1.02.2009

Nº 1684 - Quarta-Feira 10 de Dezembro de 2008

AACVB reuniu em Macau
Aposta no turismo de negócios

A direcção e vários grupos de trabalho da Associação Asiática de Bureaus de Visitantes e Convenções (AACVB, da sigla inglesa) estiveram reunidos entre 8 e 9 de Dezembro, em Macau para aprovar o plano de actividades e estratégia para o próximo ano, com vista a implementar a Ásia como um destino forte para turismo de negócios.
O encontro, realizado no MGM Grand Macau, contou com a presença de responsáveis de organismos de turismo e bureaus de convenções membros da AACVB, de Macau, Hong Kong, Tailândia, Filipinas, Malásia e Coreia do Sul.
Na reunião da direcção da AACVB, decorrida ontem, ficou decidido, no âmbito do plano de actividades para 2009, o lançamento de uma página electrónica da organização e o plano para representar a região em diferentes feiras MICE internacionais, bem como programas para treino de oficiais e operadores turísticos com vista à promoção da região como um destino para encontros, convenções e exposições. Os grupos de trabalho da AACVB debateram temas como a recolha de dados, marca e promoção da organização, educação, entre outros.
O encontro de dois dias foi presidido pelo vice-presidente da AACVB, Daniel Corpuz, director-executivo da Corporação de Visitantes e Convenções das Filipinas. Participaram na reunião, entre outros, João Manuel Costa Antunes, director da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) e secretário e tesoureiro da AACVB, o director da Bureau de Exposições e Convenções da Malásia, Mohd Rosly Selamat, a directora de convenções do Bureau de Convenções e Exposições da Tailândia (TCEB, da sigla inglesa), Suprabha Moleeratanond, directora-geral de Promoção de Destinos, do Hong Kong Tourism Board, Gilly Wong, a par com o representante em Hong Kong do Turismo da Coreia do Sul, Steve Je.

Creches e escolas afectadas por infecções
Enterovirus ataca de novo

Os Serviços de Saúde decidiram suspender as aulas de uma turma da creche I da Associação Geral das Mulheres de Macau, depois ter sido detectada a doença de mãos, pés e boca a 10 crianças da mesma turma.
De acordo com um comunicado daqueles serviços, o grau de doença destas crianças foi ligeiro, sendo que apenas uma dela teve que ficar hospitalizada, não se registando, contudo, complicações do sistema nervoso ou quaisquer outros problemas graves.
As autoridades competentes procederam à recolha de amostras de algumas crianças para efeitos de análises laboratoriais, tendo-se confirmado tratar-se de infecções por enterovírus. Como medida de precaução, as aulas da turma em causa foram suspensas de modo a impedir a transmissão e permitir a desinfecção ambiental de toda a instalação.
Até ontem, segundo informações do Centro de Prevenção e Controlo da Doença dos Serviços de Saúde, ocorrem no território 14 casos de infecção por enterovírus.
Anteriormente já o Jardim Infantil da Escola Sheng Kung Hui e no Berço da Esperança tinham tido alunos afectados por gastroenterites. No Jardim Infantil da Escola Sheng Kung Hui, registaram-se 9 casos de crianças com vómitos ou diarreia, dos quais 7 são alunos da mesma turma. O grau da doença destas crianças foi ligeiro, tendo as mesmas recorrido às entidades médicas para tratamento. No lar para bebés Berço da Esperança registaram-se 5 casos de bebés com vómitos ou diarreia, dos quais 4 precisaram de ser hospitalizados, sendo o seu estado considerado estável.

Venda das actuais instalações confirmada
Monjardino promete manter Livraria Portuguesa

