10.10.2008

Inauguração de exposição e lançamento de livro de António Conceição Júnior

Da luz primeira e de outros limites

Há uma luz que é transversal, que não se prende a uma só realidade nem a um único credo. Que está para além de nós, antes e depois. Mas que se vê e se guarda. “Primum Lumen” é o mais recente trabalho fotográfico de António Conceição Júnior e é hoje mostrado ao público.

Isabel Castro

São imagens para ver de duas formas distintas: há uma exposição e também há um livro, ao qual se adicionaram palavras. Mas já lá vamos. Primeiro as imagens, em forma de fotografia, às quais António Conceição Júnior deu o nome geral de “Primum Lumen”. O artista plástico que prefere não ser catalogado como tal, mas sim como alguém que pratica arte, diz que “Primum Lumen” é porque “antes de mais, a luz como que preside a tudo, mostrando a realidade ou as suas aparências, consoante os credos ou modos como cada um olha para as coisas, ou vê.”
De onde vem essa Primeira Luz? De um ponto de vista semântico, responde Conceição Júnior, “existe mesmo uma consonância entre, por exemplo, o francês, o inglês, o português e, quero crer, o próprio sânscrito, na medida em que Buda não é se não ‘aquele que é plenamente desperto e iluminado’ e não o nome de Sidhartta Gautama”. Mais a Oriente, continua, “encontramos no símbolo do Taoísmo, o Tai Chi (Universo), a escuridão dentro da luz e a luz na escuridão, para já não falar de toda a iconografia cristã que nos é mais culturalmente familiar”.
Quando se fala em Luz Primeira referimo-nos “a um vastíssimo território comum que nos transcende porque já existia e continuará depois de nós, o que nos leva a completar o círculo enquanto reflexo das duas faces da existência: a vida e a morte”. O homem que, desta vez, recorreu à fotografia como forma de arte faz ainda alusão ao Big Bang, para sustentar que, “se entendermos por outro lado que o facto de a luz física, aquela que resulta das frequências visíveis e até invisíveis de ondas electromagnéticas que também são energia, então entramos num feixe de definições que não se contradizem, antes convergem”.
António Conceição Júnior entende não haver uma definição universal sobre essa tal luz que vem em primeiro lugar. “Acho que a poética dos conceitos não se reduz a inverdades ou a efabulações mas antes a hipóteses tão prováveis quanto nós quisermos que elas sejam”.

A lente acidental

Em “Primum Lumen”, assiste-se ao regresso da máquina fotográfica como meio de expressão. Foi “absolutamente acidental, ainda que ande quase sempre com uma maquineta”, explica o autor da exposição ao PONTO FINAL. “Há coisas que têm de ser muito verdadeiras. Aliás, o belo é substituível pela verdade e talvez por isso a melhor forma de representar a luz seja a ‘photos grafia’.” O recurso à objectiva não acontece, assim, por uma questão de conforto, mas de “oportunidade”.
Criador de espadas, jóias e desenhos, pintor, artista de muitas hipóteses de manifestação, Conceição Júnior conta que não estaria nos seus planos “pintar a luz”. E acrescenta: “O que tenho é estado alguns anos a pintar mentalmente, porque pintar é um investimento diferente e com outro tempo de feitura. Pintar exige praticamente dedicação completa e, para já, não gostaria de adiantar mais nada. Fala-se sobre o que é, não sobre o devir.”
“O que é” pode ser visto hoje, quando forem 18h30, no Clube Militar, na sala Comendador Ho Yin. A apresentação do álbum será feita por Luís Sá Cunha, em língua portuguesa, com Guilherme Ung Vai Meng a intervir em cantonês. O livro conta com textos de António Trindade, Pedro Tamen e Rui Cascais. “Resulta das leituras que cada autor fez das imagens, dando-lhes o significado que entendeu. E depois existem as imagens em si, independentes”, diz Conceição Júnior. “Pessoalmente gosto do resultado final, pela diversidade de interpretações, a convidar à subjectividade de cada leitor.”
“Primum Lumen” conta com o apoio do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais e da Casa de Portugal em Macau.

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