Serrasqueiro, o governante chinês
Visitou a China seis vezes em três anos de governo. Mais só a Venezuela. A Macau veio três vezes. Bate todos os recordes. É o secretário de Estado do Comércio
João Paulo Meneses
putaoya@hotmail.com
Um dos governantes que visitou Macau este ano foi Fernando Serrasqueiro. E fê-lo, considerando a China de uma forma global, por seis vezes neste mandato, enquanto secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor.
O PONTO FINAL falou por isso com o secretário de Estado no final de Outubro.
Nestes três anos de governo Serrasqueiro foi sete vezes à Venezuela (acabou, aliás, de regressar), mas a China aparece logo a seguir.
Das seis visitas, três passaram por Macau. Em três anos.
Não deixa de ser curioso – e ao mesmo tempo sintomático – que o governante que mais visitou a Venezuela e a China tenha sido do Ministério da Economia e não dos Negócios Estrangeiros.
Conhecer melhor a China
PONTO FINAL – Com esta última deslocação a Macau, contabilizo seis deslocações à China enquanto secretário de Estado; sente que já conhece, pelo menos relativamente bem, o mercado?
Fernando Serrasqueiro – Dizer que conheço bem a China seria uma ousadia afirmativa que não cometo. Posso assegurar que conheço melhor a China, potência em grande desenvolvimento, capaz de nos aturdir em vários aspectos, mas que também nos proporciona numerosas oportunidades.
Um país com a dimensão e as particularidades do sistema chinês, obriga-nos a olhá-lo com maior e melhor atenção. É nesse sentido que Portugal tem redobrado os seus esforços na abordagem a este mercado, pela sua relevância económica, pelas marcas portuguesas que gostaríamos que perdurassem, e pela afectividade que permanece da nossa presença em Macau. Entendemos que a par da cultura, a presença portuguesa tem de se afirmar também pela via dos negócios.
PF – China é o país que mais visitou, enquanto Secretário de Estado? Como se explica?
FS – A China e a Venezuela são os países que mais visitei enquanto Secretário de Estado. A China, em particular, no cumprimento do vector estratégico governativo de descoberta de novas oportunidades económicas, em mercados para além dos tradicionais. Foi minha intenção acompanhar projectos portugueses, facilitar o seu crescimento e incrementar as nossas relações económicas bilaterais, com larga margem de progressão. É um esforço contínuo, onde se insere, por exemplo, a realização de Comissão Mistas Luso-Chinesas, no âmbito das quais procuramos um acompanhamento bilateral das nossas relações económicas, com desbloqueamento de entraves identificados e abordagem a novas oportunidades e áreas de cooperação. A próxima Comissão Mista, a sétima, encontra-se neste momento a ser preparada, sendo concretizada neste mês de Novembro, em Lisboa.
Mas quero igualmente assinalar o meu empenho no acompanhamento das actividades Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, que tem o seu Secretariado Permanente em Macau, cuja actividade consideramos do maior relevo na facilitação e concretização de várias iniciativas e projectos a implementar.
Um mercado complexo
PF – Seria legítimo esperar frutos desse investimento ou os frutos, sobretudo naquele mercado, demoraram muito mais a amadurecer?
FS – A China é um mercado complexo, difícil, exige uma abordagem persistente, de médio e longo prazo. Não se podem exigir, nem se devem esperar, resultados imediatos. Ao mesmo tempo, seria incúria pensar que essas dificuldades são obstáculo decisivo para a entrada dos empresários portugueses nesse mercado.
O mercado chinês é hoje fundamental para quem quer estar presente nos mercados internacionais. Por isso temos insistido na presença em feiras em território chinês, feiras de comércio e investimento. Também este ano, estivemos presentes no Pavilhão de Portugal na Macao International Fair 2008, com presenças empresariais portuguesas em áreas desde os serviços, à indústria e bens de consumo, para além da presença institucional, através da AICEP Portugal Global.