O presidente da Fundação Oriente (FO), Carlos Monjardino, defendeu ontem que as futuras instalações da Escola Portuguesa em Macau devem ser "um grande espaço da língua portuguesa" no território.
Confiante na mudança de instalações para o antigo hotel Estoril, onde considera que existem "todas as condições" para o funcionamento da escola, Carlos Monjardino referiu que "nos próximos meses poderá haver uma luz verde para se avançar" com o projecto.
Segundo Monjardino, a posição da FO - que terá de ter o acordo dos ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Educação de Portugal - "é que se faça um esforço para poder integrar também o Instituto Português do Oriente (IPOR) e fazer (do complexo) um grande espaço da língua portuguesa, do ensino da língua portuguesa em Macau".
Em entrevista à Lusa em Macau, Carlos Monjardino salientou também que a Livraria Portuguesa e o ensino pré-escolar privado em língua portuguesa - actualmente a cargo da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses - deveriam integrar também o novo complexo escolar.
"Para que se pense no futuro do ensino do português a uns anos de vista, julgo que era importante que o pré-escolar estivesse também integrado na escola portuguesa", salientou.
Sobre a Livraria Portuguesa, propriedade do IPOR mas concessionada a um privado, Monjardino garantiu que se o espaço onde funciona actualmente for vendido, haverá sempre uma livraria "no centro da cidade e com determinadas obrigações relativamente às publicações que terá necessariamente de ter sempre expostas".
O presidente da FO disse estarem identificados dois espaços alternativos, um dos quais "perto do Palácio do Governo", e explicou que na análise entre vantagens e desvantagens de vender o espaço da livraria criando um fundo para o IPOR, optou-se pela segunda via.
Monjardino referiu ainda que disponibilizou à Casa de Portugal e à Associação dos Macaenses a galeria de exposições da Casa Garden, na sede da FO no território, para actividades que decorriam nas actuais instalações da Livraria Portuguesa.
Já sobre o futuro do IPOR, Carlos Monjardino espera pelas decisões finais da Assembleia Geral marcada para meados deste mês, que deverá ditar a mudança da sede do instituto para Macau e afirmar a instituição como veículo de ensino não curricular do português no território.
"Não será muito diferente do que fez no passado, mas julgo que haverá uma maior incidência na razão porque o IPOR foi, de resto, instituído, que é o ensino não curricular da língua portuguesa em Macau", concluiu.

Casa de Portugal em Macau apresenta amanhã filme de Luís Campos Brás sobre Gonzaga Gomes
A sombra que veio com o sol

Foram meses de investigação, de conversas, à procura de imagens de uma cidade que já não existe, para se construir uma personagem que, de tão peculiar, atingiu contornos de intangibilidade. A Casa de Portugal desafiou Luís Campos Brás a fazer um documentário sobre Luís Gonzaga Gomes e o realizador aceitou. O resultado de um ano de trabalho pode ser visto amanhã, no auditório do Consulado Geral de Portugal, às 19h00. É o “Sonata a uma Sombra”, uma forma de celebrar no presente um passado que convém que não caia no esquecimento.

