10.28.2008

Historiador português investiga diáspora macaense em Xangai

A História daqueles que partiram

Um historiador português está a fazer um trabalho de investigação sobre o primeiro grande movimento migratório da comunidade macaense. É uma viagem aos meados do século XIX e a Xangai, numa tentativa de perceber as características da comunidade que lá se instalou e das repercussões para a terra de onde partiu.

Isabel Castro

É uma abordagem da História em que o povo adquire mais importância do que os habituais protagonistas políticos. Mais do que relatos de vitórias e conquistas, são as estórias das pessoas que interessam a Alfredo Gomes Dias, historiador português que se dedica ao estudo de Macau há mais de duas décadas. Depois de uma série de estudos e livros publicados sobre diferentes temas, o investigador está agora no encalço dos movimentos migratórios dos meados do séc. XIX, aqueles que deram origem à diáspora macaense.
“Estou a estudar a primeira fase da diáspora, que corresponde à saída para as regiões mais próximas: Hong Kong e Xangai”, explicou Gomes Dias ao PONTO FINAL. A abordagem é feita nas perspectivas demográfica e social. Embora inclua o movimento migratório para a antiga colónia britânica, o estudo (feito para a tese de doutoramento) analisa detalhadamente a comunidade de Xangai, desde que foi fundada, nos finais de 1840, até à seu término, que aconteceu com a proclamação da República Popular da China, em 1949.
Sobre a metodologia do trabalho, Alfredo Gomes Dias explica que tem “acesso quantitativo às pessoas que emigraram, através dos registos dos consulados”. É a partir destes dados que está “a tentar reconstruir o fluxo migratório, complementado com outras fontes no que toca à descrição das cidades e dos seus recenseamentos”. A tese vai ainda incluir uma análise sobre o impacto que a emigração teve na própria sociedade macaense. “Há fenómenos sociais que ocorreram em Macau na segunda metade do século XIX que têm origem no fenómeno migratório e que, até agora, nunca foram abordados nessa perspectiva”, defende.
A diáspora macaense em Xangai enquanto tema da tese surgiu “um pouco por acaso”, conta. “Inicialmente, a ideia era fazer um estudo centrado no porto de Macau. Comecei a fazer alguma investigação no Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), associada às questões da cidade e da demografia”. Durante esta pesquisa, encontrou os livros de registo do consulado de Xangai, “material abundante” sobre a diáspora. E assim decidiu pelo caminho do estudo das emigrações.
Gomes Dias espera ter o trabalho concluído até ao final deste ano. “Estou a terminar a investigação empírica, o levantamento dos dados. A partir de Novembro e complementando com mais algumas leituras, estarei apto para começar a escrever a tese”, explicou, de passagem por Macau.
O trabalho, que está a ser feito no departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, surge na sequência daquela que tem vindo a ser, nos últimos anos, a abordagem do académico: a História Social, a “História das pessoas”. “Esta minha aproximação ao movimento migratório e à diáspora é uma forma de tentar fazer uma História mais aproximada do povo, que muitas vezes é esquecido”, enquadra.
Sobre a disparidade dos factos históricos locais consoante as fontes, o investigador minimiza o problema. “A história tem um lado subjectivo que depende sempre de quem a escreve, quer seja português, chinês ou francês. O que se passa com Macau não é diferente.” A grande dificuldade dos historiadores ocidentais prende-se com o acesso às fontes chinesas, mas até mesmo neste aspecto o cenário tem vindo a melhorar. “Temos cada vez mais acesso a textos escritos por autores chineses, que têm a sua versão, e que nos permite ir aproximando as nossas versões daquilo que é o olhar chinês.”
Professor da Escola Superior de Educação de Lisboa, Alfredo Gomes Dias estudou História na Faculdade de Letras da capital portuguesa. O interesse por Macau surgiu em 1986, época em que o território “estava muito presente nos jornais, por causa do processo das negociações que levaram ao acordo sobre a transferência”. As notícias foram ao encontro da curiosidade que o historiador já tinha sobre Macau. E foi assim que deixou África enquanto tema de investigação e passou a olhar para o Oriente. O primeiro estudo foi dedicado à Guerra do Ópio. “Desde então nunca mais deixei Macau, apenas fui saltando de temas e de estudos.”

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