1.02.2009

Nº 1683 - Terça-Feira 9 de Dezembro de 2008

SJM Macau bate DeA McDea por 27 – 7
Vitória expressiva no último jogo do ano

A equipa de râguebi da RAEM venceu no passado sábado a DeA McDea de Hong Kong por 27 – 7. No último jogo de 2008, os atletas da SJM Macau encontraram-se com os mesmos adversários do primeiro embate da temporada, que começou em Setembro, sendo que mais uma vez demonstraram superioridade em relação à equipa da antiga colónia britânica.
Em nota de imprensa, a SJM Macau explica que os seus jogadores entraram melhor em campo, com muita determinação. Ainda assim, os oponentes estavam bem organizados em termos defensivos, pelo que nos primeiros quinze minutos a formação da RAEM não conseguiu pontuar.
Porém, a persistência resultou: o marcador foi inaugurado pela equipa de Macau, através de Yves N’Gatou. Com os primeiros pontos conquistados, tornou-se mais fácil romper a defesa da DeA McDea. Ainda no primeiro tempo, Matt Wilson dilatou a diferença para os atletas de Macau.
Na segunda parte, a equipa da RAEM entrou com a mesma força e continuou a marcar. A formação adversária encurtou a diferença no marcador quando faltavam apenas dez minutos para o final do jogo, numa altura em que a SJM tinha já 22 pontos. Depois, Albert Wong voltou a marcar para Macau, fixando o resultado em 27 – 7.
Alinharam na formação inicial Aaron Chu, Ed Sanderson, Herve Leprince, Cory Ratahi, Michael Ryan, o capitão Ricardo Pina, Yves N’Gagoutou, Albert Wong, Jason Elton, José Reis, Gabriel Soares, Anacleto Cabaça, Miguel Dória, Julien Raffin e Matt Wilson. Nas substituições, entraram Michael Keen, Christian Petillot, Nick Canuck, Luís Herédia, Kelsey Withelm e Óscar Marques.
A terceira divisão do campeonato de râguebi de Hong Kong, onde joga a SJM Macau, faz agora uma pausa para as férias de Natal. O próximo encontro está marcado para o dia 17 de Janeiro.

Perda de direito a gozo de feriados suscita críticas
Coutinho acusa Administração de "má interpretação"

Numa interpelação escrita ao Executivo, José Pereira Coutinho aponta o dedo à politica de atribuição de subsídios de turno na Função Pública. O deputado manifesta-se contra o facto de, nas suas palavras, os contemplados com aquele subsidio "perderem o direito ao gozo dos feriados públicos".
Frisando que a atribuição dos subsídios de turno se destina a "compensar as inconveniências provocadas pelo trabalho em tempo irregular", o deputado acusa a Administração de "má interpretação" dos conceitos de "trabalho extraordinário" e "trabalho por turnos" o que faz com que "os ganhos [dos trabalhadores] não compensem as penas".
Assim sendo, Pereira Coutinho questiona o governo no sentido de saber em que situações é que os trabalhadores que recebem este subsídio "têm direito ao gozo dos feriados públicos e legais, como o 1º de Maio". O deputado aproveita ainda para lançar farpas à nova Lei das Relações de Trabalho. Recordando que o Regime Jurídico da Função Pública determina que o dia de descanso semanal dos trabalhadores deve coincidir com um domingo, pelo menos uma vez em cada quatro semanas, Pereira Coutinho pergunta porque não podem os trabalhadores "gozar os 20 dias dos feriados públicos definidos legalmente". "Quererá isto dizer que o actual Regime da Função Pública não é melhor do que a Lei das Relações de Trabalho?", remata o deputado.

Suspeitas de corrupção no Conselho de Consumidores levam deputados a exigir responsabilização dos dirigentes
A culpa morre (quase) solteira


É mais um argumento para quem defende a criação de um sistema de responsabilização dos governantes da RAEM. Alexandre Ho, presidente do Conselho de Consumidores, é suspeito de corrupção em mais um caso que coloca à prova a transparência da Administração. Edmund Ho garante determinação na construção de uma sociedade íntegra, mas há quem ache que a intenção não basta.

Isabel Castro

O impacto está longe de ser o mesmo, mas é mais um caso que vem colocar em causa a transparência e integridade da Administração de Macau. Dois anos depois de ter sido divulgado o maior escândalo político da vida da RAEM, o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) tornou públicas, na passada sexta-feira, as suspeitas de corrupção que recaem sobre o responsável de uma entidade autónoma do território.
Desta feita, o órgão de investigação criminal não deu pistas públicas sobre a identidade do suspeito, mas o jornal Ou Mun avançou com o nome: trata-se de Alexandre Ho, presidente do Conselho de Consumidores, antigo deputado à Assembleia Legislativa de Macau.
De acordo com a nota enviada à imprensa pelo CCAC, um trabalhador da Função Pública terá praticado, em conluio com um seu familiar, os crimes de abuso de poder, burla, participação económica em negócio, peculato, falsificação de documentos e corrupção em processos de aquisição de bens e serviços.
Suspeita-se que Alexandre Ho se terá aproveitado das suas funções para adjudicar, por ajuste directo, a maioria das obras e aquisições da entidade à qual preside a um seu familiar. Estes ajustes envolvem um valor de cerca de seis milhões de patacas. O CCAC diz ainda que, nos processos de consulta escrita, o responsável pela entidade autónoma terá dado indicações para que as empresas do seu familiar fossem as únicas consultadas.
“Como resultado, todas as propostas de preços foram manipuladas e o preço de algumas adjudicações foi superior em mais de 40 por cento relativamente ao preço de sub-adjudicações para a execução dos respectivos projectos”, indica o órgão de investigação criminal liderado por Cheong U.
Sobre o familiar de Alexandre Ho recai a suspeita de falsificar carimbos e documentos de outras empresas, tendo por objectivo “o conluio entre concorrentes na apresentação de propostas”. O CCAC avança também que o responsável é suspeito de se ter apropriado de bens e equipamentos adquiridos pela sua entidade, dizendo ainda que terá sido beneficiário final dos lucros das operações de uma entidade privada. “Há indícios de ter recebido mais de 20 mil patacas de vantagens, através de aquisições de serviços a essa entidade pelo referido familiar”, lê-se na nota enviada à imprensa.
O caso foi encaminhado para o Ministério Público na quinta-feira passada e os dois arguidos estão sujeitos a medidas de coacção que o CCAC não precisou. Alexandre Ho foi, entretanto, suspenso das suas funções.

