O cancelamento de um debate sobre a regulamentação do artigo 23º, organizado pela associação de estudantes da Universidade de Macau, deu alguma polémica, com a Imprensa do vizinho território a falar de "pressões" e a sugerir interferências de poderes mais altos, nessa decisão.
Haverá, nesta matéria, alguma ingenuidade, sem dúvida. Tirando aqueles a quem poderemos chamar, com alguma ironia, "os suspeitos do costume", a actividade política local pauta-se, acima de tudo, pela cautela e muitos caldos de galinha.
As excepções a esta regra são poucas e estão bem identificadas. A larga maioria da população tem sensibilidade suficiente para perceber que, em público, é mais sensato concordar do que estar contra.
Por cá, normalmente as chamadas "pressões" nem sequer são necessárias. Basta uma ligeira sugestão, uma leve indicação ou um sopro discreto, para que as pessoas entendam o que se espera delas, sem precisar de vincar melhor qual o caminho mais harmonioso e correcto para o bem-estar da sociedade.
Prova dessa maturidade e desse sentido de responsabilidade é um dos argumentos avançados pela associação de estudantes atrás referida, como justificação para cancelar o debate sobre a regulamentação do artigo 23º.
Com efeito, os jovens apenas pretendiam fazer uma abordagem académica de um tema que acabou por ser politizado, devido à intervenção de outras organizações. Daí a decisão do cancelamento, por forma a distanciar a simples e inofensiva discussão académica de algo que pudesse ser entendido como um acto político.
É perfeitamente normal que um grupo de estudantes universitários não queira correr esse risco. Aliás, política e jovens são coisas que raramente vemos associadas, por esse mundo fora. E é sempre mais saudável falar sobre política do que fazer política. Sobretudo quando está em causa um assunto como o artigo 23º.
Paulo Reis