1.02.2009

Nº 1686 - Sexta-Feira 12 de Dezembro de 2008

Exposição de Kit Kelen é hoje inaugurada no Albergue da Santa Casa da Misericórdia
Arte trilingue e imperfeita

Divide os dias entre a escolha da palavra certa e o traço que desenha, esse mais livre. Kit Kelen é poeta e pintor. Esta dupla faceta vai estar contemplada hoje à tarde, no Albergue da Santa Casa da Misericórdia. “Palimpis-ink” é uma exposição que vai além dos quadros.

Isabel Castro

“A cultura é o património comum da humanidade. É algo que toda a gente deve fazer, algo em que todos devem participar.” A frase é de Kit Kelen e faz parte do seu “Manifesto pelo Imperfeccionismo”. O poeta que é também pintor defende que o problema da arte é o perfeccionismo, pelo que propõe o contrário. Uma arte livre, resultado daquilo que “é possível fazer”, apenas pelo prazer que dá.
É com este enquadramento que apresenta hoje, pelas 18h30, a exposição “Palimpis-ink”, um conjunto de quadros a aguarela e tinta da China em papel. Mas o final de tarde é dedicado também à poesia. Kit Kelen lança um volume que junta pintura às palavras, em muitas línguas. É um volume em inglês, idioma em que escreve, mas também em chinês. E em português. Para que toda a gente perceba.
“A arte surge de um processo ao qual podemos chamar de livre expressão. O inimigo da arte é o preciosismo. Talvez o exemplo mais dramático do preciosismo enquanto inaptidão é a sensação de não se ser capaz de começar. A página em branco é perfeita – se escrever nela deixa de o ser.” Mas isto é uma ilusão, alerta Kelen no seu manifesto. A perfeição da página em branco também simboliza o vazio. E, assim sendo, insta ao fim das páginas e telas em branco. “Vê o teu próprio reflexo. Aquilo que fazes é o que és.”
Nas telas que hoje mostra, Kit Kelen pintou de forma abstracta, misturando tintas e aguarelas numa celebração à cor. É uma experiência visual mais “divertida do que profunda”, analisa o próprio pintor, que nunca deixa de fora do seu trabalho o exercício dos “doodles”. “É um primeiro exemplo da arte do imperfeccionismo”, conclui.
Christopher (Kit) Kelen é australiano, artista multifacetado e académico. É o principal responsável pela Associação de Estórias de Macau, movimento que se tem vindo a dedicar à publicação de poesia em várias línguas e à escrita criativa.
“Dredging the Delta”, um livro de poemas e desenhos sobre Macau, e “After Meng Jiao” são as obras mais recentes de Kelen, que se vieram juntar a uma grande lista de volumes publicados. “Palimps-ink” é a terceira exposição individual no território e é promovida pelo Albergue de Santa Casa da Misericórdia.
Docente de Literatura e Escrita Criativa na Universidade de Macau, onde trabalha há oito anos, o australiano é ainda o editor da revista on-line “Poetry Macao”, sendo também colaborador da revista Macau Closer.

Centros de jogos electrónicos sob vigilância

Um total de 120 centros de jogos electrónicos foram autuados, nos últimos cinco anos, devido a infracções à regulamentação, revelou a secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan, em resposta a uma interpelação escrita da deputada Iong Weng Ian.
As autoridades policiais realizaram duas mil e sete operações de fiscalização a centros de jogos electrónicos e cibercafés, durante o mesmo período de tempo, tendo detectado, nomeadamente, infracções relacionadas com a permanência de jovens com menos de 16 anos de idade e a utilização de equipamentos sem prévia autorização.
No que diz respeito a cibercafés, foram efectuadas um total de 786 operações policiais, no mesmo período de tempo, que resultaram em autos levantados em relação a 175 estabelecimentos, por infracções diversas às normas legais em vigor.
As operações policiais, ainda segundo a secretária para a Administração e Justiça Florinda Chan, concentraram-se em locais que são frequentados assiduamente por jovens, em épocas específicas, com especial destaque para os períodos de férias de Verão, Natal e Ano Novo.

