11.25.2008

Francis Tam prevê crescimento económico negativo para este trimestre

Governo pondera alterar política do jogo

A crise mundial deu as voltas aos planos que o Executivo da RAEM tinha feito em relação ao jogo. Ontem, Francis Tam admitiu que a suspensão do crescimento da indústria está a ser reavaliada. Talvez Macau precise de mais casinos para continuar a captar investimento estrangeiro. É que as perspectivas para a economia local são pouco animadoras.

Isabel Castro

O crescimento económico no último trimestre deste ano deverá ser negativo. A previsão foi anunciada ontem pelo secretário para a Economia e Finanças, que tem uma expectativa pouco optimista em relação ao desenvolvimento da economia para este ano. “O crescimento anual deverá ser de 10 por cento”, disse. Os números do terceiro trimestre ainda não estão calculados, mas apontam para os 11 pontos percentuais. Feitas as contas, Macau deverá terminar 2008 muito abaixo dos valores alcançados no ano passado, quando se registou um crescimento económico de 27,3 por cento.
Não obstante o tom pessimista de Francis Tam – que levou a deputada Tina Ho a pedir um discurso mais optimista -, o secretário defende que a RAEM tem meios para passar pela crise quase ilesa. “A hipótese de crescimento negativo é muito grande. Mas ainda temos uma tendência positiva, porque a indústria de base vai manter-se e desenvolver-se saudavelmente.” Por indústria de base entenda-se o sector do jogo, que vai “continuar a funcionar”.
As Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2009 não contêm medidas específicas para a principal indústria do território e o Chefe do Executivo desdramatizou o cenário que a comunicação social traçou, há duas semanas, acerca de empresas como a Venetian. Mas, na altura em que falou aos jornalistas, a empresa de Sheldon Adelson ainda não tinha anunciado o despedimento de 11 mil trabalhadores, na sequência da suspensão das obras no COTAI. Os dados agora já são outros; contudo, o responsável pelas pastas da Economia e Finanças não parece tão preocupado quanto estão alguns deputados, principalmente os que têm ligações ao sector.

Chan Meng Kam contra Sands

Angela Leong, cujas ligações à Sociedade de Jogos de Macau são sobejamente conhecidas, bombardeou Tam com uma série de perguntas sobre os planos do Governo para os casinos. Vincando que “há uma concessionária em crise”, disse ser raro ver em Macau um despedimento colectivo de tão grande dimensão. “Os terrenos no COTAI não são para plantar relva. O Governo vai tentar reavê-los?”, perguntou, querendo ainda saber se haverá nova legislação para o jogo.
Chan Meng Kam, o deputado que vem de Fujien e que explora o Golden Dragon, foi um pouco mais longe nas suas considerações. “Mais vale o Governo tomar conta da Venetian”, defendeu. “O Sands só está a roubar a população de Macau para investir em Singapura. Se permitirmos que isto aconteça, como vão os investidores estrangeiros olhar para Macau? Poderá haver um ciclo vicioso.” Mostrou-se também preocupado com o facto de o jogo estar prestes a ser legalizado noutros mercados asiáticos. “Como podemos manter ao nosso estatuto?”
Na resposta, ficou-se a saber que o Governo está a reavaliar a política que definiu no início deste ano para a indústria que lhe enche os cofres. “Em Abril passado já havia problemas com a economia mundial, mas não estavam disponíveis dados suficientes que dessem a entender que a crise surgiria tão depressa”, explicou o governante. “Na altura, tínhamos anunciado a revisão da dimensão do sector. Havia pedidos para casinos a serem avaliados, e os processos pararam. Temos que repensar nesta avaliação.”
Tam deixou em seguida uma série de questões – são dúvidas que deverão ter uma resposta “o mais rapidamente possível”. “Será que podemos aumentar a dimensão do sector? Ou manter a lógica definida no início do ano? O Governo está a fazer esta avaliação”, anunciou.
Do relatório do secretário faz parte a captação de investimento estrangeiro como forma de responder, a curto prazo, aos impactos da crise financeira internacional, “mantendo o desenvolvimento económico num nível praticamente estável”. Chan Meng Kam manifestou-se descontente com esta perspectiva. “Os capitais estrangeiros já lideram a economia de Macau”, censurou.

Mais investimento que lucro

A Venetian e a Crown vieram à baila durante o debate e Francis Tam não fugiu ao assunto. Porém, também não anunciou qualquer novidade, mas contestou a acusação deixada por Angela Leong, que acha que as concessionárias trazidas pela liberalização de Fevereiro de 2002 investiram pouco em Macau.
“Há uma concessionária que fez uma alteração ao projecto”, respondeu o secretário. “O Governo tem dado muita atenção, tem dialogado com as operadoras e faz uma fiscalização rigorosa.” Quem diz que os de fora não deixam nada cá está enganado. “Todos nós sabemos que as seis concessionárias estão em período de investimento. O capital investido foi muito superior aos lucros”, destacou. “As concessionárias têm respeitado os compromissos. Os contratos estão disponíveis na Internet.”
Explicando que cada concessionária tem a sua estratégia de desenvolvimento, o governante recordou que, depois da liberalização, a indústria desenvolveu-se consideravelmente. E deixou um agradecimento público às seis concessionárias, pelos investimentos feitos em Macau, que permitiram à cidade entrar numa nova fase. “Em termos globais, Macau tornou-se uma cidade muito mais atractiva”, salientou.
Em relação à Venetian, Francis Tam expressou que a Sands ainda não conseguiu o financiamento para as 5ª e 6ª fases do projecto de Macau, bem como para o investimento em Singapura. “Se não conseguir o financiamento, vai haver um prejuízo para o mercado”, admitiu, prometendo continuar a acompanhar a situação e realçando que a Sands “não deixou de querer construir as fases” que faltam.
E o Crown?, interrogaram-se alguns deputados, que até jornais mostraram com as notícias recentes sobre as férias forçadas de dez por cento da mão-de-obra que trabalha no hotel da Melco. As explicações foram dadas por Shuen Ka Hung, director dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), e não deverão ter chegado para sossegar os deputados preocupados com o assunto.
Shuen explicou que já falou com os responsáveis pelo hotel e vincou que as hipóteses de haver férias não remuneradas ou de uma diminuição salarial terão que receber a autorização prévia da DSAL. “Ainda não recebemos nenhum pedido do Crown nesse sentido”, informou. E prometeu “seriedade e rigor” no tratamento da questão.
A deputada Kwan Tsui Hang faz parte do grupo de deputados que duvida que o Governo esteja a fiscalizar convenientemente o que se passa dentro dos casinos. “Não acredito que as concessionárias estejam com tantos problemas que seja necessário despedir pessoas”, afirmou. “O Governo tem que ser mais rígido. Se não for, outros problemas vão surgir.”
Logo no início da sessão, Francis Tam tinha apelado a uma “mudança de mentalidades”: na linha de pensamento de Edmund Ho, o secretário apelou para um esforço conjunto, alegando que não será possível ao Governo ultrapassar a crise sozinho, sendo que esta verdade se aplica também ao sector privado, que precisa do Executivo. Ora para Kwan, quem precisa de uma nova mentalidade é precisamente quem está no Governo – a deputada quer mais rigor e maior pragmatismo.
O secretário para a Economia e Finanças regressa hoje à Assembleia Legislativa para continuar a debater as LAG com os deputados.

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