Impunidade e responsabilização

Para Pereira Coutinho, esta nova história de suspeitas de corrupção no seio da Administração da RAEM é um sinal claro de que “há necessidade de o Governo avançar para a criação da legislação de responsabilização dos titulares dos mais altos cargos políticos”. Esta ideia foi defendida pelo deputado ao longo dos debates sectoriais das Linhas de Acção Governativa para 2009. Com este caso, o argumento ganha um novo peso.
“Não se concebe que os governantes não sejam responsáveis pelos actos que praticam”, sublinhou Pereira Coutinho ao PONTO FINAL. Para o deputado, urge acabar com “um certo clima de impunidade”. Tal só poderá acontecer se os responsáveis políticos máximos “assumirem as responsabilidade das decisões administrativas que tomam”.
O deputado diz ainda estar “bastante preocupado com a culpabilização selectiva de algumas pessoas”. Sem se alongar em explicações, Coutinho diz que tal “não é bom” e fala em “casos que os meios de comunicação social denunciam há anos e que não são averiguados”. O que se passa em Macau, continua, não é compatível com “a maior transparência” prometida pelo Governo. “Não pode haver escolha selectiva de pessoas para culpar”, reitera.
Já Ng Kuok Cheong diz não ter ficado “muito surpreendido” e diz que, em 2004, “houve muito dinheiro disponibilizado pelo Governo sem fiscalização suficiente”. Para o deputado, “é natural que tenham surgido problemas”.
Igualmente defensor de um sistema de responsabilização dos altos dirigentes, Ng coloca agora a tónica na necessidade de haver uma maior fiscalização da forma como é gasto o erário público. “Já chegou a altura dos Serviços de Finanças fazerem uma fiscalização a todas as entidades públicas”, vincou em declarações a este jornal, “porque têm obrigação de supervisionar”.
Ng Kuok Cheong aponta o dedo a Francis Tam e pede explicações ao secretário para a Economia e Finanças. “Tanto a Direcção dos Serviços de Finanças como o Conselho de Consumidores pertencem à tutela de Francis Tam. Acho que deve fazer alguma coisa”, frisa.
O membro da Associação Novo Macau Democrático considera que as suspeitas que recaem sobre Alexandre Ho são “particularmente graves”, mas entende que não se trata de um caso isolado. “Deve haver muitos mais. Não sei quantos é que o CCAC consegue investigar”, lança.
Para que a Administração possa elevar o grau de transparência na utilização do erário público, há que dotar a Assembleia Legislativa (AL) de poderes que, por ora, não tem. “Falta à AL capacidade de fiscalização na forma como o Orçamento é gasto. Precisamos de ter poder para acompanhar de perto o modo com o dinheiro da RAEM é aplicado.”

Incidente de percurso

O Chefe do Executivo não comenta o caso por estar “em fase de procedimento judicial”, mas vai garantindo a determinação do Governo da RAEM na construção de uma “sociedade íntegra”. Em declarações feitas no passado sábado e reproduzidas pelo Gabinete de Comunicação Social, Edmund Ho afirmou que o caminho para a integridade “implica, inevitavelmente, uma fase de auto-aperfeiçoamento, sem excluir a possibilidade de alguém desafiar a lei, mas o Governo está determinado e confiante em edificar uma sociedade incorruptível e não tolera incidentes que a possam pôr em causa”.
Ho disse ainda que posição do Executivo é “muito clara”: defendendo uma “atitude responsável” e punições “sérias” para quem comete infracções do género, o Chefe do Executivo sustenta que “tais incidentes não podem ser postos de lado com receio da reacção da sociedade relativamente a este tipo de casos isolados ou das influências negativas para o Governo, sob pena de este ser irresponsável”.
O Chefe do Executivo realçou ainda que “o incidente veio provar a eficácia dos meios de fiscalização e do trabalho do CCAC”, sendo que serve ainda de “lição e alerta para todo os membros do Governo sobre a necessidade de integridade e isenção de corrupção”.

Heróis do espaço em Macau até amanhã
"Taikonatas" recebidos por multidão

Depois dos atletas olímpicos, os "taikonautas". Macau acolhe, desde ontem, os 3 astronautas chineses a passarem pelo espaço a bordo da nave Shenzhou-7.
Os mais recentes membros da galeria de heróis da República Popular da China - Zhai Zhigang, Liu Bo Ming e Jing Haipeng - bem como vários outros altos responsáveis pelo êxito da missão espacial chinesa chegaram ao território, via terminal marítimo do Porto Exterior, onde cerca de 500 pessoas os esperavam ansiosamente. Não defraudando as expectativas, os "taikonautas" distribuíram fotografias autografadas e outras lembranças a uma multidão entusiasta.
Do terminal marítimo, a comitiva seguiu para a Torre de Macau para participar numa conferência onde os astronautas puderam contar diversas peripécias da missão da Shenzhou-7. Ontem à noite, os "taikonautas" tiveram direito a um jantar de boas-vindas oferecido pelo governo da RAEM.
Para hoje a comitiva tem agendada, logo pela manhã, uma visita à guarnição do Exército de Libertação Popular estacionada em Macau, ao que se segue uma conversa com alunos de várias escolas do território, marcada para as três horas no Instituto Politécnico de Macau.
A finalizar o segundo dia de visita à RAEM, os "taikonautas" participam, a partir das 8 da noite no Fórum, no espectáculo de boas-vindas intitulado "Heróis do Espaço com Macau no Coração".
Amanhã, a comitiva diz adeus ao território não sem antes passar por Santa Sancha para apresentar cumprimentos de despedida a Edmund Ho.