Mas as minhas visitas foram igualmente prévias e preparatórias da visita oficial do senhor Primeiro-Ministro. Neste país, o relacionamento político é fundamental e determinante para o desenvolvimento das relações económicas. Sendo nosso objectivo de política económica externa, ao nível das exportações, aumentar o seu volume, diversificar os produtos exportados e alargar o número de países de destino, o mercado chinês era incontornável. Creio que estamos a conseguir o nosso propósito. Repare-se que a quebra existente em todos os mercados não tem vindo a ter o mesmo efeito em Portugal. A diversificação de produtos, empresas e sobretudo de mercados, que temos vindo a promover, está a amortecer os efeitos negativos da conjuntura internacional.
Combater o défice comercial
com mais empresas
PF – Há lugar a alguma desilusão, no sentido em que os empresários portugueses tardam em apostar naquele mercado? Acha que o acordo de parceria estratégica já deu frutos?
FS – Os Primeiros-Ministros dos dois países anunciaram, em Dezembro de 2005, a intenção de duplicar o comércio bilateral no espaço de três anos. Em 2007 a China foi o 9.º fornecedor e 24.º cliente de Portugal. Há que reconhecer a permanência do défice da balança comercial para Portugal, quase €900 milhões de euros em 2007 e €664 milhões de euros nos primeiros oito meses de 2008. Devemos garantir que todos os esforços empresariais e institucionais são estabelecidos para o seu reequilíbrio.
A entrada no mercado chinês não é fácil. Temos neste momento 64 presenças portuguesas, em diferentes formatos na China, das quais cerca de um terço em joint ventures. Há que escolher os produtos adequados, bem como os parceiros indicados, na medida em que estes são determinantes para o incremento das exportações, dos investimentos e do êxito dos negócios. Sobretudo, é preciso persistir. Temos barreiras fortes que não estimulam a entrada do empresariado português: a língua, a distância, a cultura e o sistema. O acordo de parceria estratégica serviu para ganhar confiança, e os resultados, já visíveis, deverão ainda progredir.
PF – Das seis deslocações, três (pelas minhas contas) passaram por Macau; Macau é mais uma questão política (histórica, etc.), do que económica ou acha que Macau tem condições para ser uma porta de entrada?
FS – Queremos e devemos manter a nossa presença em Macau. Por tudo o que representa a nossa história, mas também porque os macaenses se habituaram a consumir produtos portugueses. Não podemos deixar de aproveitar as circunstâncias económicas, históricas e culturais, para através de Macau, nos apresentarmos e expandirmos por toda a China.
Mas a nossa estratégia de entrada na China são se cinge à porta Macau. Devemos utilizar outras entradas, designadamente Xangai, onde reforçámos a nossa presença com a abertura de um Consulado Geral Português e uma representação da AICEP. Através do Programa INOV-Contacto, temos também colocado muitos mais jovens portugueses em empresas e centros de inovação tecnológica nas zonas mais dinâmicas da China – Xangai, Pequim e Macau. Com esta actuação pretendemos promover um conhecimento mais profundo do ambiente de negócios da China, que se repercuta nas empresas nacionais, facilitando a sua entrada no mercado.
Que Macau continue a sentir
a nossa afectividade
PF – O Fórum está a assinalar cinco anos; já o conhece bem; que balanço?
FS – O Fórum reúne a maioria dos países de expressão portuguesa e a China. É uma fórmula interessante de sedimentar a nossa Língua e promover o desenvolvimento económico. Se atentarmos na designação «países BRIC» (Brasil, Rússia, Índia e China), que analistas económicos usam para expressar as grandes economias emergentes, e se, na perspectiva de Portugal, acrescentarmos um A de Angola, verificamos que três desses países são participantes do Fórum. Ainda assim, entendemos que o Fórum deve ser mais objectivo e envolvente, dinamizando uma maior participação das empresas e focalizando-se mais na obtenção de resultados práticos. Mais ainda, o Fórum atravessa uma fase em que não tem Secretário-Geral, por falecimento do senhor Zhao Chuang. Esperamos que a China rapidamente ultrapasse esta debilidade e se abra uma nova fase, no interesse de todos.
PF – Em 2009, quando terminar este mandato, o que espera que o seu contributo tenha ajudado a conseguir relativamente ao mercado chinês?
FS – Espero que o meu trabalho possa ter contribuído para um melhor conhecimento do mercado chinês, uma presença empresarial portuguesa crescente e melhor sustentada, e que Macau possa continuar a sentir a nossa afectividade, para além de todo o relacionamento económico bilateral.