Decisão judicial poderá transitar em julgado apenas parcialmente
Familiares de Ao Man Long já estão em prisão efectiva

Já não há volta a dar nem a quem recorrer. Os três familiares de Ao Man Long acusados de crimes de branqueamento de capitais já estão em prisão efectiva, embora o acórdão só transite em julgado na próxima segunda-feira. Quanto ao empresário Frederico Nolasco, arguido no mesmo processo, ainda não é certo que a Justiça o dê por culpado dentro de dois dias.

Isabel Castro

O acórdão só transita em julgado na próxima segunda-feira, mas já estão em prisão efectiva os três familiares de Ao Man Long condenados a penas de prisão por crimes de branqueamento de capitais. Ao que o PONTO FINAL apurou, o Tribunal de Última Instância (TUI) emitiu um despacho no passado dia 5, decretando a prisão efectiva para os três arguidos da família Ao.
O TUI encontrou uma argumentação jurídica para evitar que, no passado sábado, o irmão e a cunhada do antigo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Fu e Ao Chan Wai Choi, pudessem sair da prisão por alguns dias. É que no dia 6 cumpriram-se dois anos da prisão preventiva dos dois arguidos, o prazo máximo legal para a aplicação da mais gravosa medida de coacção.
Em termos técnicos, e se o TUI não tivesse agido, o casal Ao passaria a estar detido ilegalmente até ao trânsito em julgado do acórdão – antes de tal acontecer, a lei considera todo os arguidos inocentes. A defesa de Ao Man Fu e Ao Chan Wai Choi tinha já manifestado que não iria apelar para que os arguidos saíssem em liberdade. A verdade é que, se essa situação se tivesse verificado, seria apenas por alguns dias e poderia tornar mais custoso o regresso ao Estabelecimento Prisional de Macau (EPM).
O irmão e a cunhada de Ao Man Long estão agora presos efectivamente e resta-lhes cumprir a pena, com a esperança de que possam beneficiar do mecanismo de liberdade condicional. Como, em sede de recurso, as penas de prisão foram consideravelmente reduzidas em relação ao que tinha sido o entendimento do Tribunal Judicial de Base (TJB), o casal poderá, dentro de relativamente pouco tempo, sair do EPM.

A olhar para a liberdade condicional

Dos cinco arguidos envolvidos no processo, Ao Man Fu foi o mais beneficiado de todos pela decisão do Tribunal de Segunda Instância (TSI). Condenado pelo TJB a 18 anos de prisão, viu a pena ser reduzida para cinco anos, uma vez que o TSI qualificou a prática delituosa como crime continuado.
Assim sendo, e porque já cumpriu dois anos de prisão, o irmão mais novo do ex-governante poderá sair do estabelecimento prisional dentro de sensivelmente um ano e quatro meses, altura em que terá já cumprido dois terços da pena. A mulher, Ao Chan Wai Choi, encontra-se numa situação ligeiramente mais favorável. Detida igualmente a 6 de Dezembro de 2006 e condenada, em sede de recurso, a quatro anos e meio de prisão, poderá deixar o EPM dentro de um ano.
De acordo com o Código de Processo Penal, compete aos serviços prisionais enviarem, até dois meses antes da data admissível para a libertação condicional do condenado, um relatório dos serviços técnicos prisionais sobre a execução da pena e o comportamento prisional do recluso. Além disso, o director do estabelecimento prisional tem que fazer chegar à Justiça um parecer.
Neste tipo de processos, os serviços de reinserção social também têm uma palavra a dizer, uma vez que lhes compete enviar ao juiz um relatório sobre a análise dos efeitos da pena na personalidade do recluso, do seu enquadramento familiar e profissional, e da sua capacidade e vontade de se readaptar à vida social.
Depois, o Ministério Público pronuncia-se sobre o pedido, sendo que terá que o fazer até dez dias antes da data admissível para a libertação condicional. Antes de proferir despacho sobre a concessão da liberdade condicional, o juiz ouve o condenado.
Em Macau, são frequentes os casos em que é negada a liberdade condicional – e tanto assim é que o assunto já foi levado à Assembleia Legislativa por vários deputados e objecto de algumas interpelações ao longo da vida judiciária da RAEM.
No caso de Ao Man Fu e Ao Chan Wai Choi, é-lhes desde logo favorável o facto de não terem cometido crimes de sangue. Foram considerados culpados de crimes económicos, uma vez que a Justiça entendeu que as contas bancárias em Inglaterra de que eram titulares (Ao Chan Wai Choi tinha também uma offshore em seu nome), serviram para branquear capitais. De nada valeu ao casal alegar que não movimentavam as contas em questão.