Isabel Castro

- “Sonata a uma Sombra”. Porquê este título para o filme?
Luís Campos Brás - É uma expressão de António Conceição Júnior para descrever Luís Gonzaga Gomes. Diz que ele era uma sombra. Talvez não fosse uma pessoa real. É muito difícil encontrar fotografias e elementos palpáveis sobre Gonzaga Gomes e, de facto, embora tenha feito milhares de coisas, movimentava-se um pouco ao lado da sociedade em geral. É uma sonata à figura de Gonzaga Gomes, porque aquilo que fui descobrindo – e eu era um leigo – é matéria de trabalho e de curiosidade sobre uma personagem, uma figura, um macaense que estudou, trabalhou e fez inúmeras coisas. Mas, depois, tinha um lado sobre o qual ninguém sabe muito, que está completamente ausente do filme. O lado que há a divulgar e a celebrar é sobre aquilo que ele deu socialmente.
- Quando recebeu o convite da Casa de Portugal em Macau desconhecia por completo essa personagem chamada Luís Gonzaga Gomes. Que relação nasceu com esta figura que entretanto foi aprendendo a conhecer?
L.C.B. - É uma pergunta difícil de responder. A forma de me apropriar de Gonzaga Gomes – porque foi um género de apropriação -, e de criar uma imagem muito minha (se bem que certas partes dessa imagem não transparecem no filme), foi por colagem, a partir das pessoas com quem falei. Fui-me apropriando de certas frases e até das características das pessoas que falam sobre ele para ir montando uma personagem imaginária chamada Luís Gonzaga Gomes. No entanto, até parece que o conheço relativamente bem. Com tudo aquilo que fui descobrindo no último ano, e falando com pessoas totalmente diferentes, que privaram com ele de formas muito distintas, fiz um puzzle. Não será, por certo, a figura real de Luís Gonzaga Gomes, mas é uma personagem interessante para poder ser trabalhada. Fazia falta neste centenário do seu nascimento um trabalho não de espírito cinematográfico, só dando a conhecer a figura, mas sim um mais aprofundado. Sei que há pessoas que o estão a fazer, mas só sobre os escritos, não sobre a personagem. Um trabalho sobre a persona e as máscaras da personagem faria algum sentido.
- Há um depoimento logo no início do filme em que se diz que se a vida de Luís Gonzaga Gomes desse um filme, ele estaria “off”. Conseguiu pô-lo “on”?
L.C.B. - O filme foca aquilo que foi a personagem Luís Gonzaga Gomes social e intelectualmente, bem como o seu quotidiano de trabalho. O “off” a que se faz referência diz respeito a determinados aspectos da vida social. Embora trabalhasse para a sociedade, nas relações com as pessoas Gonzaga Gomes tinha uma forma muito própria de viver, era muito resguardado e vivia um pouco ausente desse mundo. Vivia num mundo que era só dele. Essa ausência não passará neste filme, talvez só ao de leve. Mas ele está mais “on” do que “off” no filme.
- Ficou com vontade ou curiosidade de explorar essa ausência?
L.C.B. - Não fiquei com uma grande curiosidade porque a parte do seu trabalho para a sociedade, a que chamaria quase louco, foi um campo de exploração mais simples e, por outro lado, mais rico em termos de conteúdos imediatos, que dessem para trabalhar. Mas uma personagem que está dez horas seguidas numa sala à prova de som a ouvir ópera e a trabalhar gera questões, logo à partida. Tenta-se perceber quais seriam as motivações e, mesmo ao nível pessoal, isto leva ao exercício de se imaginar se se seria capaz de passar o tempo assim, ter este tipo de processos ou, como diz Luís Sá Cunha, viver monasticamente. Era uma pessoa muito simpática e dada aos outros mas, ao mesmo tempo, extremamente resguardada. Há aqui uma divisão muito interessante que, para fazer uma personagem de ficção, daria um campo riquíssimo.
- Foi fácil encontrar pessoas disponíveis para falar de Luís Gonzaga Gomes? O trabalho de investigação foi complicado?
L.C.B. - Houve trabalho de investigação mas não posso dizer que tenha sido muito complicado. Foi mais difícil seleccionar as pessoas, mas todas as que escolhi foram extremamente prestáveis. São as que estão no filme, à excepção de uma. Em nove ou dez que pensei em entrevistar, estão no filme oito. Silveira Machado morreu enquanto estava a fazer o filme, pelo que o que existe dele resulta de uma entrevista que fui buscar à Rádio Macau.
- Referiu que foi difícil encontrar fotografias e outros elementos de Luís Gonzaga Gomes.
L.C.B. - Encontrei três fotografias. Nesse campo, fiz um trabalho algo exaustivo no material de arquivo de Macau, na pesquisa de ruas, imagens em movimento e imagens fotográficas. Fui muito ajudado pela TDM e por Jorge Cavalheiro. Quanto às fotografias de Luís Gonzaga Gomes, foi mais complicado. Só consegui encontrar três.
- O filme mostra, no entanto, alguns objectos pessoais.
L.C.B. - Sim, mas os únicos que existem - pelo menos, os que consegui descobrir, que julgo serem todos - estão em Portugal, no Porto e em Lisboa, na Universidade Católica. Fui filmá-los, claro está, mas estão no filme por respeito, por serem objectos pessoais, mas entram impessoalmente. A excepção é o acervo discográfico, que está todo no Porto. Acho que tem uma certa piada.
- Gonzaga Gomes era um homem eclético que se destacou essencialmente no aspecto cultural, mas fê-lo desdobrando-se em diferentes vias: pela música, pelo ensino, pela forma como lidava com várias línguas. Foi fácil encadear, em termos de construção de narrativa, todos estes aspectos que os diferentes entrevistados foram realçando?
