Bancos de Macau já chegaram a acordo com 90 investidores
Solução à vista no caso dos mini-bonds do Lehman Brothers
As entidades bancárias do território que disponibilizaram títulos do Lehman Brothers já chegaram a acordo com 90 investidores, estando a tratar dos restantes casos de forma particular, a exemplo do que aconteceu em Hong Kong. A revelação foi feita pelo próprio presidente da Autoridade Cambial de Macau que, em resposta a interpelações escritas dos deputados Au Kam San, Ng Kuok Cheong e Iong Weng Ian, assegurou que todos os serviços financeiros prestados por bancos locais estão a ser "devidamente fiscalizados, de acordo com a lei".
Anselmo Teng recordou que, na sequência do caso dos “mini-bonds” do Lehman Brothers, a AMCM acompanhou a situação de imediato, estabelecendo dois grupos internos de trabalho para perceber e avaliar as consequências. O mesmo responsável explicou ainda que, uma vez que a comercialização dos “mini-bonds” do Lehman Brothers no território foi coordenada por distribuidores de Hong Kong, a AMCM entrou em contacto com as entidades supervisoras da RAEHK, de forma a garantir e protecção dos investidores de Macau.
O presidente da Autoridade Cambial de Macau fez ainda alusão aos requisitos de supervisão sobre produtos de investimento estruturado, que a AMCM estabeleceu em 2004, logo que estes surgiram no mercado, dos quais destacou a apresentação detalhada dos produtos, o conhecimento dos clientes, bem como o estabelecimento e execução de alguns elementos de controlo interno e de gestão de risco.
Responsável do sector admite que preços deverão descer nos próximos anos
Mercado imobiliário de Macau a caminho da crise
Os preços praticados no sector imobiliário de Macau deverão descer ainda mais, uma vez que continua também em queda a confiança dos investidores internacionais, admitiu o presidente da Associação de Construtores Civis e Empresas de Fomento Predial (ACCEFP).
Entrevistado pela agência Macau News, Tommy Lau disse não esperar que a situação melhore nos próximos anos, mostrando preocupações em relação ao impacto que o cenário terá no mercado laboral da construção civil. Lau diz ainda ter-se tratado de um “grande azar” a coincidência entre uma “correcção cíclica” no mercado imobiliário local e a crise financeira global.
“Não há dúvida de que o mercado estava a atravessar uma descida normal, cíclica, e depois foi atingido pela crise internacional”, referiu Lau. “Veio tudo junto na pior altura.”
O responsável acredita que se está ainda no início de “tempos difíceis” e considera que o Governo tem um papel importante a desempenhar: o de assegurar que mais projectos vão para a frente, permitindo aos construtores concorrerem a empreitadas financiadas pelo erário público.
Agentes imobiliários contactados pela Macau News explicaram que os preços praticados caíram cerca de 60 por cento nalguns projectos de luxo desde que o sector atingiu o seu ponto máximo ao nível da especulação, em Março do ano passado. Os preços do mercado secundário baixaram entre 20 a 30 por cento durante o mesmo período.
Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, foram apenas seis os novos projectos iniciados em Outubro de 2008, sendo que no mesmo mês do ano anterior chegaram aos 324.
Tommy Lau relatou que os construtores estão preocupados com o futuro e aguardam agora que o Governo avance com medidas que lhes garantam ter trabalho suficiente.
O presidente da ACCEFP queixou-se de um fenómeno que tem estado, nos últimos meses, na origem de muitas críticas do sector: desde que rebentou o escândalo de corrupção protagonizado pelo ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, que a cidade tem vindo a sofrer com os atrasos na avaliação de projectos, o que fez com que alguns investidores internacionais tenham mudado de intenções em relação a Macau, desistindo da sua presença na cidade.
“Os processos têm sido muito lentos e estamos a pressionar o Governo para que faça mais nesta área, de modo a assegurar que há projectos privados a avançar”, disse. “Isto é algo que, obviamente, iria ajudar no actual ambiente.”
Lau disse ainda estimar que os trabalhadores não-residentes sejam os mais afectados pelos despedimentos na cidade, mas admitiu ser ainda cedo para contas concretas.
Cerca de 11 mil trabalhadores perderam os seus empregos ou foram transferidos após a suspensão das obras, em Novembro passado, do projecto da Venetian no Cotai.
“Se a mão-de-obra residente começar a perder o seu emprego por não haver trabalho, serão ainda maiores os problemas ao nível económico”, alertou o presidente da ACCEFP. “É uma espiral que não queremos ver acontecer, as consequências não seriam positivas para ninguém.”
No terceiro trimestre do ano passado, mais de 41 mil residentes de Macau estavam empregados na área da construção civil. É o terceiro sector que mais postos de trabalho gerava na altura, logo a seguir ao jogo e à hotelaria.
Para Tommy Lau, a construção de infra-estruturas é uma das soluções para a actual crise. “A despesa pública que o Governo anunciou para este sector é essencial”, reiterou, apelando às autoridades que concretizem os planos. “São passos positivos que ajudarão Macau a ultrapassar a crise”, rematou.
D. José Lai, Bispo de Macau:
“Os jovens devem voltar para as escolas”
Em tempo de crise económica, o melhor é apostar numa formação que permita vencer os desafios do futuro, é o conselho do Bispo de Macau, que se mostra optimista quanto à reconciliação entre o Vaticano e a China e faz um balanço positivo de quase dez anos de RAEM.
Ricardo Pinto
A influência da escola, não a tradição familiar, conduziu José Lai Hung-seng aos caminhos da Igreja. Nascido no seio de uma família budista do território, o actual Bispo de Macau deve à sua irmã Teresa e ao cónego António Ngan, que dirigia a escola Dom João Paulino, na Taipa, o ter sido baptizado e prosseguido depois os estudos religiosos. Segundo entre dez irmãos a aderir à religião católica, José Lai veria mais tarde também os seus pais converterem-se ao cristianismo. “Foi o cónego Ngan que lhes deu a conhecer Cristo, o Salvador do mundo”, recorda o dirigente máximo da Igreja Católica em Macau, e primeiro bispo aqui nascido. “Ele era um homem notável, com uma grande queda para a música e um trabalho muito importante, como autor, no ensino da língua portuguesa a chineses de Macau”.
Foi também a conselho do padre Ngan que José Lai se matriculou no seminário de S. José para seguir o sacerdócio. Esteve depois quatro anos em Portugal a estudar teologia, seis meses em Roma a completar a formação. Foi ordenado padre em 1972, ano em que regressou a Macau. Com excepção de uma passagem de três anos por Singapura, onde foi o pároco da comunidade portuguesa, desenvolveu sempre no território a sua actividade religiosa. Além de dirigir várias paróquias, foi reitor do Seminário de S. José e ensinou religião e moral em várias escolas e até no estabelecimento prisional de Macau, antes de ser eleito bispo de Macau, em 2003, sucedendo a D. Domingos Lam Ka-tseung.
Nos cinco anos que leva de bispado, D. José Lai, agora com 62 anos de idade, teve já oportunidade de se encontrar com o Papa Bento XVI, que descreve como “um homem muito simpático e um grande teólogo”. Foi por esse encontro que começou a nossa entrevista.
– O seu encontro com o Papa e a atenção que ele dá às dioceses de Macau e Hong Kong são um sinal claro de que conta convosco para ajudar ao processo de reconciliação com a China?
D.José Lai – Como Macau e Hong Kong são parte da China, conhecem bem o Continente e as suas gentes. E são duas dioceses que podem ajudar o Vaticano a conhecer melhor a China. Aliás, Macau já tem essa tradição desde o longínquo séc. XVI, pois era daqui que os missionários partiam para as suas missões de evangelização na China. Essa experiência pode agora ser muito útil à Santa Sé. Mas eu viajo muitas vezes para a China sem que isso signifique que esteja a cumprir uma missão do Vaticano. Vou visitar os locais onde estiveram os nossos missionários, aprofundar o meu conhecimento da Igreja chinesa.
