os clientes como sendo pessoas nas quais não podem confiar; os bancos temem perder ainda mais dinheiro.”
O professor defende que a nova legislação sobre a matéria deve exigir aos bancos que declarem os empréstimos não devolvidos, “mesmo que tal signifique admitir prejuízos terríveis”. Roskin dá o Japão como exemplo: “Hesitou durante anos antes de obrigar os bancos a adoptarem este procedimento, e desperdiçou uma década em recessão económica”.
Este tipo de medida deve servir para que “os bancos fracos possam ser nacionalizados e serem gradualmente vendidos ao sector privado”. Quanto aos “bancos razoavelmente saudáveis”, diz o professor da Universidade de Macau, “podem levar uma injecção de capital público de modo a que voltem a conceder empréstimos”.

Feitiço contra ao feiticeiro?

Quanto à postura dos Estados Unidos para o exterior, Michael Roskin entende que “sair do Iraque, como prometido”, deve ser o primeiro passo a dar por Barack Obama. Para que o feitiço não se vire contra o feiticeiro.
Embora numa fase final da campanha tenha sido a crise financeira o grande motor de obtenção de votos, a verdade é que a postura do candidato democrata em relação ao conflito no país que um dia foi de Saddam Hussein contribuiu em muito para a popularidade do recém-empossado Presidente, entre certos grupos da sociedade norte-americana.
“Ficar no Iraque pode transformar-se na guerra de Obama. Ao general David Petreaus devem ser dados dois anos para pôr em prática as suas estratégias no Afeganistão, e depois devemo-nos retirar mesmo se a situação continuar instável.” É que, realça o politólogo, “o Afeganistão está agora a transformar-se numa situação pior do que o Iraque”.
As expectativas em torno do reinado Obama são grandes, mas afinal o que vai mudar? “Várias políticas vão ser alteradas, mas não de forma drástica.” Ou seja, amanhã o dia vai ser mais ou menos igual ao de hoje. Mas com o passar do tempo as mudanças vão começar a fazer-se sentir, assegura Roskin.
“A cultura de Washington vai ser mais civilizada e polida. Os americanos têm agora um presidente inteligente, educado e eloquente, que eleva o tom do discurso público. Muita da força de Obama é psicológica, ao escolher o tom certo. É mais isso do que quaisquer políticas especiais”, conclui.

Teses para reformular

Para a Ciência Política, a eleição de Barack Obama é, por si só, um verdadeiro “case study”, cujos efeitos já se fazem sentir. Há teses e teorias para refazer, perante o contexto da eleição do primeiro Presidente afro-americano. “Era algo impossível há 20 ou 30 anos”, salienta Michael Roskin que, ainda antes do dia das eleições, se começou a debruçar sobre a influência da raça no comportamento do eleitorado norte-americano.
“Os académicos da Ciência Política devem reavaliar as teorias que indicam que a raça tem um papel determinante na política norte-americana. Os eleitores mais jovens deram início a uma nova era.” Não que o racismo no país tenha desaparecido. “Continua a haver, agora concentrado no Partido Republicano, mas cada vez menos.”
A maioria dos norte-americanos diz que “a raça interessa menos do que o carácter, o intelecto e a capacidade de tomar decisões”, indica o politólgo. As eleições demonstraram que este discurso se traduz em termos práticos.
Posto isto, há que esperar para ver do que o novo Presidente é capaz. “O meu grande medo é o de que Obama seja assassinado”, remata o docente.

César Nuñez, investigador do Instituto Ricci, em entrevista ao PONTO FINAL

“Os velhos edifícios de Macau têm maior significado para a comunidade”

Em 1835, um violento incêndio foi responsável pela destruição, quase na íntegra, da Igreja de São Paulo. O que restou foi uma fachada, recuperada, então, por artistas chineses e japoneses. E que hoje acolhe milhares de visitantes, além de figurar em todos os livros e sites da Internet sobre o território. Detentora de uma aura de romantismo, inerente a todas as ruínas, a fachada acaba por contagiar hordas de turistas. E o edifício inicial, como era? Da autoria de César Nuñez, é hoje apresentado, às 18h30, no Instituto Ricci, o livro “A Igreja de São Paulo: Um Resquício da Arquitectura Barroca na China”. A introdução está a cabo do arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro, e versa sobre “Os Três Encontros Históricos entre o Ocidente e o Oriente”.