Para combater o desemprego e o "tsunami financeiro"
Aposta nas obras públicas

O governo de Macau vai lançar, até final de 2009, um total de 77 obras públicas de pequena e média dimensão, representando um investimento de 170 milhões de patacas, com o objectivo de "atenuar o impacto negativo na economia do território, devido ao tsunami financeiro", adiantaram responsáveis dos Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) e do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-Estruturas (GDI).
Desse conjunto de projectos, 18 irão ser lançados ainda este ano, traduzindo-se num investimento de 24 milhões de patacas e permitindo a criação de cerca de 900 empregos, revelou Shin Chung Low Kam Hong, subdirector substituto da DSSOPT.
O anúncio da passada sexta-feira parece ser a primeira medida prometida por Lau Si Io na AL, durante o discurso de apresentação das Linhas de Acção Governativa para 2009, e no qual declarara que o governo se preparava para lançar um forte investimento nas obras públicas como forma de combate à onda de desemprego que a crise financeira mundial poderia provocar em Macau.
Na altura, a 1 de Dezembro, o Secretário frisara que o objectivo do Executivo era promover todo e qualquer tipo de obra, desde o restauro de prédios antigos ao embelezamento das ruas circundantes às zonas históricas da RAEM, passando pelo reordenamento viário. Na sexta, o subdirector da DSSOPT explicou que este tipo de obras vem ao encontro "das características especificas dos trabalhadores locais do sector da construção civil" que passam, diz aquele responsável, por "trabalhos de decoração, pintura em fracções habitacionais, armação de andaimes, electricidade e carpintaria".
Shin Kam Hong sublinhou ainda que, sem excluir a possibilidade da contratação de trabalhadores não residentes, a prioridade deverá ser dada aos trabalhadores locais. As empresas que não cumpram este principio, alerta Kam Hong, poderão ficar sujeitas a sanções, incluindo a possibilidade de ficarem provisoriamente afastadas de outros concursos para obras públicas.

Comissariado de Auditoria analisa FSM, IACM e ICM
Despesas sem planeamento

O Comissariado de Auditoria de Macau criticou as despesas de “grande escala e sem “planeamento” efectuadas por serviços da Administração local como as Forças de Segurança, Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais e Instituto Cultural.
Depois de realizadas as auditorias à aquisição e gestão de bens das Forças de Segurança, o Comissariado de Auditoria constatou a existência de “aquisições de grande escala” sem um planeamento global “o que prejudicava a eficácia e a eficiência de execução”.
O Comissariado defende que a “falta dum planeamento prévio de recursos conduz a incessantes estudos rectificativos ao projecto já adquirido, que por sua vez iria provocar despesas sem fim, suportadas pelo erário público, contrariando assim o princípio de gestão financeira prudente”.
O Comissariado verificou ainda que as Forças de Segurança detinham “uma fraca noção de gestão financeira pública, incumprindo o princípio de boa gestão financeira pública 'verbas específicas para fins específicos” e que “não definiu com precisão os critérios de apreciação aquando da feitura da documentação para a abertura de concurso”.
Por outro lado o serviço “negligenciou na aferição dos elementos fornecidos pelo fornecedor; não deu atenção às divergências de opiniões e questões de comunicação surgidas no processo de aquisição, o que obrigou a frequentes alterações durante o processo, a necessidade de maiores recursos administrativos e ao prolongamento do período de aquisição”.
Já sobre o Instituto dos Assuntos Cívicos e Municipais e sobre o Instituto Cultural de Macau, as criticas do Comissariado de Auditoria prendem-se com a falta de planeamento de edições como livros, programas, cartazes, cartões de felicitações, calendários de mesa e doutros tipos e outro material de divulgação.
Em termos gerais, os dois serviços “não planeavam suficientemente as publicações, o que originava tiragens excessivas e características dema¬siado luxuosas” o que originou entre 2000 e 2006 a acumulação de 130.000 exemplares de publicações em depósito com um custo estimado de impressão de cerca de 500.000 euros.
O Comissariado critica ainda as quantidades “exageradas e sem características técnicas definidas” de produtos como calendários e outros produtos ligados a tradições locais ou actos de cortesia, tendo os serviços em causa gasto cerca de 130.000 euros entre 2004 e 2006.
Para a falta de planeamento o Comissariado deixa o alerta de “economizar onde se deve economizar”, com o estabelecimento de planos e de controlo rigorosos.

Três anos de acordo que beneficiam a China
Parceria desequilibrada

O primeiro ministro chinês assinou em 2005, em Lisboa, um acordo de parceria estratégica com Portugal. Três anos depois Portugal viu nada ou quase (e cada vez vende menos à China); Macau e a China saíram beneficiados.

