"Mais tarde ou mais cedo irei voltar a Macau"
Nasceu no Canadá, mas foi em Macau que passou grande parte da sua vida. Lua Pottier, actualmente a trabalhar em Kiev para a Organização Internacional para as Migrações (IOM, na sigla inglesa), chegou ao território pela primeira vez aos 7 anos. Na altura, foi a primeira aluna não-chinesa a frequentar a escola Pui Tou, por decisão da mãe, que a queria "integrada na comunidade de Macau."
"Ao principio não foi fácil, senti muitas dificuldades com a língua, mas havia bastantes professores que nos davam apoio, por isso foi difícil sim, mas não impossível, com maior ou menor dificuldade fui conseguindo fazer as coisas e aprendi cantonês e mandarim, que hoje ainda domino", recorda, de sorriso aberto, ao PONTO FINAL.
Depois de uma breve passagem pelo mundo do trabalho, na vida de Lua segue-se a aventura europeia, onde, numa universidade suíça, se tornou especialista em cuidados de saúde. Kiev e a Organização Internacional para as Migrações surgiriam já depois de uma nova aventura, desta sem fronteiras definidas: "Precisava de viajar, experienciar coisas novas. Estive no Kosovo, uns meses na Índia e trabalhei uns tempos em Moscovo. Depois, por uma série de voltas que a vida dá, acabei por ir parar à Ucrânia para trabalhar com a IOM."
Sinais
Em Macau para acompanhar o seminário sobre tráfico humano e trabalho forçado que ontem teve lugar, Lua Pottier admite não conhecer aprofundadamente qual a dimensão do problema no território. Ainda assim, pelo que se apercebeu das intervenções dos oradores, considera "um sinal muito positivo que o governo esteja a tomar medidas para o combater". "O fenómeno do tráfico humano é horrível, um dos piores a que um Ser Humano pode estar sujeito", sintetiza.
Conhecedora da realidade dos países de Leste em virtude do trabalho que desenvolve em Kiev, Lua Pottier lamenta o facto de Macau estar na rota do destino de várias jovens com origem naquela parte do globo.
"É uma pena. Claro que há a praga dos problemas económicos. Se elas estão cá de livre vontade , à procura de uma vida melhor, de outras condições, legais e com um contrato só lhes desejo o melhor. Mas se estão, de facto, a ser exploradas, espero que haja leis e programas que lhes possam, no mínimo, restituir alguma dignidade".
Ao PONTO FINAL, Lua alerta ainda para o perigo de se confundir prostituição com tráfico humano: "Mesmo que uma mulher saiba que vai trabalhar a vender o corpo, como prostituta, há uma diferença entre prostituição e tráfico. As raparigas não podem escolher se o cliente usará preservativo, não têm assistência médica, têm que estar com 10/15 homens num dia. E esta é a grande diferença, por isso tenho alguma dificuldade em tecer considerações sobre se as mulheres devem ou não vender o corpo, mas se estivermos a comparar trafico humano e prostituição temos que ter em conta que são dois assuntos completamente diferentes, e ao lidarmos com eles devemos aplicar critérios totalmente distintos".
A finalizar, Lua deixa uma certeza: "Acredito que mais tarde ou mais cedo irei voltar. Para mim, Macau é casa, por isso, se conseguir contribuir para que a minha casa se torne um lugar melhor seria fantástico".
R.C.
Nasceu no Canadá, mas foi em Macau que passou grande parte da sua vida. Lua Pottier, actualmente a trabalhar em Kiev para a Organização Internacional para as Migrações (IOM, na sigla inglesa), chegou ao território pela primeira vez aos 7 anos. Na altura, foi a primeira aluna não-chinesa a frequentar a escola Pui Tou, por decisão da mãe, que a queria "integrada na comunidade de Macau."
"Ao principio não foi fácil, senti muitas dificuldades com a língua, mas havia bastantes professores que nos davam apoio, por isso foi difícil sim, mas não impossível, com maior ou menor dificuldade fui conseguindo fazer as coisas e aprendi cantonês e mandarim, que hoje ainda domino", recorda, de sorriso aberto, ao PONTO FINAL.
Depois de uma breve passagem pelo mundo do trabalho, na vida de Lua segue-se a aventura europeia, onde, numa universidade suíça, se tornou especialista em cuidados de saúde. Kiev e a Organização Internacional para as Migrações surgiriam já depois de uma nova aventura, desta sem fronteiras definidas: "Precisava de viajar, experienciar coisas novas. Estive no Kosovo, uns meses na Índia e trabalhei uns tempos em Moscovo. Depois, por uma série de voltas que a vida dá, acabei por ir parar à Ucrânia para trabalhar com a IOM."
Sinais
Em Macau para acompanhar o seminário sobre tráfico humano e trabalho forçado que ontem teve lugar, Lua Pottier admite não conhecer aprofundadamente qual a dimensão do problema no território. Ainda assim, pelo que se apercebeu das intervenções dos oradores, considera "um sinal muito positivo que o governo esteja a tomar medidas para o combater". "O fenómeno do tráfico humano é horrível, um dos piores a que um Ser Humano pode estar sujeito", sintetiza.
Conhecedora da realidade dos países de Leste em virtude do trabalho que desenvolve em Kiev, Lua Pottier lamenta o facto de Macau estar na rota do destino de várias jovens com origem naquela parte do globo.
"É uma pena. Claro que há a praga dos problemas económicos. Se elas estão cá de livre vontade , à procura de uma vida melhor, de outras condições, legais e com um contrato só lhes desejo o melhor. Mas se estão, de facto, a ser exploradas, espero que haja leis e programas que lhes possam, no mínimo, restituir alguma dignidade".
Ao PONTO FINAL, Lua alerta ainda para o perigo de se confundir prostituição com tráfico humano: "Mesmo que uma mulher saiba que vai trabalhar a vender o corpo, como prostituta, há uma diferença entre prostituição e tráfico. As raparigas não podem escolher se o cliente usará preservativo, não têm assistência médica, têm que estar com 10/15 homens num dia. E esta é a grande diferença, por isso tenho alguma dificuldade em tecer considerações sobre se as mulheres devem ou não vender o corpo, mas se estivermos a comparar trafico humano e prostituição temos que ter em conta que são dois assuntos completamente diferentes, e ao lidarmos com eles devemos aplicar critérios totalmente distintos".
A finalizar, Lua deixa uma certeza: "Acredito que mais tarde ou mais cedo irei voltar. Para mim, Macau é casa, por isso, se conseguir contribuir para que a minha casa se torne um lugar melhor seria fantástico".
R.C.