O outro recurso

A prisão efectiva decretada pela Última Instância teve também efeitos na condição de Ao Veng Kong, o pai de Ao Man Long, que tem estado detido na cela hospitalar do Conde São Januário. Mas o processo do octogenário, que sofre de cancro há já alguns anos, é mais complexo. Além dos quatro anos de prisão a que foi condenado no caso em questão, foram-lhe determinados, num outro processo, mais três anos e meio de privação da liberdade.
Tal como o filho e a nora, Ao Veng Kong beneficiou de uma redução de pena em sede de recurso por se considerar que praticou o crime de forma continuada. Acontece que o delito pelo qual foi condenado no segundo processo foi praticado na mesma altura dos restantes ilícitos que acabaram por ser entendidos como um só. Este crime ficou excluído do primeiro julgamento no TJB por ainda não estar concluída a acusação contra o empresário Tang Kin Man, o arguido “principal” desse segundo processo conexo. A defesa do octogenário ainda pediu a apensação dos processos, por serem referentes a factos idênticos e relativos ao mesmo período de tempo, mas a pretensão foi recusada e os familiares de Ao acabaram por ser julgados uma segunda vez - Ao Man Fu e Ao Chan Wai Choi foram absolvidos dos crimes de que iam acusados.
O advogado de Ao Veng Kong, Pedro Leal, recorreu da decisão do TJB em relação ao cliente, sendo que ainda não está marcado o julgamento na Segunda Instância. Quando tiver que avaliar o caso, o TSI terá, provavelmente, que resolver uma questão jurídica algo intrincada: se Ao Veng Kong cometeu um único crime de branqueamento de capitais de forma continuada, fará sentido ser condenado isoladamente por outro crime da mesma índole, praticado em simultâneo com os restantes ilícitos?

Contagem decrescente

Complicada também é a situação de Frederico Nolasco da Silva, condenado a seis anos de prisão por crimes de corrupção activa e branqueamento de capitais. Uma vez que a defesa já não pode recorrer da decisão do TSI (a Última Instância rejeitou o apelo feito pelo administrador da Companhia de Resíduos Sólidos de Macau), será difícil, do ponto de vista jurídico, demonstrar a inocência do arguido ou conseguir uma diminuição da pena aplicada.
Frederico Nolasco da Silva beneficiou de uma redução de quatro anos na medida inicialmente determinada pelo TJB. Porém, ao contrário dos familiares de Ao Man Long, que a esta altura do processo já cumpriram parte da pena, o empresário tem estado sujeito ao termo de identidade e residência. O que, em termos práticos, faz com que tenha muito mais tempo de prisão para cumprir que os restantes envolvidos, caso o acórdão transite em julgado na parte que lhe diz respeito.
Até à hora de fecho desta edição, desconhecia-se que a defesa do arguido tivesse accionado algum mecanismo legal no sentido de evitar o trânsito em julgado: não obstante a impossibilidade de recurso, poderá sempre requerer um esclarecimento da decisão tomada pelo Tribunal de Última Instância na passada semana ou, num cenário mais complexo, arguir nulidade. São hipóteses que podem ser ainda hoje colocadas em prática, evitando assim que Nolasco da Silva tenha que se apresentar às autoridades na próxima segunda-feira.