Luciana Leitão

PONTO FINAL - Pode dizer-se que as Ruínas de São Paulo são o único exemplo de arquitectura barroca na China?
César Nuñez – É, pelo menos, o único exemplo que ainda existe de arquitectura barroca. E não é muito, pois não? É apenas uma fachada e umas ruínas que foram desenterradas do Colégio, ali perto. É o único exemplo e, na minha opinião, o mais importante alguma vez construído na China. Havia outra igreja em Pequim, de Adam Schall, que, segundo as fontes, se tratava de um exemplo do estilo Barroco. Na realidade, foi completamente destruída e não sabemos como se parecia. Pode, inclusivamente, ter sofrido uma maior influência do Maneirismo tardio.
- Que características são essas que lhe permitem afirmar que a Igreja da Madre de Deus – ou de São Paulo - constituía um exemplo da arquitectura barroca?
C.N. - Para um historiador de arte, o Barroco surge depois do Maneirismo do século XVI. Os historiadores de arte estudam esta mudança há já muitos anos – alguns aceitaram imediatamente, outros nem tanto. Contudo, acho que nesta altura, já está praticamente assente que houve um estilo Barroco. Se formos a Itália, o seu berço, encontramos as características do Barroco. No caso da Igreja de São Paulo, atente-se ao grande luxo da decoração. Aliás, a fachada é um bom início do estudo do que a Igreja de São Paulo tinha de Barroco. E, possivelmente, algumas partes do Colégio. Vemos uma rica e esplêndida decoração – muito diferente do Maneirismo, do século XVI, mais austero. Aliás, a fachada é uma ruína, não vemos tudo – temos de estudar através das fontes. É por isso que podemos dizer que aquele tipo de decoração fazia parte do desejo de construir algo rico, luxuoso e emocional, só para impressionar. Se olharmos para um edifício maneirista em Portugal e em Espanha, é bastante discreto. O Barroco é o oposto – é um edifício que grita para ser visto. Toda a gente fica espantada com o esplendor. Se for à Basílica de São Pedro, em Roma, fica espantada. E é isso que os arquitectos pretendiam. Parece-me que a Igreja de São Paulo tinha tais qualidades, apesar de datar de uma fase inicial do estilo Barroco.
- Tendo em conta que foi construída em Macau, a Igreja de São Paulo devia ter algumas características asiáticas. Quais?
C.N. - Até há bem pouco tempo, as pessoas olhavam para o território como se fosse um pedaço do Ocidente – uma parte de Portugal -, e quando se falava sobre as igrejas da China não se incluía Macau. Porém, mudámos a nossa perspectiva. As escolas de artistas que se encontravam aqui eram oriundas da China – algumas vinham, inclusivamente, do Japão. E isso é visível no estilo da fachada. Ali pode ver-se o trabalho destes artistas chineses e japoneses.
- Depois do incêndio que ocorreu em 1835, apenas sobrou a fachada do edifício, que foi alvo de algum trabalho de restauração. De acordo com o que estudou, a própria fachada ficou muito diferente do que inicialmente era?
C.N. - É autêntica. Claro que algumas coisas desapareceram – sabemos, por exemplo, que a Virgem estava junto à lua. Onde está a lua? Já olhei com muito cuidado para lá e estive à sua procura. É difícil ver, mas estava lá. E devem existir outras coisas que foram destruídas com o incêndio. Porém, o que resta é bastante autêntico. Claro que, por detrás da fachada, já nada existe. O que me espanta é que, em todas as fontes que já li, há pouca descrição do que lá existia. Todos dizem que foi muito trágico, mas poucos descrevem o que é que foi destruído com o fogo. Não descrevem. Por isso, temos de pesquisar bastante, junto das fontes.
- Tendo em conta que a Igreja foi, quase na totalidade, destruída, também teve de recorrer à imaginação na sua investigação. Foi um processo difícil?
C.N. - Na realidade, a imaginação tem um papel residual. Procurei, em tudo o que digo, qualificar, referenciando uma fonte. De preferência, primária. Mas também há fontes secundárias de muito valor. As fontes primárias são documentos redigidos na mesma época do edifício. Quanto às secundárias, são escritos que datam de um período mais tardio - inclusivamente, dos dias de hoje -, que olham para esta construção, estudam-na e preenchem as lacunas.
- Sendo actualmente um local de peregrinação de milhares de turistas, teme que estas circunstâncias possam contribuir para a degradação da fachada?
