11.03.2008

Editorial

Surpresas

Ontem, após uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros, o governo português anunciou a nacionalização do Banco Português de Negócios, revelando ao mesmo tempo que aquela instituição bancária tinha acumulado perdas que rondam os sete mil milhões de patacas.
A decisão, que ainda terá que ser aprovada pela Assembleia da República, foi justificada pelo facto de a instituição estar "numa situação muito perto da iminente ruptura de pagamentos", como explicou o ministro da Finanças.
Teixeira dos Santos disse ainda que aquela instituição bancária "não tem vindo a cumprir os rácios mínimos de solvabilidade", exigidos pela lei e fiscalizados pelo Banco de Portugal.
Não é grande surpresa que o Banco Português de Negócios seja o primeiro a ir ao fundo, quando a crise aperta. Já há muito que circulavam rumores, em Portugal, sobre a forma algo "flexível" como o BPN geria os depósitos dos seus clientes. Convém lembrar que este banco não é, propriamente, um banco popular. A sua especialidade era gerir grandes fortunas e as suas campanhas publicitárias deixavam isso bem claro. Uma eventual falência do BPN deixaria, sem dúvida, mais gente preocupada na Quinta da Marinha do que no Seixal.
Mas houve pormenores que Teixeira Santos não esclareceu: desde quando é que o BPN não cumpre os tais rácios de solvabilidade e o que fez o Banco de Portugal, logo que detectou esse incumprimento.
Daqui a algumas semanas, depois de muita polémica e discussão, talvez se chegue à conclusão de que é preciso mais fiscalização. Mas isso já se ouviu dizer, quando o governador do Banco de Portugal foi chamado ao Parlamento para explicar como é que algumas operações do BCP Millenium passaram despercebidas à entidade fiscalizadora do sector bancário. Pelos vistos, não basta uma casa roubada para que se coloquem trancas à porta.

Paulo Reis

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