Realizadores batalham por uma oportunidade em Macau
A indústria cinematográfica mora ao lado

Numa altura em que termina a Cineasia, uma feira concebida para auxiliar os principais circuitos e os proprietários independentes das salas de cinema, o PONTO FINAL foi ver se existe uma indústria digna desse nome em Macau e quem são os criativos que querem produzir mais e melhor.

Luciana Leitão

Falta tecnologia. Falta dinheiro. Falta vontade. Faltam cineastas. Falta uma escola. Falhas difíceis de suprir e que se traduzem na inexistência de uma indústria cinematográfica em Macau. Pelo menos, foi o que garantiram alguns dos profissionais do território, em declarações ao PONTO FINAL.
Depois de ter lançado uma longa-metragem intitulada “Before Dawn Cracks”, Vincent Hoi participou no projecto “Macau Stories”, com a curta-metragem “Paper Plane”. Sendo um dos realizadores do território mais conhecidos, Vincent Hoi afirma que Macau “não tem uma indústria cinematográfica” porque “não tem mercado nem recursos humanos”.
Não existindo verdadeiras fontes de financiamento, a produção local acaba por “ter de ser independente”, sendo “muito difícil lutar para ter um orçamento que permita realizar uma película”. Questões que se poderiam resolver se o Governo tentasse investir mais na sétima arte do território, até porque, em última instância, mesmo que seja um filme a baixo custo, exige sempre algum dinheiro. “O Executivo poderia criar uma fundação ou organização para investir nas produções locais”, exemplifica.
Aliás, no que toca ao desenvolvimento artístico em geral, “Macau ainda tem um longo caminho a trilhar”, até porque está tudo relacionado com a mentalidade das pessoas no poder. “O Governo não liga ao lado criativo”, diz.
Assumindo-se como um realizador de Macau, Vincent Hoi não nega que gosta de cooperar com o território vizinho, porque “têm mais conhecimentos na área e podem, inclusivamente, ensinar aos locais”. Por exemplo, “no território é muito difícil encontrar um bom operador de câmara”.

A comparação com o território vizinho

Uma história e um “background” diferentes fazem com que o cinema de Hong Kong e de Macau tenha resultados radicalmente opostos. “No território vizinho, o início foi marcado pela aposta de empresários”, conta.
Seguiu-se um evoluir natural que levou, inclusivamente, as pessoas de Macau a tornarem-se fãs do cinema de Hong Kong, sendo agora difícil “arrancar” a produção local, até porque nos outros territórios e países, “a indústria já está plenamente desenvolvida”.
Outro dos factores que, na sua opinião, pode estar na base de uma falta de aposta de Macau na indústria cinematográfica é “o próprio temperamento dos residentes do território”, que apenas “se interessam por uma vida estável, sem grandes aventuras”. E, como já se sabe, “o cinema é um meio tradicionalmente instável, até mesmo em Hong Kong, onde a indústria está em crescimento”.

CUT para promover

A Associação CUT foi criada com o intuito de “promover a cultura cinematográfica e a apreciação dos filmes”, afirma Vincent Hoi, um dos seus membros.
Albert Chu, presidente da associação, e que também participou no projecto “Macau Stories”, um conjunto de cinco estórias filmadas no território, com a película “The Right Time”, afirma que a CUT deverá prosseguir com uma sequela, além de que “no próximo ano [a associação] irá criar um arquivo cinematográfico”, revela.
Para Albert Chu, “Macau não tem ainda recursos humanos e equipamento suficientemente avançado” para poder apostar no crescimento do cinema local.
Na sua opinião, deveria ser criada uma comissão de cinema que providenciasse o financiamento para projectos locais ligados à sétima arte, e que ajudasse também na distribuição dos filmes e na sua entrada no circuito dos festivais.

