Crise
Nas últimas semanas, as notícias sobre protestos e confrontos entre trabalhadores e polícia, na China, têm surgido com alguma regularidade. A redução do consumo, por parte dos países mais desenvolvidos, levou já ao encerramento de dezenas de milhares de empresas chinesas. Os números exactos, como sempre, são um segredo bem guardado e a Imprensa chinesa, em geral, tenta fazer de conta que nada se passa.
A enorme "fábrica" em que se transformou a China começa a sentir os efeitos de uma típica crise capitalista. Mas o desenvolvimento industrial que atraiu milhões de trabalhadores para as grandes cidades não foi acompanhado pela criação de mecanismos destinados a absorver os custos sociais de uma crise económica, onde os trabalhadores desempregados são a face mais visível.
Gerir esta crise, que se adivinha longa e complicada, a avaliar pelas opiniões dos especialistas, será um teste difícil para a actual liderança chinesa. Sobretudo porque, neste tipo de situação, as contradições entre o sistema político e económico ganham maior relevo e traduzem-se em episódios de agitação social que são especialmente preocupantes, num país desta dimensão.
Depois de décadas de crescimento económico e acumulação de riqueza, talvez seja o momento próprio para se questionar a forma como essa mesma riqueza tem sido distribuída. Este problema não é novo, nas chamadas economias capitalistas, e fez com que, ao longo dos anos, os sistemas políticos se adaptassem às modificações introduzidas pelas exigências do mercado.
O modelo de desenvolvimento que a China adoptou, quando lançou as chamadas políticas de abertura e modernização, destinava-se apenas a ser uma fase de transição, no caminho para a construção do socialismo. Acontece que alguns já percorrem esse caminho ao volante de um Ferrari, e a grande maioria ainda não passou das tradicionais bicicletas. Esta será, sem dúvida, a contradição mais complicada que a China terá de resolver, nos próximos anos.
Paulo Reis
Nas últimas semanas, as notícias sobre protestos e confrontos entre trabalhadores e polícia, na China, têm surgido com alguma regularidade. A redução do consumo, por parte dos países mais desenvolvidos, levou já ao encerramento de dezenas de milhares de empresas chinesas. Os números exactos, como sempre, são um segredo bem guardado e a Imprensa chinesa, em geral, tenta fazer de conta que nada se passa.
A enorme "fábrica" em que se transformou a China começa a sentir os efeitos de uma típica crise capitalista. Mas o desenvolvimento industrial que atraiu milhões de trabalhadores para as grandes cidades não foi acompanhado pela criação de mecanismos destinados a absorver os custos sociais de uma crise económica, onde os trabalhadores desempregados são a face mais visível.
Gerir esta crise, que se adivinha longa e complicada, a avaliar pelas opiniões dos especialistas, será um teste difícil para a actual liderança chinesa. Sobretudo porque, neste tipo de situação, as contradições entre o sistema político e económico ganham maior relevo e traduzem-se em episódios de agitação social que são especialmente preocupantes, num país desta dimensão.
Depois de décadas de crescimento económico e acumulação de riqueza, talvez seja o momento próprio para se questionar a forma como essa mesma riqueza tem sido distribuída. Este problema não é novo, nas chamadas economias capitalistas, e fez com que, ao longo dos anos, os sistemas políticos se adaptassem às modificações introduzidas pelas exigências do mercado.
O modelo de desenvolvimento que a China adoptou, quando lançou as chamadas políticas de abertura e modernização, destinava-se apenas a ser uma fase de transição, no caminho para a construção do socialismo. Acontece que alguns já percorrem esse caminho ao volante de um Ferrari, e a grande maioria ainda não passou das tradicionais bicicletas. Esta será, sem dúvida, a contradição mais complicada que a China terá de resolver, nos próximos anos.
Paulo Reis
