Os recados de Susana
É mais um aviso à navegação. Mas o destinatário mudou. A presidente da Assembleia Legislativa lamentou ontem que o secretário para a Segurança distinga os naturais de Macau dos residentes que vêm de fora. Numa intervenção algo intempestiva, Susana Chou disse sentir que as mentalidades mudaram. Cheong Kuok Va nem sequer se defendeu.
Isabel Castro
Não é a primeira vez que o faz – já na passada semana Susana Chou “puxou as orelhas” a alguns deputados, por terem uma atitude discriminatória em relação aos trabalhadores oriundos de outras partes do mundo, sejam eles residentes ou não. Ontem, foi a vez de o secretário para a Segurança ser repreendido.
“Esta mentalidade de afastamento das pessoas vindas de fora não deve existir. Mas, nos últimos anos, estou a senti-la”, disse a presidente da Assembleia Legislativa (AL), natural de Xangai. “Lamento imenso que um responsável de alto nível diferencie os novos residentes”, atirou. “Os naturais de Macau têm padrões éticos mais elevados? Será que há diferenciação entre as pessoas dentro das corporações? Não sei porque tocou nessa questão.”
Não sabe Susana Chou nem saberão muitas das pessoas que ontem assistiram à segunda sessão das Linhas de Acção Governativa para 2009 sobre a área da Segurança. A reacção da presidente surgiu depois de ouvir a resposta de Cheong Kuok Va ao deputado Fong Chi Keong, que tinha condenado o nível de educação e a imagem dos agentes policiais – crítica subscrita, aliás, por vários deputados que usaram da palavra durante as duas tardes de debate.
O governante começou por dizer que os agentes policiais “também fazem parte da sociedade”, acrescentando depois que “uns são naturais de Macau, outros da China Continental, mas com sete anos de residência em Macau.” Sem explicar qual a razão que o levou a fazer esta menção às origens, Cheong garantiu que o recrutamento é feito de forma rigorosa e que é dada formação para reforçar “conhecimentos éticos, morais e culturais”. Quando um agente não corresponde aos padrões exigidos pelo cidadão, este pode queixar-se, disse ainda.
Susana Chou condenou a atitude e apelou ao fim da distinção entre novos residentes e residentes de longa duração. “Em Macau, todos os residentes são iguais. Não podemos fazer estas afirmações arbitrariamente. Pode responder ou optar por não o fazer.” Cheong Kuok Va escolheu a segunda hipótese.
Respostas “inadmissíveis”
Alguns minutos antes, o secretário tinha levado outra reprimenda da presidente do órgão legislativo de Macau, que se mostrou descontente com as respostas dadas pelo governante – Cheong apostou nas promessas de reforço (do patrulhamento, da fiscalização, da formação dos agentes, e por aí fora) como resposta à maioria das questões que lhe foram colocadas.
No debate da passada segunda-feira, vários deputados tinham-se mostrado preocupados com os furtos do sistema de iluminação das pontes e de aparelhos de navegação, tendo mesmo referido que há boatos sobre corrupção no seio dos Serviços de Alfândega (SA). O secretário comentou esta acusação prometendo reforçar a fiscalização.
“Queria alertar o Governo que esse tipo de resposta é inaceitável e inadmissível. Ontem [segunda-feira] respondeu assim e hoje [terça-feira] também”, avisou Chou, que passou a explicar a pertinência da questão. “Correm rumores que os SA receberam três milhões. Vai ou não adoptar medidas para apurar os factos? Dizer que vai reforçar o patrulhamento não é resposta. Como é que pode inspirar confiança aos cidadãos?”, questionou.
A presidente da AL desaprovou também o facto de não ter sido dada uma reposta clara às fugas de informação sobre acções de fiscalização de combate ao trabalho ilegal, denúncias feitas por vários deputados. Cheong Kuok Va prometeu elevar a transparência, “estudar as críticas de descontentamento e analisá-las, para ver se são factos ou ficção”.
Susana Chou não foi a única a criticar Cheong pelo tipo de discurso feito. Lee Chong Cheng pediu esclarecimentos sobre o “reforço em todas as vertentes”, dizendo “não conseguir perceber a ideia”. Já Ung Choi Kun sublinhou que o secretário “repetiu, por várias vezes, as frases do seu relatório” nas respostas dadas, para pedir explicações concretas sobre a prevenção e o combate à criminalidade.
Cheung Lup Kwan foi o único a sair em defesa do governante. “A maioria dos deputados está descontente, mas eu não. Pelo menos, esta equipa está toda junta ao longo destes dez anos.” E recordou que, antes da transferência, Macau era uma cidade insegura. “Comparativamente com essa altura, agora a situação não é grave. É mais ou menos o que acontece nas regiões vizinhas.”