- Quando foi a última vez que teve contactos com as autoridades chinesas?
D.José Lai - Em 2005, quando tomei posse como Bispo de Macau e após ter sido convidado a ir a Pequim para falar com os dirigentes do governo central. E falo com eles sempre que autoridades religiosas chinesas se deslocam a Macau.
- Como será possível resolver o impasse entre o Vaticano e Pequim se não houver um acordo sobre quem tem legitimidade para nomear os bispos chineses?
D.José Lai - A diplomacia está a fazer o seu trabalho. O diálogo entre as duas partes está a ser muito positivo.
- A recente mensagem do Papa aos fieis na China foi um passo importante no sentido da reconciliação?
D.José Lai - A Igreja é uma – e foi isso que o Papa salientou na sua mensagem. Não sei se a reconciliação entre o Vaticano e Pequim está para breve ou não, mas tenho uma grande esperança de poder ver esse dia.
- Têm ocorrido contactos entre as duas partes aqui em Macau?
D.José Lai - Não posso dizer nada sobre isso (risos).
- A Igreja Católica de Macau está preocupada com a regulamentação do art. 23 da Lei Básica?
D.José Lai - A lei em si não tem nada de mal. Defender a integridade da nação, defender a sua segurança, é algo de importante. Mas é também importante saber como vai ser a redacção final da lei, e como vai ser aplicada pelos tribunais. É preciso ser tudo muito claro. O governo ouviu a opinião das pessoas e já clarificou a questão dos actos preparatórios, determinando o seu conteúdo. Mas falta saber se as pessoas que vão aplicar a lei entenderam bem o seu sentido. Outra preocupação que as pessoas manifestaram foi o período muito curto de consulta pública. Deviam ter sido pelo menos três meses. E outra preocupação ainda é saber se na aplicação da lei a Igreja vai ser considerada uma entidade politica. Se for mal interpretada a lei, tornar-se-ão difíceis os contactos entre a Igreja de Macau e o Vaticano. É claro que nós consideramos o Vaticano como uma entidade religiosa, e não como uma entidade política. Por isso, os contactos entre as duas partes não devem ser abrangidos pela nova lei.
- Manifestou essa preocupação ao governo?
D.José Lai - Sim, tivemos uma conversa muito aberta com os juristas que elaboraram a lei e explicámos-lhes as nossas preocupações.
- Concorda com a ideia de que se pode instalar um clima de medo em Macau com a entrada em vigor desta lei?
D.José Lai - Em relação à Igreja não existem receios a esse nível porque nós não nos metemos em política. Além disso, o governo parece disposto a rever as normas relacionadas com o segredo de Estado, o que pode tranquilizar mais as pessoas. Não nos podemos esquecer também que a lei ainda vai ser submetida à Assembleia Legislativa, que terá a última palavra sobre a sua redacção. Não acredito que venha a viver-se um clima de medo em Macau.
- Como vê Macau quase dez anos após a transição? Como tem sido a adaptação da Igreja Católica?
D.José Lai - Muito serena. Não tem havido uma grande evolução desde 1999. O número de católicos não está a diminuir, antes pelo contrário. Todos os anos temos um grande número de baptismos. Adultos são cerca de 200 e filhos de famílias cristãs cerca de 150, o que dá um total de 350 por ano. E o número continua a aumentar. Ao todo há hoje entre 30 mil e 40 mil católicos em Macau.
- As escolas católicas continuam a ser a grande fonte de novos fieis, como aconteceu no seu caso?
D.José Lai - Bom, hoje em dia a maioria das escolas católicas já não é dirigida por padres, mas sim por leigos. Mas é verdade que as escolas continuam a ter muita importância no esforço de evangelização.
- E qual é a situação financeira da Igreja?
D.José Lai - Razoável. Antigamente tínhamos subsídios do Estado que nos permitiam viver sem problemas. Desde 1999 tivemos que nos tornar auto-suficientes. Continua, é claro, a haver subsídios do governo para as escolas e instituições de assistência social ligadas à Igreja, como acontece com as outras escolas e outras organizações de ajuda aos mais desfavorecidos, o que é uma importante ajuda para o cumprimento da nossa missão.
- Mas os padres são poucos e continuam a ganhar mal, certo?
D.José Lai - Sim, porque o número de católicos tem vindo a aumentar e o número de padres não. Temos em Macau 14 sacerdotes das dioceses e outros 50 religiosos, para além de cerca de 200 irmãs. E criámos em Abril uma comissão para promover novas vocações.
- O objectivo é relançar Macau como principal centro de formação de sacerdotes católicos no Extremo Oriente?
D.José Lai - Sim. Começámos no ano passado cursos de teologia e sobre as grandes religiões no seminário de S. José, que estão a ser dirigidos pelo Instituto Inter-Universitário e que são resultado da colaboração entre a diocese de Macau e a Universidade Católica de Portugal. Queremos que Macau seja de novo um centro de formação não só para o clero local mas também para os leigos ou religiosos dos países desta região da Ásia. Quando estive com os dirigentes chineses em Pequim, convidei-os a enviarem para Macau os seus seminaristas e todas as outras pessoas interessadas em estudar a religião católica.
- Convite que já produziu resultados?
D.José Lai - Estamos ainda à espera. É preciso algum tempo para se definir bem este processo.
- Há dois anos a Igreja de Macau lançou uma Pastoral sobre a Pobreza, quando começaram a surgir aqui sinais de um alargamento do fosso entre ricos e pobres. Como vê agora a crise entretanto generalizada e o seu impacto nas pessoas mais carenciadas?
D.José Lai - As pessoas têm que se unir mais do que nunca, porque a união faz a força. Temos que chamar os católicos a um clima de harmonia e de entreajuda, não só entre si como também em relação a todos os outros cidadãos de Macau. E temos todos que fazer um esforço grande para educar os jovens, para que possam empregar bem o seu dinheiro. Nos últimos anos foi muito fácil para eles ganhar dinheiro nos casinos, mas isso pode não ter sido muito bom se eles entretanto não aprenderam a utilizar bem o dinheiro. E acho que se houver agora novamente menos empregos nos casinos, os jovens devem voltar para as escolas. Aproveitam assim este tempo de crise económica para reflectirem e se prepararem melhor para os desafios do futuro. O governo gasta muito dinheiro a promover o ensino gratuito e os jovens não devem perder essa oportunidade.
- Faz uma apreciação positiva destes dois mandatos de Edmund Ho como chefe do Executivo?
D.José Lai - Sim, ele deu um grande impulso ao desenvolvimento económico de Macau e melhorou muito a imagem do território a nível internacional. Ajudou também a fazer de Macau uma plataforma de contactos entre a China e os países de língua portuguesa. Enfim, fez muita coisa positiva. É pena que o tempo não tenha chegado para resolver os problemas da habitação e dos transportes. E foi pena também o caso de corrupção do (ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas) Ao Man Long, que deixou chocados os cidadãos de Macau.
- O grande crescimento do sector do jogo, isso jamais seria uma receita da Igreja, obviamente.
D.José Lai - Sim, Macau nestes anos tornou-se uma sociedade mais materialista e consumista. Mas isso obriga a Igreja a reflectir sobre os problemas, para poder continuar a acompanhar as pessoas nas suas dificuldades diárias. Há coisas boas e más neste mundo, isso é inevitável. Só temos que aprender a distingui-las. A Igreja tem que acompanhar a evolução social.
- Que mensagem deixa aos católicos de Macau à entrada de um ano novo?