L.C.B. - Essa foi precisamente a narrativa que encontrei para o filme. Poderia ter narrativas completamente diferentes, mas a minha foi a de um homem eclético, explorando a forma como trabalhava, o que fez, o que deixou de fazer e a imagem que ficou dele após a sua morte. A narrativa surgiu assim porque os entrevistados incluíram essa vertente nos seus discursos, pelo que foi fácil encadeá-los uns nos outros e construir um diálogo entre sete ou oito pessoas que viveram em Macau, que privaram com ele ou que conhecem bem a figura. Não posso dizer que foi muito difícil. Quando é o próprio realizador que faz a edição - como é o caso - é sempre um pouco mais complicado, porque não tem o distanciamento que deveria ter em relação ao que filmou. Neste caso, como o que filmei foram essencialmente entrevistas e pequenos excertos para corte sobre aspectos de que as pessoas estão a falar, foi um trabalho engraçado, porque fui montando com imagens de arquivo. Foi um trabalho que nunca tinha feito.
- A experiência foi boa? Trata-se do primeiro documentário que faz resultando de uma encomenda.
L.C.B. - Foi. Não estava à espera que a experiência fosse tão positiva. Foi a minha primeira encomenda – por norma, sou eu que costumo tentar arranjar financiamento para os filmes que quero fazer. Neste caso, nem sequer conhecia Luís Gonzaga Gomes. Foi uma experiência que acabou por ser muito positiva porque o resultado é um filme muito pessoal sobre uma figura que desconhecia completamente.
- Desta figura que desconhecia, qual o aspecto que o prendeu mais e com o qual se identificou, se é que tal chegou a acontecer?
L.C.B. - A música, claramente. No filme nota-se isto. Como diz Luís Sá Cunha, ele era um melómano. Provavelmente, se tivesse nascido mais tarde, seria um melómano mas também um cinéfilo. Era um melómano porque a música era aquilo a que tinha acesso e dava para fazer mais coisas. Tinha tudo, coleccionava discos de música clássica. Imagino a sala dele à prova de som onde se fechava a trabalhar, com música o dia todo: óperas, operetas, valsas e música erudita de todos os géneros e feitios. Se houvesse um lado para ficcionar, fazia-o através desta coisa estranha que é um homem fechar-se a ouvir música para trabalhar.
- A dada altura, um dos entrevistados fala na capacidade que Luís Gonzaga Gomes tinha de aceitar o outro. Ele era alguém com características estranhas que aceitava a estranheza do outro.
L.C.B. - Quem diz isso é a Iolanda [da Luz Ramos] que não é nada estranha (risos). Segundo explica, Luís Gonzaga Gomes inspirava alguma distância nas pessoas, porque tinha um lado intelectual muito possante. Expirava tanta intelectualidade quando estava a ouvir a sua música e a trabalhar, fechava os olhos e meditava, e fazia tudo isto ao lado das pessoas que trabalhavam com ele. Transparecia a sua estranheza de uma forma que revela aceitação, porque o fazia à frente de outras pessoas. O que quer que os outros fizessem, ele aceitava também.
- É um filme triste?
L.C.B. - Não! É um filme sobre uma pessoa que não era um crítico. Não sei se faria crítica ou não, era algo que gostaria de perceber. Em relação à música, por exemplo, não sei se faria crítica ou se só os programas que, como diz Silveira Machado, eram instrutivos, em que ensinava sobre as óperas, ia lendo os libretos... Não é um filme triste, mas contém uma visão sobre uma Macau que já não existe. A tristeza poderá advir do espectador saber que já não existe a Macau de que se está a falar, o que é algo estranho porque, na realidade, eu não gosto mais desta ou daquela cidade. Mas fala-se de uma península que já não existe, porque foi a de Luís Gonzaga Gomes. A estranheza e a tristeza virão um pouco daí.
- Sentiu que a memória de Gonzaga Gomes está devidamente lembrada, respeitada, documentada?
L.C.B. - Em Macau existe uma certa urgência de fazer novo, de criar coisas novas. Talvez fosse bom olhar, com calma e com olhos de ver, para as coisas que pertencem ao passado, para manter algumas, celebrar outras e deixar cair muitas, com certeza. Desse ponto de vista, Luís Gonzaga Gomes é uma entidade a manter e a preservar, não sei em qual das diferentes facetas dele, até porque há algumas em que não creio que fosse um génio. Provavelmente deveria ser preservado pela obra como um todo e como uma pessoa que trabalhou muito em prol da sociedade, daqueles que estavam à sua volta, de uma maneira cultural. Não a nível intelectual mas sim social e cultural, há que manter e celebrar figuras como esta, das comunidades macaense, portuguesa e chinesa ou de qualquer outra que por cá tenha passado, porque faz sentido preservar alguma memória de Macau. E faz muito sentido preservar a cultura feita em Macau, de variadíssimas perspectivas, para que a cidade não morra do ponto de vista cultural.
- Andou um ano atrás desta sombra. Agora que o filme está feito, vai sentir falta dela?
L.C.B. - Não sei, talvez. Não andei um ano atrás dela, mas ela perseguiu-me sempre durante um ano. Não fui eu que a persegui. É daquelas sombras que aparecem quando o sol está de frente. Agora, provavelmente, não vou olhar tanto para ela. Vou esquecer-me de olhar para trás e deixá-la ir com o filme. Espero que a Casa de Portugal goste, que Macau goste e que a TDM passe o filme, que vejam o que pode ser feito com ele.