C.N. - Pode dizer-se que essa questão não se coloca, por ser no exterior. Alguns edifícios históricos têm um problema – se for, dentro de portas, o hálito de milhares de turistas pode afectar a construção. A humidade que o corpo cria pode também afectar. Contudo, a fachada do edifício pode ter mais problemas com a natureza. Há pássaros em cima da estátua da Virgem Maria – não saem. Parece que gostam da estátua da Virgem Maria e de um dos santos. Dada a afluência de turistas, o que poderia estar mais em risco é o museu das Ruínas de São Paulo. É muito pequeno para as hordas de turistas, pode afectar as pinturas. Mas não a fachada. Claro que um restaurador poderá dizer-lhe o contrário, mas esta é a minha opinião.
- Depois do incêndio de 1835, não havia qualquer possibilidade de reconstrução do edifício?
C.N. - É muito difícil regressar ao passado e conseguir captar a imagem, especialmente num edifício tão especial como aquele. Por vezes, conseguem-no. Por exemplo, a Alemanha está cheia de edifícios que foram destruídos durante a Guerra – muitos datavam do século XIX. Contudo, estavam bem registados, havia plantas, fotografias, tinham descrições completas. Dados que não existiam no caso da Igreja e do Colégio de São Paulo, o que torna difícil perceber como era o edifício. Não podemos inventar. Isso é muito perigoso. Talvez seja por isso que ninguém tentou fazê-lo. Vamos ter uma conferência no Instituto Ricci, e penso que o arquitecto Francisco Pinheiro vai mencionar o nome de alguém que tentou fazer uma nova igreja, usando a fachada. Contudo, penso: Um edifício tão único como aquele – como é que se pode recriar, usando apenas uma parte? Isso iria obliterar ainda mais a memória de como aquele edifício terá sido. Pelo menos, temos a memória.
- O que faz desta fachada tão única?
C.N. - Na minha opinião, o que a torna única é o facto de ser um primeiro exemplo daquilo a que chamo uma fachada-retábulo [construção que, normalmente, se eleva da parte posterior do altar e que encerra geralmente um quadro religioso]. Mas há outras coisas, que já mencionei, como o facto de marcar o início do estilo Barroco, na China, sendo que os Jesuítas, os europeus e os portugueses tiveram a confiança para construir uma igreja deste género. Isso torna-a muito especial.
- As ruínas da Igreja de São Paulo constituem hoje a imagem mais característica de Macau. Parece-lhe que, por ser o resquício de um incêndio, e por se tratar apenas da fachada, tornou-se, hoje em dia, ainda mais especial do que o edifício original?
C.N. - Pergunto-me se alguma vez conseguirá substituir o edifício original, que toda a gente diz que era incrível. Por exemplo, um inglês que se deslocou a Macau no século XVII, e que é bastante conhecido dos historiadores, declarou ter ficado perfeitamente extasiado com o que viu. O que a actual fachada possui é a aura romântica típica de quaisquer ruínas – que faz com que as pessoas contemplem e pensem quão triste e transitória é a vida. Algo que a verdadeira igreja nunca poderia ter. Se for um romântico, então talvez a fachada seja melhor do que o edifício verdadeiro.
- A Igreja de São Paulo é o último símbolo de poder dos Jesuítas em Macau?
C.N. - Sim. Ainda bem que usou a palavra poder, de forma tão aberta. Foi realmente um símbolo de poder dos Jesuítas e da Igreja. Eles estavam muito convencidos de que estavam a trazer a verdadeira fé ao Extremo Oriente. Mas não devemos exagerar... Está mais relacionado com o triunfo da Igreja Católica Romana.
- Enquanto historiador de arte, como vê a evolução das construções de Macau?
C.N. - Não estou propriamente muito qualificado para falar sobre isso, porque não sou um historiador de arte moderna. Contudo, é um período diferente, que diz muito pouco do que Macau foi um dia. Aliás, pode tirar qualquer um dos casinos e inseri-los, por exemplo, no Tibete. Continuariam a ser edifícios importantes, mas não teriam qualquer carácter. O mesmo sucede em Macau – não dizem muito sobre o território, apenas que tem muito dinheiro e que se tornou um destino turístico. Mas não é a mesma coisa – os velhos edifícios de Macau são mais autênticos, têm maior significado para a comunidade e em termos de arquitectura.