João Paulo Meneses
putaoya@hotmail.com

Exactamente três anos depois de ter sido assinado em Lisboa o acordo entre Portugal e a China que elevava as relações bilaterais a um nível de "parceria estratégia global", a desilusão deu lugar às expectativas mais optimistas.
Se não se pode falar em desilusão global, pelo menos em certos sectores – sobretudo económicos – os números mostram que estamos, hoje, piores do que há três anos.
Como lembrava recentemente o secretário de Estado Fernando Serrasqueiro, ao PONTO FINAL, "os primeiros-ministros dos dois países anunciaram, em Dezembro de 2005, a intenção de duplicar o comércio bilateral no espaço de três anos. Em 2007 a China foi o 9.º fornecedor e 24.º cliente de Portugal. Há que reconhecer a permanência do défice da balança comercial para Portugal, quase €900 milhões de euros em 2007 e €664 milhões de euros nos primeiros oito meses de 2008. Devemos garantir que todos os esforços empresariais e institucionais são estabelecidos para o seu reequilíbrio".
Na verdade os esforços não têm sido suficientes ou então são infrutíferos: tomando como referência os números do primeiro semestre deste ano, percebe-se que as exportações chinesas para Portugal aumentaram 17% (para 554 milhões de euros), enquanto as exportações portuguesas para a China caíram dez por cento, ficando abaixo dos 100 milhões de euros. Isto significa que o saldo das trocas comerciais entre os dois países é cada vez mais acentuado, chegando, nesses seis meses, aos 445 milhões de euros, o que vale por dizer que se agravou em 25% face a igual período no ano anterior. Os números do secretário de Estado confirmam o agravamento, já que refere 664 milhões de euros nos primeiros oito meses. E as exportações portuguesas para a China, até Agosto deste ano, continuavam a cair.

"Alarmante"

Como é evidente, os responsáveis portugueses sabem destes números – e o presidente da AICEP tem vindo a alertar para a realidade: se considerarmos meia dúzia de anos até se pode falar em aumento das exportações portuguesas para a China (que partiram de um valor quase residual), mas o crescimento das exportações chinesas para Portugal não pára, acentuando esse défice.
Também os responsáveis na Embaixada chinesa em Lisboa têm vindo, de há alguns anos para cá, a referir o problema, anunciando metas e prometendo ajudar a inverter a tendência, mas sem quaisquer resultados.
Ainda este ano o embaixador Gao se congratulava com o facto de "a meta definida pelos Primeiros-Ministros Chinês e Português no final de 2005, de duplicar o volume total das trocas comerciais no prazo de três anos, [ter sido] atingido com quase um ano de antecedência". Mas de uma forma unilateral, como se percebe.
João Santos Lucas, consultor internacional, baseado em Singapura, escrevia recentemente que "a China [números de 2007] apenas importou mercadorias no valor de 385 milhões de dólares de Portugal. O que representa, apenas, 0,0004 das importações da China em 2007. Uma insignificância. E nem chega a 0,5% do total das importações da China com origem na UE. Da Dinamarca e da Irlanda a China importou cinco vezes mais do que de Portugal. (...) Neste mesmo período as importações oriundas da República Checa deram um salto de 60.8%. Mas as que tiveram origem em Portugal apenas aumentaram 8,7%. (...) Alarmante!".

Relações políticas com
um sentido apenas

Com a parceria estratégica global Portugal esperava mais atenção da China. Mas essa atenção tem sido unilateral. De Lisboa para Pequim. Sendo uma economia muito centralizada e dirigida a partir do Estado, um aumento da atenção chinesa face à economia portuguesa passaria sempre por algum tipo de indicação nesse sentido. Que não se verificou: há, até, uma diminuição do investimento directo chinês em Portugal face a valores anteriores a 2005. Em contrapartida o investimento directo português na China tem vindo a crescer.
Ou seja, esta parceria estratégica global mostrou-se – à dimensão portuguesa – um bom negócio para a China.
Acrescente-se que este agravamento do défice na balança das trocas comerciais e este desinteresse no investimento directo acontece numa altura em que Portugal tem um consulado em Xangai a funcionar e as três posições da AICEP ocupadas (o que, como se sabe, não é a regra...).
O desinteresse não acontece apenas nas questões económicas.
Como o PONTO FINAL noticiou este mês, a China é um dos dois principais destinos dos governantes portugueses, que aqui vieram – em 2008 – mais vezes do que provavelmente na última década do século passado.
Do lado chinês nem uma visita para a troca.
Três anos depois percebe-se que, para além das intenções manifestadas durante a visita de Wen Jiabao a Lisboa, a parceria tem uma componente sobretudo simbólica, na medida em que – na prática – tudo ou quase tudo continua igual.

Macau beneficiada?

Edmund Ho dizia no ano passado que "a parceria estratégica entre a China e Portugal tem permitido que Macau consiga desempenhar o papel de plataforma entre a China e os países de língua portuguesa, cuja importância é cada vez mais reconhecida".
O chefe do Executivo tem razões para estar satisfeito com o papel que tem sido dado a Macau no relacionamento que a China está a fomentar com os países africanos de língua oficial portuguesa. A dúvida é se o mesmo não aconteceria sem parceria estratégica. Ou seja, até que ponto esse interesse da China por Angola ou Moçambique depende ou, mesmo, se relaciona com a parceria – assinada por Portugal mas de que Portugal pouco nada ou quase nada beneficia? Por outras palavras, se a China não faria o mesmo sem parceria com Portugal e, até, sem que institucionalmente o interesse passasse por Macau?
Além do mais, o Fórum acaba de assinalar cinco anos de existência e a parceria três.