Défice de formação

Todos os realizadores contactados pelo PONTO FINAL têm, pelo menos, uma opinião em comum: a de que deveria existir mais formação nesta área. Para Fernando Eloy, a inexistência de uma indústria cinematográfica no território deve-se à falta de cineastas, onde se incluem não só os realizadores, mas também os operadores de câmara, assistentes, argumentistas, sendo que para existirem é “indispensável uma escola”. Não tendo o território sequer “uma escola de artes digna desse nome – excepção feita para o conservatório ou para os cursos de design do Politécnico”, torna-se difícil avançar no sector.
Defendendo que para poder haver criação nesta área “são necessárias condições, enquadramentos políticos favoráveis e escolas de qualidade”, Eloy alerta para a existência “aqui ao lado de uma grande fábrica chinesa, sedenta de ideias e um mercado maior ainda”. Em oposição, encontra-se o território, onde continua a “existir uma grande falta de ideias para o futuro das novas gerações apanhadas nesta espiral demoníaca dos néon”.
Na sua opinião, para inverter esta triste realidade, deveria “colocar-se essa necessidade na agenda política e começar por abrir uma Escola com E maiúsculo", e, numa segunda fase, “criar condições para que os investidores abram estúdios”.
Finalmente, sugere que se promova a produção de um filme – ou de uma série de filmes – sobre eventos históricos passados em Macau -, sendo essa “uma excelente forma de promover o perfil internacional do território, de mostrar ao mundo que Macau é muito mais do que aquilo que se julga”.

Uma mais-valia

Quando ao estado do cinema de Macau, o realizador Tomé Quadros identifica no território “alguns casos isolados de criadores muito talentosos que se formam no exterior”, cujo contributo “se tornará uma mais-valia”. Por outro lado, deveria, na sua opinião, haver uma aposta numa formação séria “com credibilidade nos audiovisuais, e desta forma dotar o mercado com profissionais capazes”.
Para que Macau consiga evoluir neste campo, há que apostar numa “formação especializada e, com isso, fazer com que o mercado seja realmente exigente e competitivo”, além de “alargar e institucionalizar os subsídios que apoiem a produção audiovisual local, com objectivos mais ambiciosos”.
Estando radicado no território desde 2004, Tomé Quadros tem vindo a desenvolver a sua actividade em Macau, na área dos Audiovisuais, nomeadamente, em publicidade, ficção e documentário. Aliás, “Macau Music Box” é já o segundo projecto que realiza na RAEM. “Em 2006, através de um registo videográfico realizado para a Bienal de Veneza, Macau foi vista a partir de uma obra arquitectónica da autoria de Manuel Vicente, Carlota Bruni e Rui Leão, e interpretada pela minha forma de observar e filmar”, recorda.
Contudo, desde 2006 até aos dias de hoje, continua a deparar-se com o mesmo obstáculo. “Existe um défice bastante elevado de pessoas devidamente qualificadas na área dos audiovisuais. Apesar de haver alguma evolução no meio em Macau nos últimos quatro anos, continuo a pensar que a questão de fundo prende-se essencialmente com dois vértices: o primeiro com o facto de não existir no território um curso de raiz, médio e/ou superior em Cinema, Televisão e Rádio; e o segundo vértice e consequência do primeiro, trata-se da ausência de uma indústria ou algo similar”, afirma.
Porém, este realizador mostra-se optimista e confiante nos sinais positivos de mudança, “como é exemplo esta iniciativa do Centro Cultural de Macau”. Aliás, também Fernando Eloy considera que o futuro poderá ser diferente, agora que “as indústrias criativas começam a estar na berra”.