O residente acidental

A viver em Macau há quase um ano, Luís Campos Brás descobriu o território em 2004, durante umas férias pelo Oriente. Tinha acabado de fazer um filme no qual tinha estado embrenhado durante três anos e quis viajar para longe. À chegada a Hong Kong, deixou-se apaixonar pelo Oriente. E tanto assim foi que não deixou totalmente Macau. Regressou uma e outra vez, até que veio para ficar.
Da primeira viagem guardou uma ideia que, pouco tempo depois, passou a filme: “Voltar A-ma-gao” é a primeira película de Campos Brás que tem Macau como cenário. Conta a história de jovens que partiram do território e que regressaram já no pós-RAEM.
Na sequência deste primeiro trabalho, a Casa de Portugal em Macau (CPM) lançou-lhe um repto: fazer um DVD, cujos lucros das vendas reverteram a favor de um jardim-escola em Timor-Leste. O realizador fez o DVD e a CPM endereçou-lhe um novo desafio – o filme sobre Luís Gonzaga Gomes que amanhã estreia em Macau, e que o levou a estar em permanência no território.
Luís Campos Brás nasceu em 1978. Frequentou o curso de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, uma pós-graduação em cinema documental na Escola Superior de Cinema e Audiovisuais da Catalunha e uma pós-graduação em escrita de argumentos, na Gulbenkian, em parceria com a London Film School. Fez já vários filmes e participou em diversos festivais. Há dois anos marcou presença no Fantasporto com “Os Caminheiros”, filme que já pôde ser visto em Macau.

I.C.


Casa de Portugal estreia-se com cinco ciclistas lusos
Pedalar a sul da China

Há um ano Sérgio Ruas foi terceiro no Alto de Coloane. Regressa com outras ambições, juntamente com mais quatro ciclistas lusos. Vestem a camisola da Casa de Portugal em Macau e participam na Volta ao Mar do Sul da China.

Vitor Rebelo
rebelo20@macau.ctm.net

Trata-se de uma prova por etapas, que começa em Hong Kong, já no próximo domingo, e termina em Macau, no Alto de Coloane, a 21 deste mês de Dezembro.
É já uma competição de prestígio nesta região asiática e por isso se chama Volta ao Mar do Sul da China, passando por Hong Kong, Shenzhen, Donguan, Fashan, Cantão, Chongsan, Zhuai e finalmente a RAEM, onde tudo se deverá decidir, tal como aconteceu em edições anteriores, uma vez que a etapa é a única de verdadeira montanha.
De resto, os cilcistas não enfrentam grandes dificuldades. As tiradas são praticamente planas, efectuadas em circuito, portanto propícias aos roladores e sprinters.
As diferenças não costumam ser grandes até ao derradeiro dia, em Coloane, mas as várias bonificações amealhadas pelos sprinters, ajudam a enfrentar a subida de Macau e a conquistar títulos.
E será aí, em Coloane, que o mais cotado dos cinco ciclistas que se deslocaram de Portugal, Sérgio Ruas, pretende voltar a brilhar, depois do excelente terceiro lugar na etapa do território, a provar que é um bom trepador.