Uma perspectiva positiva

Ainda assim há quem mantenha uma visão estratégica optimista. Em depoimento pedido pelo PONTO FINAL a secretária-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa considera que "o estabelecimento da parceria estratégica entre Portugal e a República Popular da China há 3 anos, foi um passo importante no processo de aproximação diplomática, económica e comercial entre os dois países. O facto de ela se ter realizado demonstra em si mesmo, um aumento de visibilidade e reconhecimento do interesse de Portugal no cenário internacional por parte do governo chinês e uma maior aposta e empenho do governo português no reforço dos laços com a China". Mas Fernanda Ilhéu não deixa de notar que "esta parceria é apenas um enquadramento político e diplomático mais favorável e que compete às empresas criarem as condições e as suas próprias parcerias para serem competitivas e aproveitarem bem esse enquadramento".
A secretária-geral da Câmara de Comércio lembra que se verificou "um aumento do comércio bilateral que cresceu significativamente, tendo ultrapassado a meta fixada de USD$ 1 bilião, apesar do elevado deficit por parte de Portugal, o que aliás é comum a outros países da EU", explicando que "este deficit é em grande parte consequência da própria estrutura do comércio externo chinês, que depende em cerca de 60% das empresas com capital estrangeiro, que ali realizam operações de “processing trade”, tornando-se mais competitivas no seu mercado interno e no mercado internacional. O comércio externo com Portugal também reflecte estes padrões e portanto se numa primeira leitura a análise que sobressai é a macroeconómica, que não pode ser apreciada positivamente, numa análise micro ela representa mais negócio para as empresas portuguesas, aumento da sua competitividade e satisfação para os consumidores sobretudo os das classes com menores rendimentos que ao poderem dispor de produtos com preços reduzidos vêem aumentar o seu poder de compra. De uma maneira geral existem mais empresas portuguesas a operar no mercado chinês e um maior conhecimento recíproco de ambas as realidades".

Três anos para validar dois acordos

Durante a visita de Wen Jiabao a Lisboa não foi só assinada a parceria estratégia global entre a China e Portugal. Também alguns acordos bilaterais foram rubricados nessa altura.
Dois deles, que prevê situações de Auxilio Judiciário Mútuo em matéria penal (assinado a 9 de Dezembro de 2005) foi discutido na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros em Outubro deste ano. O que significa que só em 2009 estará em vigor.
Outro, sobre Promoção e Protecção Recíproca de Investimentos (que pretende intensificar a cooperação económica entre os dois países, "criando condições favoráveis para a realização de investimentos pelas duas partes" lia-se), assinado a 10 de Dezembro de 2005, foi aprovado em Conselhos de Ministros em Abril deste ano.
No blogue Notas Verbais, o especialista Carlos Albino escrevia a propósito: "É preciso ter paciência asiática para levar três anos a pensar no considerando, no tendo em vista e no reconhecendo!"
A explicação é provavelmente simples: três anos é só o princípio e agora é que tudo vai começar.

JPM

James Chu faz balanço do trabalho da Art for All e define objectivos para o futuro
Artistas com pouco tempo para criar

Conseguiram mais do que estavam à espera mas, ainda assim, há espaço para fazer melhor. Os artistas de Macau precisam de tempo para criar e de meios que os libertem do trabalho de escritório. No primeiro aniversário da Art for All, James Chu conta ao PONTO FINAL quais foram as grandes conquistas do projecto que lidera. Aponta as dificuldades e define os objectivos do movimento que quer acabar com as fronteiras sentidas pelos artistas locais.