D.José Lai - É a mesma mensagem do Natal, quando celebramos o nascimento de Jesus. Ele veio a este mundo para viver como um homem verdadeiro. Temos que seguir o seu exemplo, procurando viver como homens verdadeiros, num clima de fraternidade e paz universal. Somos todos irmãos e todos temos um dever de fraternidade para com o nosso semelhante. Em relação aos objectivos da Igreja de Macau para este novo ano, vamos procurar aperfeiçoar os nossos estabelecimentos de ensino e reforçar o pessoal, quer para a educação quer para as paróquias. Há padres coreanos que estão a juntar-se a nós e na Páscoa virá instalar-se em Macau uma congregação de irmãs franciscanas, que vêm apoiar a comunidade portuguesa. Quanto à actividade do governo, espero que seja o ano do arranque do sistema de metro ligeiro, pois o sector dos transportes em Macau está claramente a precisar de melhoras.
Pereira Coutinho entrega carta a Edmund Ho
Recado da ATFPM para Pequim
O presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau entregou ontem ao líder do Governo uma carta subscrita por 6.000 pessoas que define o perfil de um jurista e falante de português e chinês para chefiar o futuro Governo.
“Residente de Macau a trabalhar na Função Pública há mais de dez anos e com larga experiências administrativa, com formação jurídica e bilingue (falante de português e chinês)”, são as principais características do futuro líder do Governo que a Associação dos Trabalhadores da Função Pública gostaria de ver, explicou o seu presidente, Pereira Coutinho, em declarações à agência Lusa.
“Lançámos uma consulta e a maioria das pessoas concordou com este perfil e por isso iniciámos uma recolha de assinaturas para entregar com uma carta ao chefe do Executivo”, Edmund Ho, disse o mesmo responsável, que exerce também o cargo de deputado à Assembleia Legislativa de Macau e de conselheiro das Comunidades Portuguesas.
A maioria das 6.000 assinaturas pertencem a quadros da função pública, mas o objectivo, segundo Pereira Coutinho, é a recolha de 10 mil.
Pereira Coutinho diz ter antecipado a entrega da carta porque chega no sábado a Macau o vice-presidente chinês Xi Jinping: "Queríamos que Edmund Ho tivesse conhecimento desta vontade da população para a transmitir ao responsável de Pequim.”
“A recolha de assinaturas continua, mas a carta está entregue e entendemos que o chefe do Executivo deve dar conhecimento dela aos dirigentes chineses”, assinalou.
Em 2009 Macau escolhe o futuro chefe do Executivo, substituto de Edmund Ho, que a 20 de Dezembro termina o segundo e último mandato de cinco anos permitido pela lei.
Com lugar na comissão de selecção por inerência da sua condição de deputado, Pereira Coutinho sustenta que depois da manifestação de disponibilidade dos candidatos caberá à comissão escolher quem melhor defenderá os interesses do território.
Além das eleições para a liderança do Executivo, a segunda metade de 2009 será ainda preenchida com as eleições para a Assembleia Legislativa e Pereira Coutinho garantiu à Lusa que voltará a liderar a lista da “Nova Esperança” numa candidatura ao hemiciclo da Praia Grande.
Empresário aposta na banca portuguesa
Stanley Ho aumenta participação no Millenium BCP
O empresário Stanley Ho e a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau passaram a deter 2,26 por cento do capital social do Banco Comercial Português (BCP), anunciou ontem o banco.
Stanley Ho tem directamente uma participação de 30.142.080 acções, representativas de cerca de 0,64 por cento do capital social do Millenium BCP.
A esta participação juntam-se acções representativas de 1,62 por cento compradas agora pela STDM - Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, da qual Stanley Ho é o maior accionista.
"No dia 31 de Dezembro de 2008, a STDM adquiriu à sua subsidiária Energy Finance Portugal a totalidade das 76.112.854 acções que esta sociedade detinha representativas do capital social do Banco Comercial Português", segundo informação dada ao mercado pelo banco.
Estas 76.112.854 acções são representativas de cerca de 1,62 por cento do capital social do BCP.
Stanley Ho, por sua vez, detém, directa e indirectamente, uma participação total no capital da STDM de 32,2 por cento, refere ainda o comunicado divulgado através da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.
Pequim quer transformar o Delta do Rio das Pérolas num laboratório de inovação tecnológica
O futuro da China pode passar por aqui
Trinta anos após o início da reforma económica do Império do Meio, a China volta a olhar para Sul para definir um novo modelo de desenvolvimento. Pequim anunciou ontem que pretende transformar o Delta do Rio das Pérolas – Macau e Hong Kong incluídas – na área mais dinâmica da região Ásia Pacífico em 2020. Aí está a verdadeira oportunidade da RAEM se internacionalizar.
Isabel Castro
São duas notícias curtas e que não fornecem informações pormenorizadas, mas que dão a conhecer uma decisão de fundo tomada por Pequim. A Agência Xinhua avançou ontem que o Delta do Rio das Pérolas, que esteve na vanguarda da abertura da China, vai ser o balão de ensaio do país para aprofundar a reforma da economia e permitir uma maior abertura o mundo.
A decisão faz parte de um plano definido pela Comissão da Reforma e do Desenvolvimento Nacional. O organismo quer que o Delta do Rio das Pérolas – juntamente com Hong Kong e Macau – se transforme na “zona mais dinâmica da região Ásia Pacífico” e seja “globalmente competitiva”, objectivo a cumprir até 2020.
A ideia é transformar uma área do país que está a ser severamente afectada pela crise financeira, e que até à data tem vivido sobretudo das exportações, num “importante centro de inovação”, explica a Xinhua, citando o anúncio da entidade que define as políticas macroeconómicas da China.
O plano compreende a criação, no espaço dos próximos três anos, de cerca de cem laboratórios estatais para a inovação na área da engenharia, bem como da pesquisa e do desenvolvimento.
Em 2012, deverão estar a funcionar entre três a cinco centros de desenvolvimento de alta tecnologia, cujo objectivo é gerarem 100 mil milhões de yuan em produção industrial. A meta é conseguir que, em 2020, as indústrias de alta tecnologia gerem, pelo menos, 30 por cento das produções totais da região.
Da oficina para o laboratório
Esta nova definição do que deverá ser a zona do Delta do Rio das Pérolas no contexto global da China não surpreende totalmente José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), que recorda que se fala na transformação do papel do país há já um par de anos. “É a China a querer passar de oficina do mundo para o estúdio do mundo.”
Para Sales Marques, este plano que agora foi divulgado significa que Pequim fez uma “reavaliação da melhor forma de integrar o país no mundo” actual. Embora a crise financeira tenha levado a China a apostar no desenvolvimento do mercado interno – opção que o presidente do IEEM considera acertada – tal não significa que deixe de pensar na abertura ao mundo, até porque “o factor externo foi sempre muito importante para o desenvolvimento económico”.
Porém, com esta decisão de investimento nas altas tecnologias, o país terá possibilidade de “fazer uma reconversão do seu papel, passando de uma economia exportadora com um valor acrescentado relativamente baixo, para uma economia com produtos e serviços de elevado valor acrescentado”.
Historicamente, o Sul da China foi a grande porta para o mundo. Houve uma altura em que as atenções ao nível do desenvolvimento industrial se viraram para Xangai, mas a área do Delta do Rio das Pérolas voltará a ser, trinta anos depois de uma experiência que se revelou bem sucedida, o balão de ensaio do país.
“É uma análise feita com muito realismo, tendo em conta o que a zona do Sul pode oferecer àquilo que é o mundo de hoje”, entende Sales Marques. Não obstante ser um mundo em redefinição, com muitas certezas deitadas por terra devido à crise financeira internacional, certo é que, para o responsável máximo pelo IEEM, a área onde Macau se integra oferece aquilo que o resto da China não terá: a diversidade.
“Xangai terá mais capacidades em termos de base industrial, mas nós temos mais variedade.” Uma combinação entre Macau, Hong Kong e a província de Guangdong permite, em termos gerais, uma oferta mais diversificada de bens e serviços. “Temos um enorme potencial”, salienta. Sales Marques acredita que “se for tudo bem orientado e canalizado, esta zona do mundo tem condições para, dentro de alguns anos, ser uma mega polis não só na Ásia mas no mundo”.