Visitou a China seis vezes em três anos de governo. Mais só a Venezuela. A Macau veio três vezes. Bate todos os recordes. É o secretário de Estado do Comércio
João Paulo Meneses
putaoya@hotmail.com
Um dos governantes que visitou Macau este ano foi Fernando Serrasqueiro. E fê-lo, considerando a China de uma forma global, por seis vezes neste mandato, enquanto secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor.
O PONTO FINAL falou por isso com o secretário de Estado no final de Outubro.
Nestes três anos de governo Serrasqueiro foi sete vezes à Venezuela (acabou, aliás, de regressar), mas a China aparece logo a seguir.
Das seis visitas, três passaram por Macau. Em três anos.
Não deixa de ser curioso – e ao mesmo tempo sintomático – que o governante que mais visitou a Venezuela e a China tenha sido do Ministério da Economia e não dos Negócios Estrangeiros.
Conhecer melhor a China
PONTO FINAL – Com esta última deslocação a Macau, contabilizo seis deslocações à China enquanto secretário de Estado; sente que já conhece, pelo menos relativamente bem, o mercado?
Fernando Serrasqueiro – Dizer que conheço bem a China seria uma ousadia afirmativa que não cometo. Posso assegurar que conheço melhor a China, potência em grande desenvolvimento, capaz de nos aturdir em vários aspectos, mas que também nos proporciona numerosas oportunidades.
Um país com a dimensão e as particularidades do sistema chinês, obriga-nos a olhá-lo com maior e melhor atenção. É nesse sentido que Portugal tem redobrado os seus esforços na abordagem a este mercado, pela sua relevância económica, pelas marcas portuguesas que gostaríamos que perdurassem, e pela afectividade que permanece da nossa presença em Macau. Entendemos que a par da cultura, a presença portuguesa tem de se afirmar também pela via dos negócios.
PF – China é o país que mais visitou, enquanto Secretário de Estado? Como se explica?
FS – A China e a Venezuela são os países que mais visitei enquanto Secretário de Estado. A China, em particular, no cumprimento do vector estratégico governativo de descoberta de novas oportunidades económicas, em mercados para além dos tradicionais. Foi minha intenção acompanhar projectos portugueses, facilitar o seu crescimento e incrementar as nossas relações económicas bilaterais, com larga margem de progressão. É um esforço contínuo, onde se insere, por exemplo, a realização de Comissão Mistas Luso-Chinesas, no âmbito das quais procuramos um acompanhamento bilateral das nossas relações económicas, com desbloqueamento de entraves identificados e abordagem a novas oportunidades e áreas de cooperação. A próxima Comissão Mista, a sétima, encontra-se neste momento a ser preparada, sendo concretizada neste mês de Novembro, em Lisboa.
Mas quero igualmente assinalar o meu empenho no acompanhamento das actividades Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, que tem o seu Secretariado Permanente em Macau, cuja actividade consideramos do maior relevo na facilitação e concretização de várias iniciativas e projectos a implementar.
Um mercado complexo
PF – Seria legítimo esperar frutos desse investimento ou os frutos, sobretudo naquele mercado, demoraram muito mais a amadurecer?
FS – A China é um mercado complexo, difícil, exige uma abordagem persistente, de médio e longo prazo. Não se podem exigir, nem se devem esperar, resultados imediatos. Ao mesmo tempo, seria incúria pensar que essas dificuldades são obstáculo decisivo para a entrada dos empresários portugueses nesse mercado.
O mercado chinês é hoje fundamental para quem quer estar presente nos mercados internacionais. Por isso temos insistido na presença em feiras em território chinês, feiras de comércio e investimento. Também este ano, estivemos presentes no Pavilhão de Portugal na Macao International Fair 2008, com presenças empresariais portuguesas em áreas desde os serviços, à indústria e bens de consumo, para além da presença institucional, através da AICEP Portugal Global.