Apoios conseguidos

Mas é preciso amealhar segundos de bonificação para não deixar fugir, nas restantes tiradas, os principais adversários nesta décima terceira edição da Volta ao Mar do Sul da China.
Ruas vem acompanhado desta feita de mais quatro compatriotas (Fábio Ferreira, que também correu o ano passado, Nelson Sousa, Fábio Palma e Micael Isidoro), vestindo pela primeira vez a camisola da Casa de Portugal em Macau, que conseguiu os apoios financeiros necessários para tornar realidade a presença de uma equipa portuguesa na competição asiática.
A comitiva chegou ontem e já hoje se apresentará à comunicação social, em conferência de imprensa agendada para as 17 e 30 na sede da Casa de Portugal.
Os cinco ciclistas vêm acompanhados por Fernando Mota, director técnico, e por Raul Matias, massagista.

Projecto quase falhou

Pedro Lobo, dirigente da Casa de Portugal em Macau, com o pelouro do desporto, explicou ao PONTO FINAL como foi possível concretizar o projecto:
“Foi por pouco que a vinda deles não se perdeu. Viriam, tal como aconteceu em finais de 2007, para integrar uma selecção de Macau. Mas, dois dias antes de embarcar, foram informados de que os patrocínios tinham falhado e por isso não havia apoio financeiro. Nem para apenas dois. Foi então que avançámos nós, Casa de Portugal, e eu próprio ajudei a manter contactos. Conseguiu-se uma verba para que eles viessem e aí estão.”
Segundo este dirigente da Casa de Portugal, “este projecto do ciclismo vem na sequência de ideias que temos para desenvolver a actividade desportiva no seio da nossa colectividade, ainda mais agora que os estatutos foram alterados e se criou o Grupo Desportivo da Casa de Portugal em Macau. Assim é possível participarmos em provas oficiais na RAEM, em especial o futebol que nos tinha criado grandes dificuldades anteriormente.”

É melhor tacticamente

Voltando à equipa de ciclismo, o quinteto lusitano vem esperançado em dar uma boa imagem da modalidade, ostentando nas suas camisolas, os nomes de Casa de Portugal em Macau e o clube que representam em Portugal, Crédito Agrícola, dedicado fundamentalmente à formação de novos valores do ciclismo em Portugal.
Fernando Mota, director técnico, que já orientou os dois ciclistas que se deslocaram o ano passado à Volta ao Mar do Sul da China, disse, ao PONTO FINAL, haver este ano melhores condições para se alcançarem melhores resultados.
“Em 2007 estavamos condicionados em termos tácticos, uma vez que eu não conhecia a equipa de Macau e apenas tinhamos dois ciclistas ali integrados. Agora é diferente. Apresentamo-nos como equipa e por isso esperançados em fazer bons resultados.”

Vantagem dos sprinters

Fernando Mota deu a entender que preferia uma competição com menos etapas planas, de circuito, uma vez que os atletas portugueses estariam mais à vontade com montanha, o que só irá suceder na última tirada, precisamente aqui em Macau, com chegada ao Alto de Coloane.
“A Volta ao Mar do Sul da China não é muito selectiva, pois praticamente só tem circuitos. É para os sprinters. Mas também não apresenta muitas dificuldades para os ciclistas, o que por um lado é bom em início de temporada como nós estamos. As bonificações vão ser determinantes e eu espero que a nossa cartada principal seja dada aqui em Macau, na subida de Coloane, tal como aconteceu com Ruas o ano passado. Ele está sensivelmente ao mesmo nível de 2007 e já este ano ganhou uma competição Open em Espanha e ainda, no Grande Prémio Crédito Agrícola, em Setembro, o prémio da montanha e da juventude.”

Jovens experientes

No entanto, a equipa da Casa de Portugal em Macau/Crédito Agrícola (terá alguns desenhos de locais conhecidos estampados nas camisolas), apresenta outros valores igualmente com aspirações e que muito poderão ajudar o “chefe-de-fila” (passe a expressão…). Todos são jovens, na casa dos 22/23 anos.
“A equipa é homogénea e tem já alguma experiência no exterior. O Micael esteve bem numa corrida no México. O Nelson Sousa brilhou numa corrida em Espanha, conquistando as metas volantes. Por isso estão todos bem integrados, apesar de termos começado há pouco os treinos para a nova temporada. Tudo vai depender de vários factores. Vamos correr igualmente em função dos adversários, que não conhecemos, uma vez que, como todos sabemos, o ciclismo, como qualquer desporto, não é matemático.”