O problema dos recursos humanos
“A China tem enormes potenciais para desenvolver a área das novas tecnologias. Mas tudo depende de quem estiver a liderar os projectos.” Filipe Bragança, designer industrial especialista na concepção de automóveis, fala com conhecimento de causa. Há uma mão-cheia de anos que trabalha na província de Guangdong, precisamente na área das novas tecnologias.
O designer português criou na Universidade Sun Yat-sen de Cantão um laboratório de engenharia que está a trabalhar na concepção de veículos amigos do ambiente, construídos única e exclusivamente através de novas tecnologias. O trabalho quotidiano de Bragança leva-o a apontar os recursos humanos como o principal problema.
“A não ser que se mude quem está à frente dos projectos e haja uma maior liberdade de acção, o processo será lento”, avisa, lembrando que a Europa e o Japão, no que às tecnologias diz respeito, estão “trinta anos à frente da China”. No entanto, ressalva o designer, o país tem “uma enorme capacidade em termos de infra-estruturas e de meios, conseguem-se fazer coisas de um dia para o outro”.
O plano da Comissão da Reforma e do Desenvolvimento Nacional também não surpreende Filipe Bragança, que tem tido sinais nesse sentido. “Sabemos que o Governo está disposto a apoiar-nos e quer avançar mais rapidamente”, diz o criador do chamado “táxi de Cantão”, um veículo totalmente amigo do ambiente, que ainda não começou a ser produzido, embora já esteja em fase de testes - são as tais “burocracias” que o país tem que conseguir ultrapassar para conferir um novo dinamismo a este tipo de indústrias.
O papel da criatividade
Transformar o Delta do Rio das Pérolas num grande laboratório exige sobretudo criatividade em termos práticos, a funcionar sem obstáculos de natureza administrativa. Filipe Bragança tem também as suas dúvidas em relação à actual capacidade de inovação de quem trabalha neste ponto do planeta. “Em termos de execução, há pessoas excelentes. Quanto à inovação e à criatividade, ainda estão muito verdes”, sublinha.
Sales Marques vinca igualmente a importância da criatividade, mas no sentido de que poderá ser uma mais-valia para Macau neste enquadramento regional, caso a RAEM seja capaz de aproveitar a oportunidade. “Hoje em dia, a criatividade vai além da abordagem artística. O conceito de inovação faz com que os produtos tenham valor acrescentado, permite que sejam mais competitivos.”
Recordando que Macau teve sempre um papel de grande importância no contacto da China com o mundo, o presidente do IEEM critica o facto de a RAEM ter sido um “pouco preguiçosa” na questão da internacionalização. Para que Macau se inscreva neste conceito de “globalmente competitivo”, é preciso deixar de contar apenas com as benesses que a terra foi tendo. “Temos que fazer um esforço maior, conquistar mercados, olhar para fora. Só assim é que se desenvolve uma cidade internacional”, aponta.
“Temos que nos abrir ao exterior, dando valor ao que já temos, valorizando os jovens que voltam e que infelizmente não têm muitas oportunidades porque são triturados pela burocracia”, critica. “É preciso aceitar a ‘instabilidade’ que a criatividade gera”, aconselha.
Ainda no contexto do posicionamento da China no mundo e do impacto para a RAEM, o responsável pelo Instituto de Estudos Europeus recorda que Macau tem funções específicas no relacionamento com o Velho Continente e com o espaço lusófono que devem ser aproveitadas. “É um bom argumento para que a RAEM tenha um papel mais importante dentro desta estratégia.”
Volume de negócios caiu 11 por cento em Novembro
Transportadoras áreas chinesas com pouca carga
As transportadoras aéreas de carga da China sofreram, em Novembro, a pior queda no seu volume de negócios, à medida que a Europa e os Estados Unidos reduzem as suas importações.
De acordo com o South China Morning Post, as companhias chinesas transportaram, naquele mês, menos 11 por cento de carga do que no período homólogo de 2007. Já em Outubro, os negócios destas transportadoras tinham registado uma quebra de 3 por cento. Macau e Hong Kong contribuíram para estes números, com os carregamentos destinados às duas RAEs a caírem cerca de 22 pontos percentuais.
O território vizinho, cujo porto é a rota principal para as exportações chinesas, não escapou a esta crise, tendo as companhias de carga averbado perdas substanciais. Um alto responsável da Cathay Pacific, citado pelo SCMP, prevê mesmo que as contas do mês de Dezembro assinalem perdas de mais de 20 por cento, suplantando o decréscimo de 15 pontos percentuais de Novembro.
"As fábricas ao longo do Delta do Rio das Pérolas estão, literalmente, a trabalhar à custa de encomendas antigas. Não há notícia que novos contratos tenham sido assinados recentemente", sublinha, ao SCMP, o director executivo da Associação de Exportadores de Hong Kong.
Em declarações àquela publicação, Sunny Ho Lap-kee prevê que o mercado não mostre sinais de recuperação até ao último trimestre do ano, uma vez que os contractos prevêem habitualmente prazos de 6 meses para a entrega de novas encomendas.
"O enfraquecimento nos carregamentos aéreos vai continuar a ensombrar-nos, uma vez que a procura de produtos de alta gama, como artigos electrónicos ou de moda, está a diminuir", lamenta, Chen Daqian, vice-presidente da China Cargo Airlines, companhia responsável por cerca de 18 por cento da carga aérea que entra e sai de Xangai.
"Este ano, não temos contractos a longo prazo uma vez que os despachantes não estão optimistas quanto ao futuro", acrescenta o mesmo responsável, em entrevista ao jornal de HK.
Usualmente, os despachantes costumam assinar contractos anuais para garantir preços mais baixos e assegurar espaço para as suas encomendas na alturas mais movimentadas do ano.
A frota da China Cargo Airlines é composta por 11 aviões que operam entre a Europa e Estados Unidos. Contudo, de acordo com Chen Daqin, a companhia pondera diminuir o número de rotas, numa tentativa de reduzir custos.
Já no inicio deste mês, a Cathay Pacific tinha optado por manter dois aviões em terra, numa medida que significou uma perda de 10 por cento na capacidade de operar serviços para os Estados Unidos e Europa.
Editorial
Reformas
O processo de industrialização da China, iniciado com a política de abertura e modernização, transformou o país na maior fábrica do mundo. Fechado um ciclo de trinta anos de crescimento económico, o governo de Pequim revelou ontem as linhas gerais de um projecto de desenvolvimento ainda mais ambicioso: transformar essa gigantesca fábrica num centro de inovação e desenvolvimento tecnológico, com a província de Guangdong como ponta-de-lança.
Depois da quantidade, surge agora a aposta na qualidade, um pouco à semelhança do que aconteceu com o Japão do pós-guerra. E não é por acaso que a opção aposta na província onde se situam Macau e Hong Kong. A diversidade que sempre caracterizou esta região da China, onde se cruzaram povos, culturas e formas de estar diferentes, é uma mais-valia importante, quando se fala em desenvolvimento tecnológico e científico.
No passado, as grandes civilizações desenvolveram-se em torno de locais onde se cruzavam as rotas de comércio e os contactos entre os povos. A percepção desta mais-valia talvez permita uma reflexão em torno do que tem sido uma postura redutora, por parte de algumas correntes de opinião locais, para quem tudo o que é exterior é dispensável e estará a mais, neste território.
Apostar na inovação, numa economia globalizada como a de hoje, implica algo mais do que abrir mercados e ampliar trocas comerciais. É necessário ter a capacidade para atrair especialistas e investigadores de outros países, competindo com outros centros de excelência. E não é com apelos de carácter xenófobo e políticas excessivamente proteccionistas - que se têm tornado desagradavelmente frequentes, na sociedade local - que se consegue a massa crítica humana necessária para desenvolver centros de investigação e pesquisa com competitividade internacional.