Mas as minhas visitas foram igualmente prévias e preparatórias da visita oficial do senhor Primeiro-Ministro. Neste país, o relacionamento político é fundamental e determinante para o desenvolvimento das relações económicas. Sendo nosso objectivo de política económica externa, ao nível das exportações, aumentar o seu volume, diversificar os produtos exportados e alargar o número de países de destino, o mercado chinês era incontornável. Creio que estamos a conseguir o nosso propósito. Repare-se que a quebra existente em todos os mercados não tem vindo a ter o mesmo efeito em Portugal. A diversificação de produtos, empresas e sobretudo de mercados, que temos vindo a promover, está a amortecer os efeitos negativos da conjuntura internacional.
Combater o défice comercial
com mais empresas
PF – Há lugar a alguma desilusão, no sentido em que os empresários portugueses tardam em apostar naquele mercado? Acha que o acordo de parceria estratégica já deu frutos?
FS – Os Primeiros-Ministros dos dois países anunciaram, em Dezembro de 2005, a intenção de duplicar o comércio bilateral no espaço de três anos. Em 2007 a China foi o 9.º fornecedor e 24.º cliente de Portugal. Há que reconhecer a permanência do défice da balança comercial para Portugal, quase €900 milhões de euros em 2007 e €664 milhões de euros nos primeiros oito meses de 2008. Devemos garantir que todos os esforços empresariais e institucionais são estabelecidos para o seu reequilíbrio.
A entrada no mercado chinês não é fácil. Temos neste momento 64 presenças portuguesas, em diferentes formatos na China, das quais cerca de um terço em joint ventures. Há que escolher os produtos adequados, bem como os parceiros indicados, na medida em que estes são determinantes para o incremento das exportações, dos investimentos e do êxito dos negócios. Sobretudo, é preciso persistir. Temos barreiras fortes que não estimulam a entrada do empresariado português: a língua, a distância, a cultura e o sistema. O acordo de parceria estratégica serviu para ganhar confiança, e os resultados, já visíveis, deverão ainda progredir.
PF – Das seis deslocações, três (pelas minhas contas) passaram por Macau; Macau é mais uma questão política (histórica, etc.), do que económica ou acha que Macau tem condições para ser uma porta de entrada?
FS – Queremos e devemos manter a nossa presença em Macau. Por tudo o que representa a nossa história, mas também porque os macaenses se habituaram a consumir produtos portugueses. Não podemos deixar de aproveitar as circunstâncias económicas, históricas e culturais, para através de Macau, nos apresentarmos e expandirmos por toda a China.
Mas a nossa estratégia de entrada na China são se cinge à porta Macau. Devemos utilizar outras entradas, designadamente Xangai, onde reforçámos a nossa presença com a abertura de um Consulado Geral Português e uma representação da AICEP. Através do Programa INOV-Contacto, temos também colocado muitos mais jovens portugueses em empresas e centros de inovação tecnológica nas zonas mais dinâmicas da China – Xangai, Pequim e Macau. Com esta actuação pretendemos promover um conhecimento mais profundo do ambiente de negócios da China, que se repercuta nas empresas nacionais, facilitando a sua entrada no mercado.
Que Macau continue a sentir
a nossa afectividade
PF – O Fórum está a assinalar cinco anos; já o conhece bem; que balanço?
FS – O Fórum reúne a maioria dos países de expressão portuguesa e a China. É uma fórmula interessante de sedimentar a nossa Língua e promover o desenvolvimento económico. Se atentarmos na designação «países BRIC» (Brasil, Rússia, Índia e China), que analistas económicos usam para expressar as grandes economias emergentes, e se, na perspectiva de Portugal, acrescentarmos um A de Angola, verificamos que três desses países são participantes do Fórum. Ainda assim, entendemos que o Fórum deve ser mais objectivo e envolvente, dinamizando uma maior participação das empresas e focalizando-se mais na obtenção de resultados práticos. Mais ainda, o Fórum atravessa uma fase em que não tem Secretário-Geral, por falecimento do senhor Zhao Chuang. Esperamos que a China rapidamente ultrapasse esta debilidade e se abra uma nova fase, no interesse de todos.
PF – Em 2009, quando terminar este mandato, o que espera que o seu contributo tenha ajudado a conseguir relativamente ao mercado chinês?
FS – Espero que o meu trabalho possa ter contribuído para um melhor conhecimento do mercado chinês, uma presença empresarial portuguesa crescente e melhor sustentada, e que Macau possa continuar a sentir a nossa afectividade, para além de todo o relacionamento económico bilateral.