Documentários na calha

Tomé Quadros e C.C. foram dois dos seleccionados no âmbito do festival “O Poder do Documentário 2008”, do Centro Cultural de Macau, estando actualmente a filmar, em parceria, um “documentário que visa cartografar o território através das várias comunidades existentes e faz respectivamente o registo de cada musicalidade”.
Intitulado “Macau Music Box”, este projecto “pretende ser o levantamento contemporâneo das diversas comunidades locais, que integra alguns momentos históricos musicais, onde entram profissionais, amadores, músicos, amantes da música directamente relacionados com Macau e de todas as idades”, explicam os mentores, acrescentando que o objectivo é também “promover o conhecimento da multiculturalidade da sociedade local, as vozes locais, a força da música no território e dar conhecimento dos intérpretes de Macau dentro de portas, assim como fora de portas”.
Tratando-se do primeiro projecto desta dupla artística, “Macau Music Box” é “o culminar de um caminho construído desde há duas décadas, por um lado, e, por outro, resulta de um conjunto de factores vários que agora finalmente tiveram o espaço para se concretizar”, e deverá ser entregue até ao próximo dia 15 de Janeiro de 2009.
Não deverá ser, contudo, o primeiro e último projecto desta dupla porque, conforme afirmaram, enigmaticamente, ao PONTO FINAL, “não faltam sementes atiradas à terra desconhecida à espera de frutificar, não faltam perguntas verdadeiramente importantes para serem respondidas e compreendermos a sociedade de Macau. Temos essas linhas mestras registadas, e o trabalho de realização e partilha é visceral e contínuo”.
Por seu turno, Fernando Eloy está a preparar um documentário para o Centro Cultural de Macau sobre “Os Telhados de Macau”. Mais especificamente, debruça-se sobre os “chamados prémios lok koh pun (seis e meio) sendo o “meio” as construções que as pessoas adicionam aos seis andares. Às vezes cinco”, explica, acrescentando que deverá estar pronto até ao dia 15 de Janeiro, devendo estrear no Festival Internacional de Filme e Vídeo de Macau em Abril.

Os “mecenas”

Actualmente, o Centro de Indústrias Criativas, a Casa de Portugal e o Centro Cultural de Macau (CCM) são os organismos que mais têm feito pelo cinema do território. Tendo uma agenda cheia de eventos programada para o próximo ano, a responsável pelo lançamento de projectos da sétima arte do Centro Cultural de Macau afirma que em 2009, além da exibição – e, talvez, do lançamento de mais uma edição – dos trabalhos que venceram “O Poder do Documentário 2008”, está a programar o lançamento do Festival Internacional de Cinema e Vídeo. Além disso, deverá ter lugar o Animacau, esperando “poder ver alguns trabalhos do território”.
E, acredita, o sector “está em crescimento no território”, mas tudo é uma questão de paixão, porque a formação, essa, “pode ser obtida em Hong Kong ou no estrangeiro”. Admitindo que Macau ainda está numa fase muito incipiente no que toda à produção cinematográfica, afirma que “espera ver mais filmes”. E, apesar de os rumos das duas regiões administrativas especiais terem sido opostos, está confiante que “com o progressivo crescimento da economia as pessoas estejam a interessar-se cada vez mais por cinema e na divulgação da sua própria cultura”.
Da parte do CCM, garante, haverá um cada vez maior incentivo à produção local, se surgirem projectos. E, não ignorando que talvez pudesse haver mais formação na área, afirma que o CCM proporciona a quem esteja interessado a realização de workshops na área.

Cineasia terminou ontem em Macau
A crise paralisa o negócio

“Esta edição foi pior do que no ano passado”, diziam os participantes da Cineasia, atribuindo a culpa “à crise financeira internacional”. Apesar de tudo, o balanço foi positivo, tendo sido uma boa oportunidade para estabelecer – ou reforçar – contactos. Foi essa a opinião generalizada dos participantes da feira que se realizou na quarta e quinta-feira, no Wynn e na Torre de Macau, que juntou profissionais que produzem o equipamento necessário para distribuidores e para os proprietários das salas de cinema espalhadas pela Ásia.
Sentada no seu expositor já em jeito de fim de festa, estava a assistente do gerente-principal da Qingdao Fuyi Flame Retardant Acoustical Materials Co., Zhao Hong. Não particularmente satisfeita com o número de clientes que visitaram o seu expositor, afirma que o cinema na Ásia tem algum potencial e deverá crescer nos próximos anos”, mas, contrapõe, “ainda se assiste a muitos filmes norte-americanos”.
Por seu turno, o gerente da Theatre World, uma revista distribuída junto dos proprietários de salas de cinema e que dá conta de todas as novidades da indústria, Raghavendra T., constata que este ano houve menos visitantes. “É a única revista do mundo direccionada para este tipo de leitores”, diz ainda, esclarecendo que, apesar de a sede ser na Índia, é também distribuída nos EUA, Singapura e Holanda. Contudo, espera que a sua revista cresça, até porque ainda há espaço para “o desenvolvimento do sector na Ásia”. Por exemplo, só na Índia “existem 12 mil salas de cinema”.