Paulo Reis
Solução à vista no caso dos mini-bonds do Lehman Brothers
As entidades bancárias do território que disponibilizaram títulos do Lehman Brothers já chegaram a acordo com 90 investidores, estando a tratar dos restantes casos de forma particular, a exemplo do que aconteceu em Hong Kong. A revelação foi feita pelo próprio presidente da Autoridade Cambial de Macau que, em resposta a interpelações escritas dos deputados Au Kam San, Ng Kuok Cheong e Iong Weng Ian, assegurou que todos os serviços financeiros prestados por bancos locais estão a ser "devidamente fiscalizados, de acordo com a lei".
Anselmo Teng recordou que, na sequência do caso dos “mini-bonds” do Lehman Brothers, a AMCM acompanhou a situação de imediato, estabelecendo dois grupos internos de trabalho para perceber e avaliar as consequências. O mesmo responsável explicou ainda que, uma vez que a comercialização dos “mini-bonds” do Lehman Brothers no território foi coordenada por distribuidores de Hong Kong, a AMCM entrou em contacto com as entidades supervisoras da RAEHK, de forma a garantir e protecção dos investidores de Macau.
O presidente da Autoridade Cambial de Macau fez ainda alusão aos requisitos de supervisão sobre produtos de investimento estruturado, que a AMCM estabeleceu em 2004, logo que estes surgiram no mercado, dos quais destacou a apresentação detalhada dos produtos, o conhecimento dos clientes, bem como o estabelecimento e execução de alguns elementos de controlo interno e de gestão de risco.
Responsável do sector admite que preços deverão descer nos próximos anos
Mercado imobiliário de Macau a caminho da crise
Os preços praticados no sector imobiliário de Macau deverão descer ainda mais, uma vez que continua também em queda a confiança dos investidores internacionais, admitiu o presidente da Associação de Construtores Civis e Empresas de Fomento Predial (ACCEFP).
Entrevistado pela agência Macau News, Tommy Lau disse não esperar que a situação melhore nos próximos anos, mostrando preocupações em relação ao impacto que o cenário terá no mercado laboral da construção civil. Lau diz ainda ter-se tratado de um “grande azar” a coincidência entre uma “correcção cíclica” no mercado imobiliário local e a crise financeira global.
“Não há dúvida de que o mercado estava a atravessar uma descida normal, cíclica, e depois foi atingido pela crise internacional”, referiu Lau. “Veio tudo junto na pior altura.”
O responsável acredita que se está ainda no início de “tempos difíceis” e considera que o Governo tem um papel importante a desempenhar: o de assegurar que mais projectos vão para a frente, permitindo aos construtores concorrerem a empreitadas financiadas pelo erário público.
Agentes imobiliários contactados pela Macau News explicaram que os preços praticados caíram cerca de 60 por cento nalguns projectos de luxo desde que o sector atingiu o seu ponto máximo ao nível da especulação, em Março do ano passado. Os preços do mercado secundário baixaram entre 20 a 30 por cento durante o mesmo período.
Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, foram apenas seis os novos projectos iniciados em Outubro de 2008, sendo que no mesmo mês do ano anterior chegaram aos 324.
Tommy Lau relatou que os construtores estão preocupados com o futuro e aguardam agora que o Governo avance com medidas que lhes garantam ter trabalho suficiente.
O presidente da ACCEFP queixou-se de um fenómeno que tem estado, nos últimos meses, na origem de muitas críticas do sector: desde que rebentou o escândalo de corrupção protagonizado pelo ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, que a cidade tem vindo a sofrer com os atrasos na avaliação de projectos, o que fez com que alguns investidores internacionais tenham mudado de intenções em relação a Macau, desistindo da sua presença na cidade.
“Os processos têm sido muito lentos e estamos a pressionar o Governo para que faça mais nesta área, de modo a assegurar que há projectos privados a avançar”, disse. “Isto é algo que, obviamente, iria ajudar no actual ambiente.”
Lau disse ainda estimar que os trabalhadores não-residentes sejam os mais afectados pelos despedimentos na cidade, mas admitiu ser ainda cedo para contas concretas.
Cerca de 11 mil trabalhadores perderam os seus empregos ou foram transferidos após a suspensão das obras, em Novembro passado, do projecto da Venetian no Cotai.
“Se a mão-de-obra residente começar a perder o seu emprego por não haver trabalho, serão ainda maiores os problemas ao nível económico”, alertou o presidente da ACCEFP. “É uma espiral que não queremos ver acontecer, as consequências não seriam positivas para ninguém.”
No terceiro trimestre do ano passado, mais de 41 mil residentes de Macau estavam empregados na área da construção civil. É o terceiro sector que mais postos de trabalho gerava na altura, logo a seguir ao jogo e à hotelaria.
Para Tommy Lau, a construção de infra-estruturas é uma das soluções para a actual crise. “A despesa pública que o Governo anunciou para este sector é essencial”, reiterou, apelando às autoridades que concretizem os planos. “São passos positivos que ajudarão Macau a ultrapassar a crise”, rematou.
D. José Lai, Bispo de Macau:
“Os jovens devem voltar para as escolas”
Em tempo de crise económica, o melhor é apostar numa formação que permita vencer os desafios do futuro, é o conselho do Bispo de Macau, que se mostra optimista quanto à reconciliação entre o Vaticano e a China e faz um balanço positivo de quase dez anos de RAEM.
Ricardo Pinto
A influência da escola, não a tradição familiar, conduziu José Lai Hung-seng aos caminhos da Igreja. Nascido no seio de uma família budista do território, o actual Bispo de Macau deve à sua irmã Teresa e ao cónego António Ngan, que dirigia a escola Dom João Paulino, na Taipa, o ter sido baptizado e prosseguido depois os estudos religiosos. Segundo entre dez irmãos a aderir à religião católica, José Lai veria mais tarde também os seus pais converterem-se ao cristianismo. “Foi o cónego Ngan que lhes deu a conhecer Cristo, o Salvador do mundo”, recorda o dirigente máximo da Igreja Católica em Macau, e primeiro bispo aqui nascido. “Ele era um homem notável, com uma grande queda para a música e um trabalho muito importante, como autor, no ensino da língua portuguesa a chineses de Macau”.
Foi também a conselho do padre Ngan que José Lai se matriculou no seminário de S. José para seguir o sacerdócio. Esteve depois quatro anos em Portugal a estudar teologia, seis meses em Roma a completar a formação. Foi ordenado padre em 1972, ano em que regressou a Macau. Com excepção de uma passagem de três anos por Singapura, onde foi o pároco da comunidade portuguesa, desenvolveu sempre no território a sua actividade religiosa. Além de dirigir várias paróquias, foi reitor do Seminário de S. José e ensinou religião e moral em várias escolas e até no estabelecimento prisional de Macau, antes de ser eleito bispo de Macau, em 2003, sucedendo a D. Domingos Lam Ka-tseung.
Nos cinco anos que leva de bispado, D. José Lai, agora com 62 anos de idade, teve já oportunidade de se encontrar com o Papa Bento XVI, que descreve como “um homem muito simpático e um grande teólogo”. Foi por esse encontro que começou a nossa entrevista.
– O seu encontro com o Papa e a atenção que ele dá às dioceses de Macau e Hong Kong são um sinal claro de que conta convosco para ajudar ao processo de reconciliação com a China?
D.José Lai – Como Macau e Hong Kong são parte da China, conhecem bem o Continente e as suas gentes. E são duas dioceses que podem ajudar o Vaticano a conhecer melhor a China. Aliás, Macau já tem essa tradição desde o longínquo séc. XVI, pois era daqui que os missionários partiam para as suas missões de evangelização na China. Essa experiência pode agora ser muito útil à Santa Sé. Mas eu viajo muitas vezes para a China sem que isso signifique que esteja a cumprir uma missão do Vaticano. Vou visitar os locais onde estiveram os nossos missionários, aprofundar o meu conhecimento da Igreja chinesa.