Isabel Castro

- A Art for All (AFA) está a celebrar um ano de vida. Está satisfeito com o projecto? Corresponde às suas expectativas?
James Chu - Sim, claro. Estou muito satisfeito. Tanto em relação aos planos que fizemos para Macau como para o exterior, conseguimos mais do que estávamos à espera. Surgiram oportunidades inesperadas, como convites de Pequim, de Nova Iorque, de Hong Kong e de Taiwan. Tentámos fazer o melhor que conseguimos para podermos participar nestas exposições no estrangeiro. Quanto a Macau, conseguimos cumprir a nossa promessa em relação às exposições que tínhamos planeado. Neste sentido, estamos muito satisfeitos. Ao todo, foram 12 exposições: nove em Macau, uma em Pequim e a participação em duas mostras internacionais.
- O que é que poderia ter sido melhor?
J.C. - Durante este último ano, os artistas de Macau produziram mais de cem novos trabalhos, o que é uma quantidade expressiva. No entanto, ainda não estamos satisfeitos com o nível dos nossos trabalhos. Julgamos que pode ser melhorado. Congratulamo-nos com a quantidade mas não com a qualidade.
- A AFA pode trabalhar no sentido de elevar a qualidade? O que falta aos artistas de Macau?
J.C. - Falta tempo para que se possam concentrar nos seus trabalhos. Estamos sempre ocupados e o nosso orçamento é muito limitado. Temos que gastar parte do pouco tempo disponível em tarefas administrativas porque não há capacidade financeira para contratar alguém que as faça. Temos que tratar de muito trabalho administrativo, como cartas e relatórios para o Governo e para os patrocinadores... Se conseguíssemos passar essas tarefas para outras pessoas, teríamos mais tempo para nos concentrarmos na criação dos nossos trabalhos.
- Qual é a solução? A AFA está a pensar numa forma de resolver o problema?
J.C. – Estamos a tentar arranjar recursos para que seja possível contratar mais uma ou duas pessoas para trabalharem connosco na galeria. É a única forma de conseguirmos resolver a questão.
- A AFA surgiu em Macau defendendo a necessidade de haver maior pragmatismo em relação à comercialização das obras de arte. Que balanço faz sobre a promoção dos artistas de Macau? A AFA tem conseguido vender obras de arte?
J.C. – Sentimos logo muita dificuldade em vender obras de arte em Macau, onde o mercado é muito reduzido. Vendemos alguns trabalhos, mas não foram muitos, nem de todos os artistas. Porém, aprendemos bastante acerca da forma de lidar com as pessoas que estão interessadas nos nossos trabalhos, não só de Macau mas também de Hong Kong, de Taiwan e da China Continental. A experiência em exposições internacionais foi muito importante para percebermos como podemos melhorar a nossa resposta quando nos abordam. Mesmo que não tenhamos conseguido vender, foi possível criar uma relação com pessoas que estão interessadas no nosso trabalho. Quem compra arte raramente o faz por amor à primeira vista, especialmente se os autores não forem famosos no mercado, como é o nosso caso. Em termos gerais, os artistas de Macau não são conhecidos. Se fôssemos de Pequim, talvez tivéssemos outro impacto... Assim, é muito importante conseguirmos mostrar o que fazemos, a evolução dos artistas. Os compradores gostam de ver os portfolios. Não compram uma peça de arte porque alguém a fez por acaso. Aprendemos com toda esta experiência a construir os nossos portfolios. É um processo que demora, mas já tivemos oportunidade de mostrar o que fazemos. As reportagens feitas por publicações de Macau e do estrangeiro também ajudaram à divulgação do nosso trabalho.
- Um dos momentos altos deste ano foi a abertura do espaço da AFA em Pequim. Que balanço faz do projecto na capital chinesa?
J.C. – O projecto de Pequim é muito complicado (risos). Inaugurámos o espaço e, pouco tempo depois, rebentou a crise económica mundial que tem estado a ter um grande impacto no mercado de arte de Pequim. Mas há um lado positivo: não temos que pensar demasiado no mercado e na componente financeira, pelo que nos podemos concentrar mais no intercâmbio. Não há compradores e a situação deve manter-se nos próximos anos. Isto fez com que tivéssemos que alterar ligeiramente os nossos planos: estamos a fazer um trabalho menos comercial, a pensar mais na qualidade das criações e na possibilidade de reforçar a comunicação entre os artistas de Macau e os de Pequim. Temos a intenção de incluir neste intercâmbio artistas de Hong Kong e de Taiwan, de forma a construirmos uma plataforma de comunicação.
- Como é que tem sido a reacção de Pequim aos trabalhos dos artistas de Macau?
J.C. – As críticas têm sido muito boas, mas têm suscitado muitas questões. Na nossa primeira exposição, houve uma grande componente de pintura abstracta, o que não é muito vulgar na China. Houve quem tivesse perguntado se em Macau só é feita esta abordagem, se os artistas estão a apostar noutras formas de expressão, que caminhos é que poderão escolher no futuro. São questões pertinentes a que cada artista deve conseguir responder sendo honesto com ele próprio - deve ser capaz de saber o que quer fazer independentemente do grau de aceitação do mercado. Alguns críticos de arte muito famosos na China têm levantado estas questões que, na minha perspectiva, são importantes. Se nos cingíssemos a Macau, nunca teríamos a oportunidade de comunicar com os outros através dos nossos trabalhos. É como se a porta estivesse já entreaberta.
- A AFA tem o seu espaço aberto há um ano. Sente que a St. Paul’s Art Gallery já faz parte do roteiro artístico de Macau? A galeria tem sido muito procurada?
J.C. – Claro está que queremos que mais pessoas venham cá ver as nossas exposições, mas não podemos criar um tipo de ambiente que faça com que os nossos visitantes venham aqui só para se divertirem. Por outro lado, neste ano, muitos novos artistas abordaram-nos e apresentaram os seus trabalhos à procura de futuras colaborações, o que é positivo. A porta está aberta e há mais uma oportunidade para os artistas. Temos a oportunidade de conhecer novas pessoas a trabalhar nesta área, de estabelecer outras formas de comunicação. Antes de iniciarmos este projecto não sabíamos onde encontrar estes novos artistas, pelo que a galeria ajuda à comunicação.
- A AFA está aberta a todos os artistas locais interessados em expor? Qual é o critério de selecção em relação aos trabalhos que chegam às vossas mãos?
J. C. - Estamos abertos mas depende sempre do tipo de obras. Nem todas são adequadas para este espaço. O nosso critério é a qualidade. Não quero com isto dizer que as propostas por nós rejeitadas são más - muitas vezes, são trabalhos que indicam que os artistas ainda estão a desenvolver as suas abordagens, que precisam de mais tempo para atingir a maturidade necessária para exporem.
- E que relação é que desenvolveram com outras associações culturais da cidade, nomeadamente com aquelas que também se dedicam à promoção do trabalho de artistas plásticos?
J. C. - É uma componente na qual temos que trabalhar mais no futuro. Como é óbvio, conhecemo-nos todos, o panorama artístico local é pequeno e estamos envolvidos em diferentes projectos e associações. Falta, contudo, uma cooperação sólida e definida porque temos estado ocupados a desenvolver os nossos projectos. Mas já começámos a pensar nesta vertente e em como a desenvolver durante o próximo ano. Tive há dias reuniões para vermos o que podemos fazer juntando diferentes associações, de modo a que possamos promover Macau como um todo e não apenas através de projectos individuais.
- O facto de haver várias associações para um número de artistas tão limitado funciona? Complementam-se umas às outras por terem objectivos diferentes?
J. C. - Com certeza. O Armazém do Boi, a Comuna de Pedra, o Albergue da Santa Casa da Misericórdia e a AFA são movimentos com objectivos e formas de funcionamento muito diferentes. É esta diferença que pode ser vantajosa se juntarmos os nossos esforços, mas todos nós temos muitas limitações ao nível da disponibilidade e dos recursos. Sei que há uma grande vontade no sentido de haver uma maior cooperação, mas já é difícil conseguirmos concretizar os projectos de cada associação, pelo que se torna complicado desenvolver ideias em conjunto.
- Quais são os projectos da AFA para o segundo ano de existência?
J. C. - Em relação a Macau, estamos a pensar em quatro exposições individuais de novos artistas e duas mostras colectivas. Estamos a planear também convidar artistas da China Continental para exporem cá as suas obras. Para Pequim temos objectivos mais ambiciosos: queremos organizar cinco exposições com artistas da China Continental e de Macau, de diferentes meios de expressão, incluindo instalações de vídeo, pintura e escultura. Uma delas deverá juntar novos pintores de Macau, China, Hong Kong e Taiwan. Queremos ainda participar em pelo menos três mostras internacionais.
- Como é que, às portas de 2009, Macau ainda não tem uma escola de arte?
J.C. - Pergunte a Chui Sai On (risos). Não é propriamente uma queixa, mas temos vindo a chamar a atenção para este problema. Se Macau se quer desenvolver ao nível artístico, é necessário que haja formação académica para que novas pessoas possam aparecer. O cenário não pode ser feito apenas por Mio Pang Fei, Konstantin Bessmertny e James Chu, e serem estes os nomes repetidos ano após ano. Tem que haver gente nova que nos possa desafiar para que possamos ripostar. É este o processo através do qual acontece algo de novo. Claro que a AFA não tem capacidade para poder criar uma universidade, mas temos boas notícias para quem gosta de arte em Macau. Lançámos agora este fundo para bolsas de estudo.
- O objectivo é permitir a estudantes de Macau a frequência de cursos no exterior.
J.C. - Sim. Foi difícil conseguirmos os apoios para começarmos o projecto, mas finalmente conseguimos mais de 700 mil patacas para desenvolvermos a ideia. Queremos ajudar um ou dois estudantes por ano, escolhendo aqueles que são melhores, dando-lhes uma oportunidade de estudarem lá fora. As bolsas são apenas para quem tiver menos de trinta anos, for residente de Macau e quiser estudar artes visuais. Queríamos incluir outras manifestações artísticas, como a música e as artes performativas, mas é impossível por limitações financeiras. Se, no futuro, tivermos uma boa reacção da sociedade, talvez possamos apoiar mais estudantes.