É mais um aviso à navegação. Mas o destinatário mudou. A presidente da Assembleia Legislativa lamentou ontem que o secretário para a Segurança distinga os naturais de Macau dos residentes que vêm de fora. Numa intervenção algo intempestiva, Susana Chou disse sentir que as mentalidades mudaram. Cheong Kuok Va nem sequer se defendeu.
Isabel Castro
Não é a primeira vez que o faz – já na passada semana Susana Chou “puxou as orelhas” a alguns deputados, por terem uma atitude discriminatória em relação aos trabalhadores oriundos de outras partes do mundo, sejam eles residentes ou não. Ontem, foi a vez de o secretário para a Segurança ser repreendido.
“Esta mentalidade de afastamento das pessoas vindas de fora não deve existir. Mas, nos últimos anos, estou a senti-la”, disse a presidente da Assembleia Legislativa (AL), natural de Xangai. “Lamento imenso que um responsável de alto nível diferencie os novos residentes”, atirou. “Os naturais de Macau têm padrões éticos mais elevados? Será que há diferenciação entre as pessoas dentro das corporações? Não sei porque tocou nessa questão.”
Não sabe Susana Chou nem saberão muitas das pessoas que ontem assistiram à segunda sessão das Linhas de Acção Governativa para 2009 sobre a área da Segurança. A reacção da presidente surgiu depois de ouvir a resposta de Cheong Kuok Va ao deputado Fong Chi Keong, que tinha condenado o nível de educação e a imagem dos agentes policiais – crítica subscrita, aliás, por vários deputados que usaram da palavra durante as duas tardes de debate.
O governante começou por dizer que os agentes policiais “também fazem parte da sociedade”, acrescentando depois que “uns são naturais de Macau, outros da China Continental, mas com sete anos de residência em Macau.” Sem explicar qual a razão que o levou a fazer esta menção às origens, Cheong garantiu que o recrutamento é feito de forma rigorosa e que é dada formação para reforçar “conhecimentos éticos, morais e culturais”. Quando um agente não corresponde aos padrões exigidos pelo cidadão, este pode queixar-se, disse ainda.
Susana Chou condenou a atitude e apelou ao fim da distinção entre novos residentes e residentes de longa duração. “Em Macau, todos os residentes são iguais. Não podemos fazer estas afirmações arbitrariamente. Pode responder ou optar por não o fazer.” Cheong Kuok Va escolheu a segunda hipótese.
Respostas “inadmissíveis”
Alguns minutos antes, o secretário tinha levado outra reprimenda da presidente do órgão legislativo de Macau, que se mostrou descontente com as respostas dadas pelo governante – Cheong apostou nas promessas de reforço (do patrulhamento, da fiscalização, da formação dos agentes, e por aí fora) como resposta à maioria das questões que lhe foram colocadas.
No debate da passada segunda-feira, vários deputados tinham-se mostrado preocupados com os furtos do sistema de iluminação das pontes e de aparelhos de navegação, tendo mesmo referido que há boatos sobre corrupção no seio dos Serviços de Alfândega (SA). O secretário comentou esta acusação prometendo reforçar a fiscalização.
“Queria alertar o Governo que esse tipo de resposta é inaceitável e inadmissível. Ontem [segunda-feira] respondeu assim e hoje [terça-feira] também”, avisou Chou, que passou a explicar a pertinência da questão. “Correm rumores que os SA receberam três milhões. Vai ou não adoptar medidas para apurar os factos? Dizer que vai reforçar o patrulhamento não é resposta. Como é que pode inspirar confiança aos cidadãos?”, questionou.
A presidente da AL desaprovou também o facto de não ter sido dada uma reposta clara às fugas de informação sobre acções de fiscalização de combate ao trabalho ilegal, denúncias feitas por vários deputados. Cheong Kuok Va prometeu elevar a transparência, “estudar as críticas de descontentamento e analisá-las, para ver se são factos ou ficção”.
Susana Chou não foi a única a criticar Cheong pelo tipo de discurso feito. Lee Chong Cheng pediu esclarecimentos sobre o “reforço em todas as vertentes”, dizendo “não conseguir perceber a ideia”. Já Ung Choi Kun sublinhou que o secretário “repetiu, por várias vezes, as frases do seu relatório” nas respostas dadas, para pedir explicações concretas sobre a prevenção e o combate à criminalidade.
Cheung Lup Kwan foi o único a sair em defesa do governante. “A maioria dos deputados está descontente, mas eu não. Pelo menos, esta equipa está toda junta ao longo destes dez anos.” E recordou que, antes da transferência, Macau era uma cidade insegura. “Comparativamente com essa altura, agora a situação não é grave. É mais ou menos o que acontece nas regiões vizinhas.”