- Quando foi a última vez que teve contactos com as autoridades chinesas?
D.José Lai - Em 2005, quando tomei posse como Bispo de Macau e após ter sido convidado a ir a Pequim para falar com os dirigentes do governo central. E falo com eles sempre que autoridades religiosas chinesas se deslocam a Macau.
- Como será possível resolver o impasse entre o Vaticano e Pequim se não houver um acordo sobre quem tem legitimidade para nomear os bispos chineses?
D.José Lai - A diplomacia está a fazer o seu trabalho. O diálogo entre as duas partes está a ser muito positivo.
- A recente mensagem do Papa aos fieis na China foi um passo importante no sentido da reconciliação?
D.José Lai - A Igreja é uma – e foi isso que o Papa salientou na sua mensagem. Não sei se a reconciliação entre o Vaticano e Pequim está para breve ou não, mas tenho uma grande esperança de poder ver esse dia.
- Têm ocorrido contactos entre as duas partes aqui em Macau?
D.José Lai - Não posso dizer nada sobre isso (risos).
- A Igreja Católica de Macau está preocupada com a regulamentação do art. 23 da Lei Básica?
D.José Lai - A lei em si não tem nada de mal. Defender a integridade da nação, defender a sua segurança, é algo de importante. Mas é também importante saber como vai ser a redacção final da lei, e como vai ser aplicada pelos tribunais. É preciso ser tudo muito claro. O governo ouviu a opinião das pessoas e já clarificou a questão dos actos preparatórios, determinando o seu conteúdo. Mas falta saber se as pessoas que vão aplicar a lei entenderam bem o seu sentido. Outra preocupação que as pessoas manifestaram foi o período muito curto de consulta pública. Deviam ter sido pelo menos três meses. E outra preocupação ainda é saber se na aplicação da lei a Igreja vai ser considerada uma entidade politica. Se for mal interpretada a lei, tornar-se-ão difíceis os contactos entre a Igreja de Macau e o Vaticano. É claro que nós consideramos o Vaticano como uma entidade religiosa, e não como uma entidade política. Por isso, os contactos entre as duas partes não devem ser abrangidos pela nova lei.
- Manifestou essa preocupação ao governo?
D.José Lai - Sim, tivemos uma conversa muito aberta com os juristas que elaboraram a lei e explicámos-lhes as nossas preocupações.
- Concorda com a ideia de que se pode instalar um clima de medo em Macau com a entrada em vigor desta lei?
D.José Lai - Em relação à Igreja não existem receios a esse nível porque nós não nos metemos em política. Além disso, o governo parece disposto a rever as normas relacionadas com o segredo de Estado, o que pode tranquilizar mais as pessoas. Não nos podemos esquecer também que a lei ainda vai ser submetida à Assembleia Legislativa, que terá a última palavra sobre a sua redacção. Não acredito que venha a viver-se um clima de medo em Macau.
- Como vê Macau quase dez anos após a transição? Como tem sido a adaptação da Igreja Católica?
D.José Lai - Muito serena. Não tem havido uma grande evolução desde 1999. O número de católicos não está a diminuir, antes pelo contrário. Todos os anos temos um grande número de baptismos. Adultos são cerca de 200 e filhos de famílias cristãs cerca de 150, o que dá um total de 350 por ano. E o número continua a aumentar. Ao todo há hoje entre 30 mil e 40 mil católicos em Macau.
- As escolas católicas continuam a ser a grande fonte de novos fieis, como aconteceu no seu caso?
D.José Lai - Bom, hoje em dia a maioria das escolas católicas já não é dirigida por padres, mas sim por leigos. Mas é verdade que as escolas continuam a ter muita importância no esforço de evangelização.
- E qual é a situação financeira da Igreja?
D.José Lai - Razoável. Antigamente tínhamos subsídios do Estado que nos permitiam viver sem problemas. Desde 1999 tivemos que nos tornar auto-suficientes. Continua, é claro, a haver subsídios do governo para as escolas e instituições de assistência social ligadas à Igreja, como acontece com as outras escolas e outras organizações de ajuda aos mais desfavorecidos, o que é uma importante ajuda para o cumprimento da nossa missão.
- Mas os padres são poucos e continuam a ganhar mal, certo?
D.José Lai - Sim, porque o número de católicos tem vindo a aumentar e o número de padres não. Temos em Macau 14 sacerdotes das dioceses e outros 50 religiosos, para além de cerca de 200 irmãs. E criámos em Abril uma comissão para promover novas vocações.
- O objectivo é relançar Macau como principal centro de formação de sacerdotes católicos no Extremo Oriente?
D.José Lai - Sim. Começámos no ano passado cursos de teologia e sobre as grandes religiões no seminário de S. José, que estão a ser dirigidos pelo Instituto Inter-Universitário e que são resultado da colaboração entre a diocese de Macau e a Universidade Católica de Portugal. Queremos que Macau seja de novo um centro de formação não só para o clero local mas também para os leigos ou religiosos dos países desta região da Ásia. Quando estive com os dirigentes chineses em Pequim, convidei-os a enviarem para Macau os seus seminaristas e todas as outras pessoas interessadas em estudar a religião católica.
- Convite que já produziu resultados?
D.José Lai - Estamos ainda à espera. É preciso algum tempo para se definir bem este processo.
- Há dois anos a Igreja de Macau lançou uma Pastoral sobre a Pobreza, quando começaram a surgir aqui sinais de um alargamento do fosso entre ricos e pobres. Como vê agora a crise entretanto generalizada e o seu impacto nas pessoas mais carenciadas?
D.José Lai - As pessoas têm que se unir mais do que nunca, porque a união faz a força. Temos que chamar os católicos a um clima de harmonia e de entreajuda, não só entre si como também em relação a todos os outros cidadãos de Macau. E temos todos que fazer um esforço grande para educar os jovens, para que possam empregar bem o seu dinheiro. Nos últimos anos foi muito fácil para eles ganhar dinheiro nos casinos, mas isso pode não ter sido muito bom se eles entretanto não aprenderam a utilizar bem o dinheiro. E acho que se houver agora novamente menos empregos nos casinos, os jovens devem voltar para as escolas. Aproveitam assim este tempo de crise económica para reflectirem e se prepararem melhor para os desafios do futuro. O governo gasta muito dinheiro a promover o ensino gratuito e os jovens não devem perder essa oportunidade.
- Faz uma apreciação positiva destes dois mandatos de Edmund Ho como chefe do Executivo?
D.José Lai - Sim, ele deu um grande impulso ao desenvolvimento económico de Macau e melhorou muito a imagem do território a nível internacional. Ajudou também a fazer de Macau uma plataforma de contactos entre a China e os países de língua portuguesa. Enfim, fez muita coisa positiva. É pena que o tempo não tenha chegado para resolver os problemas da habitação e dos transportes. E foi pena também o caso de corrupção do (ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas) Ao Man Long, que deixou chocados os cidadãos de Macau.
- O grande crescimento do sector do jogo, isso jamais seria uma receita da Igreja, obviamente.
D.José Lai - Sim, Macau nestes anos tornou-se uma sociedade mais materialista e consumista. Mas isso obriga a Igreja a reflectir sobre os problemas, para poder continuar a acompanhar as pessoas nas suas dificuldades diárias. Há coisas boas e más neste mundo, isso é inevitável. Só temos que aprender a distingui-las. A Igreja tem que acompanhar a evolução social.
- Que mensagem deixa aos católicos de Macau à entrada de um ano novo?