Etíope Adhane faz história em Macau
Caiu o recorde da maratona

Vitor Rebelo
rebelo20@macau.ctm.net

Há nove anos que não era melhorado o tempo da Maratona Internacional de Macau. Caiu agora, aos pés de um etíope. O tempo ajudou às boas marcas. Português Azevedo foi oitavo. Chinesa Lili Yuan ganhou nas mulheres.

Terá sido uma das melhores corridas de sempre. Os atletas eram de qualidade e as condições climatéricas surpreenderam tudo e todos. Sem hunmidade e um fresco que até beneficiou os participantes.
Só faltou o registo de um número recorde de inscritos. Foram precisamente 2.999. Mas em 2006 participaram 3.077.
Esta vigésima sétima edição da Maratona Internacional fica, de qualquer modo, marcada pela obtenção de outro recorde, o do percurso, o que já não acontecia há nove anos.
O autor da proeza foi o etíope Adhane Yemane Tsegay, que cobriu os cerca de 42 quilómetros, em duas horas, quinze minutos e seis segundos, mais rápido apenas seis segundos do que o queniano Mwobi Cyprian Kiogora.

Atmosfera ideal

A organização, a cargo do Instituto de Desporto, com a colaboração da Associação de Atletismo de Macau e com o forte patrocínio da Galaxy Entertainment , diz que as condições excelentes em termos climatéricos, acabaram por proporcionar esta boa corrida e os tempos magníficos.
“É um bom tempo para a nossa maratona. Foi uma excelente corrida e desde logo com factor climatérico como este, estavam reunidas as condições para a queda do recorde. Havia um bom lote de atletas e possivelmente também o facto de nós termos decidido começar a corrida mais cedo (passando das seis e meia para as seis), proporcionou a obtenção das marcas”, palavras de José Tavares, vice-presidente do Instituto de Desporto, ele que foi, em tempos e durante vários anos, o director de prova.

Manter a qualidade

Relativamente ao futuro da Maratona Internacional de Macau, aquele dirigente mostra-se satisfeito com o crescente interesse.
“Penso que temos evoluído, daí os próprios atletas também corresponderem. Procuramos empenhamento em termos de organização, num percurso possível, face aos condicionalismos que todos conhecem. Queremos, acima de tudo, servir o interesse dos atletas que nos visitam e manter a qualidade. Julgo que há mais coisas positivas do que negativas e isso é bom sinal.”
Recorde-se que, em termos de prémios monetários (muito importantes, senão fundamentais em qualquer maratona internacional), Macau subiu a fasquia este ano, atribuindo 15 mil US Dólares ao primeiro classificado, contra os 10 mil de 2007.
“Houve um aumento de cinquenta por cento, o que é muito bom, para além de mantermos os bónus por tempos realizados, como este ano o caso do etíope que levou os três cheques.”

3 cheques para Adhane

Adhane Yemane não terá dado o seu tempo por mal empregue. Era um dos atletas convidados pela organização, com deslocação e estadia e ainda conseguiu o prémio de vitória (15 mil), mais 3 por ter feito menos do que 2.17 e mais 5 por efectuar menos do que o recorde anterior, que estava em 2.15.21.
No total, o fundista africano, oriundo de um país com largas tradições neste tipo de provas, arrecadou perto de 190 mil patacas, o que não é nada mau para uma maratona pouco cotada a nível internacional.
Os prémios monetários globais atingiram este ano as 913 mil patacas, portanto já perto de um milhão.
A competição contou este ano com mais gente africana com credenciais para lutar pelos primeiros lugares, alguns deles não fazendo parte do lote de convidados da organização.
Foi o caso do queniano Mwobi Cyprian Kiogora, que deu grande luta ao etíope e só baqueou no sprint, já com a meta à vista. A diferença foi de somente seis segundos.
Nos primeiros quinze da geral, nove representaram países de África, em especial o contingente do Quénia com sete nesses quinte da frente.