Tang detém título

A equipa da Casa de Portugal em Macau/Crédito Agrícola irá treinar uma vez por dia nas estradas de Coloane, já a partir de hoje e até sexta-feira, dia em que rumará a Hong Kong.
A Volta ao Mar do Sul da China arranca precisamente na RAEK no domingo e chega a Macau dia 21, para a tal “etapa da verdade”, talhada para os trepadores natos.
A edição do ano passado foi ganha por um ciclista de Hong Kong, Wang Tang, que por sinal atingiu a derradeira tirada bem posicionado, tendo sido segundo classificado no Alto de Coloane, dois segundos atrás do japonês Taiji Nishitani e seis à frente do português Sérgio Ruas.
A competição, que percorrerá 600 quilómetros em oito dias, vai receber perto de 120 ciclistas, oriundos de vários países ou regiões, com destaque para China, Japão, Rússia, Estados Unidos, Dinamarca, Portugal, Macau e Hong Kong.

Heróis do espaço despedem-se hoje do território
Taikonautas partilham experiências com estudantes da RAEM

O Pavilhão desportivo do Instituto Politécnico de Macau engalanou-se ontem para receber a visita dos mais recentes heróis da China. Cerca de dois mil alunos de 40 instituições do ensino primário e secundário do território tiveram a oportunidade de ver ao vivo os famosos "taikonautas" - os primeiros astronautas chineses efectuar um passeio fora da nave espacial - que partilharam as suas experiências a bordo da Shenzhou-7 e fizeram passar a mensagem que "na vida é preciso traçar objectivos, lutar e nunca desistir".
Da parte da manhã, os três astronautas e o chefe da delegação, deram um passeio por alguns dos locais mais emblemáticos da RAEM, como as Ruínas de S. Paulo, o Museu de Macau e a Fortaleza do Monte, onde puderam apreciar a vista panorâmica do território, correspondendo sempre às manifestações calorosas da multidão de locais e turistas que os ia saudando.
Os heróis do espaço visitaram depois o Museu do Grande Prémio, o Museu do Vinho e a Torre de Macau, almoçando em seguida com os elementos da Guarnição do Exército de Libertação Popular estacionados no território .
À noite, os "taikonautas" estiveram no fórum para participarem no espectáculo “Heróis do Espaço com Macau no Coração”.
A visita da delegação da missão espacial à RAEM chega hoje ao fim, com a passagem dos astronautas por Santa Sancha para apresentarem cumprimentos de despedida ao chefe do executivo.

Editorial

Planos

O presidente da Fundação Oriente mostrou-se ontem confiante numa solução, a curto prazo, para a Escola Portuguesa e revelou que a Livraria Portuguesa faz parte dessa solução. Postas as coisas de uma forma clara, vai tudo para o antigo Hotel Estoril, não obstante declarações recentes do director dos Serviços de Educação, negando viabilidade à transferência para aquele local.
Constrói-se, assim, o que Carlos Monjardino designa como "um grande espaço da língua portuguesa", colocando várias instituições debaixo do mesmo tecto.
Ao que parece, o facto de essas instituições funcionaram em sítios diferentes era um problema. Resta saber se a concentração num único local contribuiu para mais alguma coisa que não seja a poupança de dinheiro.
Tão importante como isso será saber quais as razões e objectivos dessa poupança e qual o seu destino. Nos últimos anos, tem sido cada vez mais nítida a tendência para a Fundação Oriente se encolher, no que toca a despesas resultantes das suas obrigações para com Macau.
Ainda recentemente, a venda de uma série de imóveis que integram a lista de património classificado mostrou claramente que a estratégia da fundação presidida por Carlos Monjardino não passa por um maior investimento no território.
Fica por explicar que vantagens têm estas alterações para a continuidade de um espaço que é único, no território - a Livraria Portuguesa - e que tem sido explorado de forma deficiente, com uma oferta escassa e a preços excessivos.
Investir na promoção da língua portuguesa passa por garantir uma oferta editorial de qualidade, diversificada e ao alcance de todas as bolsas. Caso contrário, o tal "grande espaço" a que o presidente da Fundação Oriente se refere corre o risco de ser semelhante às ruínas de S. Paulo - uma fachada muito bonita, sem gente por trás.

Paulo Reis

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