D.José Lai - É a mesma mensagem do Natal, quando celebramos o nascimento de Jesus. Ele veio a este mundo para viver como um homem verdadeiro. Temos que seguir o seu exemplo, procurando viver como homens verdadeiros, num clima de fraternidade e paz universal. Somos todos irmãos e todos temos um dever de fraternidade para com o nosso semelhante. Em relação aos objectivos da Igreja de Macau para este novo ano, vamos procurar aperfeiçoar os nossos estabelecimentos de ensino e reforçar o pessoal, quer para a educação quer para as paróquias. Há padres coreanos que estão a juntar-se a nós e na Páscoa virá instalar-se em Macau uma congregação de irmãs franciscanas, que vêm apoiar a comunidade portuguesa. Quanto à actividade do governo, espero que seja o ano do arranque do sistema de metro ligeiro, pois o sector dos transportes em Macau está claramente a precisar de melhoras.
Pereira Coutinho entrega carta a Edmund Ho
Recado da ATFPM para Pequim
O presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau entregou ontem ao líder do Governo uma carta subscrita por 6.000 pessoas que define o perfil de um jurista e falante de português e chinês para chefiar o futuro Governo.
“Residente de Macau a trabalhar na Função Pública há mais de dez anos e com larga experiências administrativa, com formação jurídica e bilingue (falante de português e chinês)”, são as principais características do futuro líder do Governo que a Associação dos Trabalhadores da Função Pública gostaria de ver, explicou o seu presidente, Pereira Coutinho, em declarações à agência Lusa.
“Lançámos uma consulta e a maioria das pessoas concordou com este perfil e por isso iniciámos uma recolha de assinaturas para entregar com uma carta ao chefe do Executivo”, Edmund Ho, disse o mesmo responsável, que exerce também o cargo de deputado à Assembleia Legislativa de Macau e de conselheiro das Comunidades Portuguesas.
A maioria das 6.000 assinaturas pertencem a quadros da função pública, mas o objectivo, segundo Pereira Coutinho, é a recolha de 10 mil.
Pereira Coutinho diz ter antecipado a entrega da carta porque chega no sábado a Macau o vice-presidente chinês Xi Jinping: "Queríamos que Edmund Ho tivesse conhecimento desta vontade da população para a transmitir ao responsável de Pequim.”
“A recolha de assinaturas continua, mas a carta está entregue e entendemos que o chefe do Executivo deve dar conhecimento dela aos dirigentes chineses”, assinalou.
Em 2009 Macau escolhe o futuro chefe do Executivo, substituto de Edmund Ho, que a 20 de Dezembro termina o segundo e último mandato de cinco anos permitido pela lei.
Com lugar na comissão de selecção por inerência da sua condição de deputado, Pereira Coutinho sustenta que depois da manifestação de disponibilidade dos candidatos caberá à comissão escolher quem melhor defenderá os interesses do território.
Além das eleições para a liderança do Executivo, a segunda metade de 2009 será ainda preenchida com as eleições para a Assembleia Legislativa e Pereira Coutinho garantiu à Lusa que voltará a liderar a lista da “Nova Esperança” numa candidatura ao hemiciclo da Praia Grande.
Empresário aposta na banca portuguesa
Stanley Ho aumenta participação no Millenium BCP
O empresário Stanley Ho e a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau passaram a deter 2,26 por cento do capital social do Banco Comercial Português (BCP), anunciou ontem o banco.
Stanley Ho tem directamente uma participação de 30.142.080 acções, representativas de cerca de 0,64 por cento do capital social do Millenium BCP.
A esta participação juntam-se acções representativas de 1,62 por cento compradas agora pela STDM - Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, da qual Stanley Ho é o maior accionista.
"No dia 31 de Dezembro de 2008, a STDM adquiriu à sua subsidiária Energy Finance Portugal a totalidade das 76.112.854 acções que esta sociedade detinha representativas do capital social do Banco Comercial Português", segundo informação dada ao mercado pelo banco.
Estas 76.112.854 acções são representativas de cerca de 1,62 por cento do capital social do BCP.
Stanley Ho, por sua vez, detém, directa e indirectamente, uma participação total no capital da STDM de 32,2 por cento, refere ainda o comunicado divulgado através da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.
Pequim quer transformar o Delta do Rio das Pérolas num laboratório de inovação tecnológica
O futuro da China pode passar por aqui
Trinta anos após o início da reforma económica do Império do Meio, a China volta a olhar para Sul para definir um novo modelo de desenvolvimento. Pequim anunciou ontem que pretende transformar o Delta do Rio das Pérolas – Macau e Hong Kong incluídas – na área mais dinâmica da região Ásia Pacífico em 2020. Aí está a verdadeira oportunidade da RAEM se internacionalizar.
Isabel Castro
São duas notícias curtas e que não fornecem informações pormenorizadas, mas que dão a conhecer uma decisão de fundo tomada por Pequim. A Agência Xinhua avançou ontem que o Delta do Rio das Pérolas, que esteve na vanguarda da abertura da China, vai ser o balão de ensaio do país para aprofundar a reforma da economia e permitir uma maior abertura o mundo.
A decisão faz parte de um plano definido pela Comissão da Reforma e do Desenvolvimento Nacional. O organismo quer que o Delta do Rio das Pérolas – juntamente com Hong Kong e Macau – se transforme na “zona mais dinâmica da região Ásia Pacífico” e seja “globalmente competitiva”, objectivo a cumprir até 2020.
A ideia é transformar uma área do país que está a ser severamente afectada pela crise financeira, e que até à data tem vivido sobretudo das exportações, num “importante centro de inovação”, explica a Xinhua, citando o anúncio da entidade que define as políticas macroeconómicas da China.
O plano compreende a criação, no espaço dos próximos três anos, de cerca de cem laboratórios estatais para a inovação na área da engenharia, bem como da pesquisa e do desenvolvimento.
Em 2012, deverão estar a funcionar entre três a cinco centros de desenvolvimento de alta tecnologia, cujo objectivo é gerarem 100 mil milhões de yuan em produção industrial. A meta é conseguir que, em 2020, as indústrias de alta tecnologia gerem, pelo menos, 30 por cento das produções totais da região.
Da oficina para o laboratório
Esta nova definição do que deverá ser a zona do Delta do Rio das Pérolas no contexto global da China não surpreende totalmente José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), que recorda que se fala na transformação do papel do país há já um par de anos. “É a China a querer passar de oficina do mundo para o estúdio do mundo.”
Para Sales Marques, este plano que agora foi divulgado significa que Pequim fez uma “reavaliação da melhor forma de integrar o país no mundo” actual. Embora a crise financeira tenha levado a China a apostar no desenvolvimento do mercado interno – opção que o presidente do IEEM considera acertada – tal não significa que deixe de pensar na abertura ao mundo, até porque “o factor externo foi sempre muito importante para o desenvolvimento económico”.
Porém, com esta decisão de investimento nas altas tecnologias, o país terá possibilidade de “fazer uma reconversão do seu papel, passando de uma economia exportadora com um valor acrescentado relativamente baixo, para uma economia com produtos e serviços de elevado valor acrescentado”.
Historicamente, o Sul da China foi a grande porta para o mundo. Houve uma altura em que as atenções ao nível do desenvolvimento industrial se viraram para Xangai, mas a área do Delta do Rio das Pérolas voltará a ser, trinta anos depois de uma experiência que se revelou bem sucedida, o balão de ensaio do país.
“É uma análise feita com muito realismo, tendo em conta o que a zona do Sul pode oferecer àquilo que é o mundo de hoje”, entende Sales Marques. Não obstante ser um mundo em redefinição, com muitas certezas deitadas por terra devido à crise financeira internacional, certo é que, para o responsável máximo pelo IEEM, a área onde Macau se integra oferece aquilo que o resto da China não terá: a diversidade.
“Xangai terá mais capacidades em termos de base industrial, mas nós temos mais variedade.” Uma combinação entre Macau, Hong Kong e a província de Guangdong permite, em termos gerais, uma oferta mais diversificada de bens e serviços. “Temos um enorme potencial”, salienta. Sales Marques acredita que “se for tudo bem orientado e canalizado, esta zona do mundo tem condições para, dentro de alguns anos, ser uma mega polis não só na Ásia mas no mundo”.