Estratégia de Azevedo

No meio deles, o português Vasco Azevedo, que surgiu com uma camisola à Boavista e cortou a meta no oitavo lugar, com o tempo de 2.19.21, quando a sua melhor marca era 2.19.50, registada em 2007 na Maratona de Lisboa.
Azevedo estreou-se em Macau e acabou por realizar uma boa prova, recuperando quatro posições nos últimos quilómetros.
“Senti-me bem e só não terminei melhor do que oitavo, porque fiz planos para defrontar três ou quatro africanos que tinham boas marcas. Afinal, em cima da hora, apareceram mais outros tantos e estragaram tudo”, declarou o fundista luso.
O seu compatriota, António Sousa, que já tinha estado presente em edições anteriores, não aguentou o desgaste da viagem e abandonou.
“A deslocação é longa e há atletas, como foi o meu caso, que não recuperam do cansaço até ao dia da corrida.”
Recorde-se que em 2007 o melhor dos portugueses foi Manuel Ferraz, em décimo quarto.

Quénia em força

Ainda na competição rainha da RAEM, destaque para o ucraniano Mykhail Iveruk, que fechou o pódio (2.16.49), quando no ano passado tinha sido quarto (2.18.39).
Logo a seguir, classificaram-se, até ao décimo, os quenianos Mebur Justus Kibet (2.17.36) e Machuka Elkanah (2.19.01), o representante do Zimbabwe Philip Bandawe (vencedor em 2005), com 2.19.11, o norte-coreano Pong Hyok Ryo (2.19.17), o português Vasco Azevedo, outro concorrente do Quénia, Epetet Joseph Kadon (2.19.39) e mais um da Coreia do Norte, Kum Song Ri (campeão em 2007), que completou a corrida em 2.20.09, mais lento três minutos e 30 segundos do que na edição anterior.
Relativamente aos locais, o melhor na Maratona seria Lok Wai Kin (2.45.51), em décimo nono da geral.

Yuan nas mulheres

No sector feminino, a luta resumiu-se bem cedo a duas norte-coreanas, Yong Ok Jong e Kum Ok Kim, à chinesa Lili Yuan e à etíope Eda Abeba Tola.
Já em 2007 a Coreia do Norte também tinha dado nas vistas, colocando duas representantes nos dois primeiros lugares.
Veio defender o título e só foi batida pela chinesa Yuan (2.36.40), que descolou nos derradeiros quilómetros, atingindo a meta com doze segundos de vantagem sobre Jong e quinze em relação a Kim.
Abeba foi quarta (2.40.03), à frente da queniana Fridah Lodepa Too (2.45.53), da holandesa Kristijna Loonen (2.53.49) e da chinesa Yuzong Xu (2.54.52).
Na posição imediata, oitava, posicionou-se uma atleta de Macau, Long Hoi, com a marca de 3.12.54.
No que toca a prémios, Lili Yuan arrecadou 15 mil US Dólares pela vitória e mais 3 mil de bónus, por ter feito menos de duas horas e trinta e sete minutos.
De referir que desta feita a organização também atribuiu valores monetários aos melhores classificados de Macau, com 10, 7 e 5 mil patacas, respectivamente para primeiro, segundo e terceiro, o mesmo sendo atribuido na prova feminina.

Macau ganha
Meia Maratona

Uma referência final às duas restantes competições. A meia-maratona foi ganha, nos homens, por Chan Kit Chan (Macau), com 1.17.45, à frente de Jonathan Lau Yu Fun (Hong Kong, 1.18.04).
Na prova feminina, a mais rápida foi Chao Fong Leng (Macau), com 1.33.28, seguida por Pauline Cheung Pui Ling (Hong Kong, com 1.40.26).
A mini (distância de cinco quilómetros), teve vencedores em três classes, respectivamente homens e senhoras:
A – Lok Ka Long (23.70) e Miura Momoko (27.56)
B – Lau Kuan Lon (22.27) e Adhikari Shanti Devi (28.33)
C – Miura Yoshiaki (22.14) e Sam Tang Noi (28.35).

Editorial

Corrupção

Não é necessário grande capacidade de análise para se concluir que os concursos destinados à aquisição de bens e serviços são uma das áreas onde a corrupção mais facilmente se insinua. Trata-se da mais clássica das situações, onde alguém que exerce funções públicas as aproveita para obter benefícios para si ou para os seus cúmplices.
A lei e os truques para a contornar, nesta matéria, funcionam como os sistemas de alarme e os ladrões de carros. Cada vez que a tecnologia parece ter ganho terreno, o amigo do alheio especializado em automóveis lá descobre uma maneira de ultrapassar o mais recente e sofisticado aparelho ou técnica de protecção.
Nesta corrida sem fim, a clareza e a transparência dos processos são a receita mais simples para reduzir a manipulação dos negócios públicos. No entanto, não obstante algumas alterações que têm sido introduzidas, na legislação que regula os processos de concursos de aquisição de bens e serviços, há uma zona que teima em manter-se cinzenta.
Os pormenores divulgados pelo Comissariado contra a Corrupção, no mais recente caso detectado por aquele organismo, referem exactamente essa zona cinzenta que é a adjudicação directa, uma vez dispensada a obrigatoriedade de concurso público.
Seria interessante saber, por exemplo, dados concretos sobre a frequência com que são dispensados os concursos públicos, em cada área e serviço da Administração. Outro aspecto que muito contribuiria para uma maior transparência, nesta matéria, seria obrigar à publicitação das razões por que, em cada caso, se entendeu optar pelo ajuste directo.
A solução para as tais zonas cinzentas é expô-las à luz do dia. Algo que não parece difícil, para um governo que se afirma determinado a combater a corrupção.

Paulo Reis

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