Pais de crianças contaminadas apresentam queixa

Escândalo da melamina em tribunal

Mais de 200 famílias cujos bebés adoeceram depois da ingestão de leite tóxico, contaminado com melamina, anunciaram que vão levar o caso ao Supremo Tribunal por terem sido ignoradas por tribunais de primeira instância.
A acção nos tribunais, que envolve 213 famílias, desafia as tentativas do governo chinês de pôr fim a uma das piores crises de segurança alimentar do país e a um dos maiores escândalos mundiais com produtos "made in China".
O escândalo do leite contaminado com melamina, um químico industrial, causou a morte a seis crianças e intoxicou cerca de 300 mil.
No conjunto, cerca de 294 mil crianças tiveram de receber tratamento hospitalar por complicações urinárias, incluindo pedras no rim.
As 22 empresas lácteas implicadas no escândalo do leite adulterado com melamina propuseram um plano de compensações de 1.1 mil milhões de yuan (160 milhóes de dólares) mas muitos pais querem indemnizações mais elevadas e assistência médica a longo prazo para os filhos.
"A razão porque levo este caso a tribunal não é por causa do dinheiro mas pensando no futuro do meu filho", disse Zhang Ge, uma mãe solteira em Pequim que deixou o trabalho para tratar do filho doente.
O procurador-geral de Pequim, Xu Zhiyong, disse que os advogados das famílias enviaram hoje o caso ao Supremo para processar as empresas de lacticínios.
Mas parece pouco provável que o Supremo julgue o processo, uma vez que os tribunais de pequena instância recusaram até agora uma dúzia de acções sobre este escândalo com repercussões políticas tão sensíveis.
O governo e as companhias lácteas tinham esperança de que o esquema de pagamentos abrandasse a ira pública mas tal não sucedeu.
Xu disse que o processo enviado ao Supremo pede uma compensação de 36 milhões de yuan (5.3 milhões de dólares) para as famílias, além do pagamento das despesas médicas ligadas aos problemas de saúde que as vítimas terão para o resto das suas vidas.
A melamina, um químico usado para fabricar plásticos e fertilizantes, pode causar complicações urinárias, pedras no rim e paragem renal.
Pelo menos três das mortes ocorreram entre Maio e Agosto, nas províncias de Gansu e Zhejiang.
Foi um dos maiores escândalos do género na China e alem de ter afectado a reputação de toda a indústria chinesa de lacticínios, evidenciou as debilidades do país em matéria de controlo alimentar.
"A recente questão de segurança dos produtos lácteos mostra que o país ainda é fraco em matéria de controlo da produção", disse no início de Dezembro o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao.
Três altos funcionários de Shijiazhuang, entre os quais o primeiro secretário do Partido Comunista e o presidente da Câmara, foram entretanto demitidos e o líder da Administração Central do Controle de Qualidade e Supervisão, Li Changjiang, pediu também a demissão.

Editorial

Festa


Poucas vezes, ao longo da História recente, tanta esperança foi depositada num homem só. Barak Obama é, desde hoje, o líder da mais poderosa nação de um mundo mergulhado numa crise económica que se adivinha uma das piores de sempre e dilacerado por uma guerra de contornos religiosos sem fim à vista.
A tomada de posse, no entanto, marca também o início da contagem decrescente para o fim do "estado de graça" de que todos os políticos usufruem, no início dos seus mandatos.
Com o passar dos dias, que rapidamente se transformarão em semanas e meses, a necessidade de corresponder às expectativas criadas e, ao mesmo tempo, tomar decisões que requerem tempo e reflexão, será um dos principais desafios do novo presidente.
Daqui a seis meses, quando começarem a ser feitos os primeiros balanços, já a realidade se terá sobreposto a algumas das boas intenções expressas durante a campanha eleitoral.
Mesmo assim, o capital de esperança, simpatia e boa-vontade que o novo presidente conseguiu suscitar, tanto entre os seus concidadãos como por esse mundo fora, talvez permita que o tal "estado de graça" seja mais longo do que o habitual.
Para além disso, é um facto que a eleição de Obama revitalizou uma América cansada e algo gasta, trazendo consigo um forte desejo de mudança. E uma das qualidades mais marcantes do novo presidente americano é, sem dúvida, a sua capacidade para transmitir uma sólida convicção de que essa mudança é possível.
Não obstante a dimensão e complexidade das tarefas que o esperam, Obama tem, para já, um aliado importante: o povo americano, que sempre mostrou estar à altura dos desafios que a História lhe colocou pela frente.

Paulo Reis


Followers

Blog Archive

About Me

DIRECTOR Paulo Reis REDACÇÃO Isabel Castro, Rui Cid, João Paulo Meneses (Portugal); COLABORADORES Cristina Lobo; Paulo A. Azevedo; Luciana Leitão; Vítor Rebelo DESIGN Inês de Campos Alves PAGINAÇÃO José Figueiredo; Maria Soares FOTOGRAFIA Carmo Correia; Frank Regourd AGÊNCIA Lusa PUBLICIDADE Karen Leong PROPRIEDADE, ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Praia Grande Edições, Lda IMPRESSÃO Tipografia Welfare, Ltd MORADA Alameda Dr Carlos d'Assumpção 263, edf China Civil Plaza, 7º andar I, Macau TELEFONE 28339566/28338583 FAX 28339563 E-MAIL pontofinalmacau@gmail.com