O problema dos recursos humanos
“A China tem enormes potenciais para desenvolver a área das novas tecnologias. Mas tudo depende de quem estiver a liderar os projectos.” Filipe Bragança, designer industrial especialista na concepção de automóveis, fala com conhecimento de causa. Há uma mão-cheia de anos que trabalha na província de Guangdong, precisamente na área das novas tecnologias.
O designer português criou na Universidade Sun Yat-sen de Cantão um laboratório de engenharia que está a trabalhar na concepção de veículos amigos do ambiente, construídos única e exclusivamente através de novas tecnologias. O trabalho quotidiano de Bragança leva-o a apontar os recursos humanos como o principal problema.
“A não ser que se mude quem está à frente dos projectos e haja uma maior liberdade de acção, o processo será lento”, avisa, lembrando que a Europa e o Japão, no que às tecnologias diz respeito, estão “trinta anos à frente da China”. No entanto, ressalva o designer, o país tem “uma enorme capacidade em termos de infra-estruturas e de meios, conseguem-se fazer coisas de um dia para o outro”.
O plano da Comissão da Reforma e do Desenvolvimento Nacional também não surpreende Filipe Bragança, que tem tido sinais nesse sentido. “Sabemos que o Governo está disposto a apoiar-nos e quer avançar mais rapidamente”, diz o criador do chamado “táxi de Cantão”, um veículo totalmente amigo do ambiente, que ainda não começou a ser produzido, embora já esteja em fase de testes - são as tais “burocracias” que o país tem que conseguir ultrapassar para conferir um novo dinamismo a este tipo de indústrias.
O papel da criatividade
Transformar o Delta do Rio das Pérolas num grande laboratório exige sobretudo criatividade em termos práticos, a funcionar sem obstáculos de natureza administrativa. Filipe Bragança tem também as suas dúvidas em relação à actual capacidade de inovação de quem trabalha neste ponto do planeta. “Em termos de execução, há pessoas excelentes. Quanto à inovação e à criatividade, ainda estão muito verdes”, sublinha.
Sales Marques vinca igualmente a importância da criatividade, mas no sentido de que poderá ser uma mais-valia para Macau neste enquadramento regional, caso a RAEM seja capaz de aproveitar a oportunidade. “Hoje em dia, a criatividade vai além da abordagem artística. O conceito de inovação faz com que os produtos tenham valor acrescentado, permite que sejam mais competitivos.”
Recordando que Macau teve sempre um papel de grande importância no contacto da China com o mundo, o presidente do IEEM critica o facto de a RAEM ter sido um “pouco preguiçosa” na questão da internacionalização. Para que Macau se inscreva neste conceito de “globalmente competitivo”, é preciso deixar de contar apenas com as benesses que a terra foi tendo. “Temos que fazer um esforço maior, conquistar mercados, olhar para fora. Só assim é que se desenvolve uma cidade internacional”, aponta.
“Temos que nos abrir ao exterior, dando valor ao que já temos, valorizando os jovens que voltam e que infelizmente não têm muitas oportunidades porque são triturados pela burocracia”, critica. “É preciso aceitar a ‘instabilidade’ que a criatividade gera”, aconselha.
Ainda no contexto do posicionamento da China no mundo e do impacto para a RAEM, o responsável pelo Instituto de Estudos Europeus recorda que Macau tem funções específicas no relacionamento com o Velho Continente e com o espaço lusófono que devem ser aproveitadas. “É um bom argumento para que a RAEM tenha um papel mais importante dentro desta estratégia.”
Volume de negócios caiu 11 por cento em Novembro
Transportadoras áreas chinesas com pouca carga
As transportadoras aéreas de carga da China sofreram, em Novembro, a pior queda no seu volume de negócios, à medida que a Europa e os Estados Unidos reduzem as suas importações.
De acordo com o South China Morning Post, as companhias chinesas transportaram, naquele mês, menos 11 por cento de carga do que no período homólogo de 2007. Já em Outubro, os negócios destas transportadoras tinham registado uma quebra de 3 por cento. Macau e Hong Kong contribuíram para estes números, com os carregamentos destinados às duas RAEs a caírem cerca de 22 pontos percentuais.
O território vizinho, cujo porto é a rota principal para as exportações chinesas, não escapou a esta crise, tendo as companhias de carga averbado perdas substanciais. Um alto responsável da Cathay Pacific, citado pelo SCMP, prevê mesmo que as contas do mês de Dezembro assinalem perdas de mais de 20 por cento, suplantando o decréscimo de 15 pontos percentuais de Novembro.
"As fábricas ao longo do Delta do Rio das Pérolas estão, literalmente, a trabalhar à custa de encomendas antigas. Não há notícia que novos contratos tenham sido assinados recentemente", sublinha, ao SCMP, o director executivo da Associação de Exportadores de Hong Kong.
Em declarações àquela publicação, Sunny Ho Lap-kee prevê que o mercado não mostre sinais de recuperação até ao último trimestre do ano, uma vez que os contractos prevêem habitualmente prazos de 6 meses para a entrega de novas encomendas.
"O enfraquecimento nos carregamentos aéreos vai continuar a ensombrar-nos, uma vez que a procura de produtos de alta gama, como artigos electrónicos ou de moda, está a diminuir", lamenta, Chen Daqian, vice-presidente da China Cargo Airlines, companhia responsável por cerca de 18 por cento da carga aérea que entra e sai de Xangai.
"Este ano, não temos contractos a longo prazo uma vez que os despachantes não estão optimistas quanto ao futuro", acrescenta o mesmo responsável, em entrevista ao jornal de HK.
Usualmente, os despachantes costumam assinar contractos anuais para garantir preços mais baixos e assegurar espaço para as suas encomendas na alturas mais movimentadas do ano.
A frota da China Cargo Airlines é composta por 11 aviões que operam entre a Europa e Estados Unidos. Contudo, de acordo com Chen Daqin, a companhia pondera diminuir o número de rotas, numa tentativa de reduzir custos.
Já no inicio deste mês, a Cathay Pacific tinha optado por manter dois aviões em terra, numa medida que significou uma perda de 10 por cento na capacidade de operar serviços para os Estados Unidos e Europa.
Editorial
Reformas
O processo de industrialização da China, iniciado com a política de abertura e modernização, transformou o país na maior fábrica do mundo. Fechado um ciclo de trinta anos de crescimento económico, o governo de Pequim revelou ontem as linhas gerais de um projecto de desenvolvimento ainda mais ambicioso: transformar essa gigantesca fábrica num centro de inovação e desenvolvimento tecnológico, com a província de Guangdong como ponta-de-lança.
Depois da quantidade, surge agora a aposta na qualidade, um pouco à semelhança do que aconteceu com o Japão do pós-guerra. E não é por acaso que a opção aposta na província onde se situam Macau e Hong Kong. A diversidade que sempre caracterizou esta região da China, onde se cruzaram povos, culturas e formas de estar diferentes, é uma mais-valia importante, quando se fala em desenvolvimento tecnológico e científico.
No passado, as grandes civilizações desenvolveram-se em torno de locais onde se cruzavam as rotas de comércio e os contactos entre os povos. A percepção desta mais-valia talvez permita uma reflexão em torno do que tem sido uma postura redutora, por parte de algumas correntes de opinião locais, para quem tudo o que é exterior é dispensável e estará a mais, neste território.
Apostar na inovação, numa economia globalizada como a de hoje, implica algo mais do que abrir mercados e ampliar trocas comerciais. É necessário ter a capacidade para atrair especialistas e investigadores de outros países, competindo com outros centros de excelência. E não é com apelos de carácter xenófobo e políticas excessivamente proteccionistas - que se têm tornado desagradavelmente frequentes, na sociedade local - que se consegue a massa crítica humana necessária para desenvolver centros de investigação e pesquisa com competitividade internacional.
Paulo Reis