Dos assentos aos aparelhos de som

No expositor de Guangzhou Lijiang Seating, que vende assentos para as salas de cinema da Ásia, estavam Sunny Huang e Barbara Yan. “O número de clientes diminuiu este ano”, afirmam.
Apesar de defenderem que o cinema na Ásia está em ascensão, não deixam de afirmar que, actualmente, vive-se um período menos favorável, dada a crise económica internacional. Contudo, olhando para o caso do cinema chinês, não têm dúvidas de que “os filmes [chineses] estão a ter cada vez maior saída”, não só no Continente, mas também no estrangeiro.
Já Ioan Allen, vice-presidente sénior da Dolby, afirma que a edição do Cineasia deste ano “foi bastante menos requisitada” do que em 2007. Mais familiarizado com o mercado do Japão, afirma que grande parte das receitas da Dolby advêm dali”.
Por seu turno, Li Jinsong estava bastante contente com o evento, tendo acolhido “um grande número de visitantes” no expositor do GDC Technology. Apesar de reconhecer que o cinema digital ainda não está amplamente divulgado, acredita que tal realidade irá mudar, talvez não com tanta rapidez “como seria desejável”.

Faltaram os habituais

Jim Murray, da empresa Doremi cinema, que visa vender servidores digitais, afirma que, este ano, “recebeu menos pessoas” do que no ano passado, tendo faltado “muitos dos nossos clientes habituais da Índia e da China”. Quanto aos motivos, não tem dúvidas: são os “reflexos da crise financeira internacional”.
Não fosse o actual momento que se vive, e o cinema continuaria – como tem sucedido ao longo dos anos – “a crescer na Ásia, principalmente na China, Índia e Japão”, devido ao dinheiro que cada um desses países possui.
Durante três dias, além de se ter realizado a feira comercial, ocorreram ainda alguns seminários, debates, jantares, lançamento de produtos e atribuição de prémios.

L.L.

8ª edição do Torneio da Soberania junta em Macau equipas de veteranos
Futebol para comemorar a RAEM

Arranca já hoje mais uma edição do Torneio da Soberania. Pelo 8º ano consecutivo, a Associação dos Veteranos de Futebol de Macau reúne no território equipas de vários países e regiões. O Marítimo da Madeira regressa para defender a vitória dos dois últimos anos.

Rui Cid

Ao 9º aniversário da RAEM, a 8ª edição do Torneio da Soberania. Como tem sido habitual nos últimos anos, sempre que o calendário se aproxima de 20 de Dezembro, a Associação dos Veteranos de Futebol de Macau(AVFM) reúne no território vários jogadores menos jovens em representação de diversos países ou regiões.
Na edição número oito da prova, oito são também as equipas presentes. Um número auspicioso por estas paragens que servirá, certamente, de inspiração aos representantes de Hong Kong, Pequim, Taiwan, Tailândia, Malásia, Macau, Portugal e, novidade este ano, Nova Zelândia.
"Nós temos tido a sorte de conseguir apresentar sempre caras novas em cada edição do torneio. E todos os anos temos a preocupação de melhorar para todos, em conjunto, podermos celebrar o estabelecimento da RAEM. Apesar de termos tido algumas dificuldades financeiras, porque somos uma associação sem fins lucrativos, temos tido bastante apoio por parte do governo, da Fundação Macau e outras entidades do sector privado", explica Fernando Manhão, presidente da AVFM e rosto, desde a primeira hora, do Torneio da Soberania.
Hoje, primeiro dia de uma competição que se estende até domingo, as equipas de Hong Kong e Pequim abrem as "hostilidades", num jogo agendado para as 2 da tarde no Canídromo. Mais tarde, às 16h30, Macau, que nas palavras de Francisco Manhão, pode ser uma das surpresas do torneio estreia-se enfrentando a Malásia.
"Este ano vamos ter o Domingos Chan na baliza, o que, à partida, dá uma grande confiança à linha defensiva. Também o Mandinho e o Paulo Conde são peças chaves da nossa equipa. Penso que Macau pode ser a equipa surpresa, mas será difícil conseguir ficar nos primeiros lugares. A equipa que chega de Pequim é muito forte, e HK, que este ano se apresenta bastante renovada, também terá uma palavra a dizer", afiança, em conversa com os jornalistas, o presidente da AVFM.

