10.29.2008

Especialista em crioulos de base portuguesa optimista

Patuá pode ser património da UNESCO

O reconhecimento do patuá como uma tradição oral de Macau pela UNESCO “tem viabilidade” mas a sociedade tem de garantir o seu futuro como património da cidade, defendeu Alan Baxter, um australiano especialista em crioulos de base portuguesa.
"Há hoje o teatro em patuá, há tradições orais de versos que precisam de ser reactivados, há músicas documentadas e neste plano a Escola Portuguesa, por exemplo, poderia desempenhar um papel fundamental na divulgação do crioulo de Macau e promover a sua continuidade no futuro", disse Alan Baxter, que é também director do departamento de português da Universidade de Macau.
Alan Baxter liga uma candidatura à UNESCO com o papel das instituições de ensino porque, explicou, "é preciso demonstrar a tradição oral, a continuidade e que a comunidade é capaz de promover e garantir a manutenção do crioulo, implementando actividades de conservação e formação".
O mesmo responsável sustenta que o patuá "precisa de mais espaço" e que a Escola Portuguesa de Macau poderia desempenhar essa função de alargar horizontes com coisas simples no seu jornal, nas suas actividades extra-curriculares ou inserido numa disciplina vocacionada para as artes ou letras.

Base de dados

Enquanto a comunidade estuda e prepara a candidatura do patuá a património oral da UNESCO, Alan Baxter lidera uma equipa que desenvolve um projecto de recolha de materiais escritos e orais para uma base de dados do crioulo local.
"A finalidade deste primeiro projecto é criar um portal acessível a todos, um portal semi-didáctico de interesse para o leigo e para o investigador", explicou.
Estes crioulos estão localizados na Índia em Damão, Diu e Korlai, na Malásia em Malaca, e na China em Macau.
O académico australiano, reconhecido como um dos mais importantes especialistas em crioulos de base lexical portuguesa, explica que o trabalho não é fácil.
Sobretudo, a situação do Sri Lanka é mais complicada, explicou Alan Baxter à Lusa, devido às dificuldades de contacto com as comunidades de Trincamalee e Baticaloa, situadas na costa oriental e sob domínio tamil.
"Depois em 2004 aconteceu o tsunami que afectou vários países da Ásia entre os quais o Sri Lanka, e sendo estas comunidades costeiras não há informação sobre o que aconteceu", disse.
No entanto, Alan Baxter mantém viva a esperança de conseguir "estudar a tipologia linguística destes crioulos para poder comparar e compreender melhor o seu desenvolvimento e até ligação".
"Há características em todos estes crioulos de base lexical portuguesa na Ásia que só podem ter vindo da Índia e aqui olhamos para o mapa dos Descobrimentos e percebemos que os crioulos foram sendo implantados e desenvolvidos com as transferências a partir da Índia, e de entreposto para entreposto, de grupos de pessoas relacionadas com o comércio e a administração do Estado", explicou.

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