Presença importante

Mas "o alvo a abater", depois de ter vencido as últimas duas edições da prova, será a equipa de veteranos do Marítimo. A presença da equipa madeirense em Macau é motivo de regozijo para Francisco Manhão que destaca a importância da competição contar com um representante de Portugal.
"A presença do Marítimo é importante uma vez que este torneio celebra o estabelecimento da RAEM, e Macau esteve, ao longo de mais de 400 anos, sob administração portuguesa e, por isso, faz todo o sentido eles estarem cá", frisou.
Para defender o título, o Marítimo traz este ano à RAEM um reforço de peso, o brasileiro Edmilson, jogador que antes de pendurar as botas, em 2005, alcançou uma carreira de sucesso no futebol português, nomeadamente ao serviço do Vitoria de Guimarães, Braga e Marítimo. Ontem, em declarações aos jornalistas, Edmilson mostrou-se feliz por estar, agora, junto dos veteranos dos insulares, "uma maneira de não deixarmos o gosto pelo futebol de lado. O antigo craque refere ainda que o principal objectivo da viagem a Macau "é confraternizar, conhecer outras culturas e estar com novos amigos". Contudo, atira, "se a vitória for repetida será melhor ainda".
Macau e Marítimo defrontam-se amanhã às 16h00 horas. A final do Torneio da Soberania está agendada para domingo, também às quatro da tarde, no complexo desportivo do Canídromo.


Editorial

Silêncio

No debate que se tem travado em torno do destino da actual Livraria Portuguesa, pouco ou nada se sabe sobre o que pensa o governo de Lisboa. Já nos habituámos, por cá, a assistir a estas prolongadas ausências dos responsáveis governamentais, quando as questões são mais complicadas.
Mas a segurança e tranquilidade com que o parceiro privado que integra o IPOR - instituição proprietária das instalações da livraria - refere a intenção de vender o edifício onde funciona aquele estabelecimento, leva a crer que, por Lisboa, o assunto já deverá ter sido discutido.
Até porque, como revelou esta semana o presidente da Fundação Oriente, o governo português parece concordar com tudo aquilo que esta instituição propõe e defende, em questões que são de enorme importância para a comunidade local.
Nem que fosse apenas por mera cortesia, não ficaria mal a Lisboa perguntar qual a opinião dos portugueses que cá residem, em relação às propostas que se tornaram agora conhecidas e que, em termos gerais, só suscitaram opiniões contrárias. Já para não falar, por exemplo, na resposta às interrogações que a Casa de Portugal colocou, e que tarda a chegar.
A verdade é que a ideia do tal grande centro onde se instalariam várias instituições, desde a Escola Portuguesa até ao IPOR, não foi sequer abordada, na recente visita a Macau do ministro Luís Amado.
E das duas uma: ou a ideia é fresquinha, tirada da cartola há muito pouco tempo, ou o ministro não achou necessário saber o que é que os mais directamente interessados pensariam sobre o assunto, quando por aqui passou.
Talvez porque já lhe tivessem garantido que não havia outra hipótese, a não ser que o governo estivesse disposto a assumir a responsabilidade de "despejar" dinheiro mais em Macau para concretizar uma alternativa. O que, como argumento, não deixa de ser sólido e justificaria o silêncio - aparentemente, algo envergonhado - com que o esse mesmo governo tem encarado as críticas a esta solução.

Paulo Reis

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